domingo, 30 de novembro de 2014

Invoquemos a Maria


A prudente Virgem não buscava sabedoria, como Salomão; nem riquezas, nem honras, nem poder, mas graça. Na verdade, só pela graça nos salvamos. Para que desejamos, nós, irmãos, outras coisas? Busquemos a graça, e a busquemos por Maria, porque Ela encontra o que procura e não pode ver-se frustrada.


São Bernardo

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Maria: Refúgio dos pecadores

Refúgio sempre aberto aos pecadores e às almas fiéis
Ainda, interpretando a citada passagem da Escritura, escreve o Pe. Jourdain:
“Maria é a cidade de refúgio para a qual devem fugir todos os que desejam evitar a morte. Os refúgios outrora preparados pelos filhos de Israel, só podiam salvar a vida dos assassinos no caso de estes terem cometido um homicídio involuntário, não sendo eles, portanto, realmente culpados.
“Deus, na sua infinita misericórdia, preparou-nos em Maria um refúgio seguro. Por mais culpado que seja um pecador, se ele recorrer à proteção de Maria, a justiça de Deus deterá o castigo que já lhe reservara, e aquele que não tinha a esperar senão os rigores da cólera divina, obterá o perdão, voltará a ser filho de Deus, e reencontrará seus direitos à herança celeste. O pecador não terá que fazer uma longa e perigosa viagem para encontrar esse bem-aventurado refúgio.
Maria espera sempre os pobres culpados, e seu coração está constantemente aberto para recebê-los. [...1
“Os fugitivos do Senhor são, ainda, os servidores de Deus, aos quais o mundo e o Inferno perseguem com seu ódio, e as mais variadas tentações inquietam, expondo-os ao perigo de se perderem. Também — e sobretudo — para eles, Maria abre inteiramente o asilo de sua misericórdia. Ela será sua defesa, seu amparo e sua consolação” . 3
Proteção jamais recusada
À Soror Josefa Menéndez (1890-1923), religiosa coadjutora da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus, disse a Santíssima Virgem:
“O meu mais belo título de glória é o de ser Imaculada ao mesmo tempo que Mãe de Deus. Mas, alegra-me principalmente unir a este título o de Mãe de misericórdia e o de Mãe dos pecadores” 4.
Fiéis intérpretes deste sentimento de Maria, não se cansam os Santos e os autores espirituais de louvá-La enquanto Refúgio dos Pecadores. À guisa de exemplo, citemos, entre outros:
Santo Efrém: “Ave, refúgio e receptáculo dos pecadores, no qual unicamente pode um culpado achar proteção e salvamento” 5.
O piedoso Bernardino de Busti exclama: “O pecador, ainda quando tivesses cometido todos os crimes, resguarda-te de perder a confiança; mas recorre com segurança a essa gloriosíssima Soberana. Só Lhe acharás cheias as mãos de misericórdias e de benefícios: porque Ela deseja mais fazer-te bem e derramar sobre ti as suas graças, do que tu podes desejar recebê-las” 6
D. Luís Blósio (sec. XVI), Abade beneditino de Liesse, Bélgica:
“Porque Maria é o único recurso dos que ofenderam a Deus, e o único refúgio seguro de todos os que gemem sob o peso das tentações [...], por isto quando Ela os ouve de todo o coração pedir-Lhe o socorro, imediatamente os acolhe e lhes alcança o perdão do Divino Filho” 7.
O Pe. Lacroix, de quem recolhemos os testemunhos acima, acrescenta: “E impossível que um pecador sincera e confiantemente recorra a Maria, para reaver a Jesus, sem ser atendido. Isto é inaudito, e soa como blasfêmia! A Virgem Maria é realmente o seguro refúgio dos pecadores, e a devoção a Ela é o melhor sinal e plena garantia de salvação e predestinação”8 .
3) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. I. p. 507, 655.
4) MENÉNDEZ, Josefa. Apelo ao Amor. 3. ed. Rio de Janeiro: Rio-S. Paulo, 1963. p. 598-599.
5) LACROIX, Pascoal. A Virgem Maria, Seguro refúgio dos pecadores. Petrópolis: SCJ, 1935. p. 42.
6) Idem, 56.
7) Idem, p. 57.
8) Idem, p. 28.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A verdadeira cidade de refúgio

Comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada 
Cidade sois de refúgio
Concluída a divisão da terra de Canaã entre as doze tribos de Israel, o Senhor disse a Josué (Jos. XX, 1-4):
“Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Separai as cidades para os fugitivos, das quais vos falei por meio de Moisés: a fim de que se refugie nelas todo o que matar uma pessoa sem querer; e possa evitar a ira do parente próximo do morto, que quiser vingar o seu sangue. Quando ele se refugiar em uma destas cidades, apresentar-se-á à porta da mesma, e exporá aos anciãos dela tudo o que possa comprovar a sua inocência; e desse modo o receberão, e lhe darão lugar em que habite.”
A verdadeira cidade de refúgio
Essas cidades que a demência divina reservou como asilo para os fugitivos, simbolizam Aquela que é, por excelência, o Refúgio dos pecadores. Assim o ensina Santo Afonso Maria de Ligório:
“Havia na Judéia, outrora, cidades de refúgio, nas quais os culpados podiam abrigar-se e ficavam a salvo das penas merecidas. Agora já não há tantas cidades de refúgio como antigamente: Só há uma que é Maria Santíssima, da qual [se escreveu]: Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus (Sl 86, 3).
“Existe aqui uma diferença, porém. Nas antigas cidades de refúgio não havia asilo para todos os culpados, nem para toda sorte de delitos, enquanto que sob o manto de Maria acham refúgio todos os pecadores e toda espécie de delito. Basta que a Ela se recorra, para se estar a salvo. «Sou cidade de refúgio para todos que a Mim recorrem», faz São Damasceno dizer nossa Rainha. Só se exige que a Eia se recorra. «Ajuntai-vos e entremos na cidade fortificada e guardemos aí silêncio» (Jer. 8, 14). Esta cidade fortificada, explica Santo Alberto Magno, é a Santíssima Virgem, fortificada em graça e em glória.
“«Guardemos aí silêncio» — a isso observa a Glosa: Já que nós não temos de pedir ao Senhor, basta que entremos nesta cidade, e nos calemos; porque Maria falará e rogará por nós. Exorta por isso Benedito Fernandes todos os pecadores a se refugiarem sob o manto de Maria, dizendo: Fugi, ó Adão, ó Eva, fugi, ó filhos seus que tendes ofendido a Deus, fugi e refugiai-VOS no seio desta boa Mãe. Não sabeis que é Ela a única cidade de refúgio e a única esperança dos pecadores?
“Também nos sermões atribuídos a Santo Agostinho, Maria é chamada nossa única esperança.

“Da mesma forma exprime-se Santo Efrém: «Vós sois a única advogada dos pecadores e daqueles que precisam de todo o socorro. Eu Vos saúdo como asilo e refúgio no qual ainda podem os pecadores achar salvação e acolhimento»” 2
2) LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 80-81.

domingo, 16 de novembro de 2014

Pequeno Ofício - Hora Noa

Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
NOA
HINO
Cidade sois de refúgio, de torres fortalecida,
Por David entrincheirada, e de armas também munida.
Bem não éreis concebida, em caridade abrasada,
Foi do dragão a soberba, por Vós, ferida e humilhada.
Sois a bela Abigail, Judith invicta e animosa,
Fostes do vero David Mãe terna, Mãe carinhosa.
Raquel ao Egito deu prudente-governador,
A Virgem das virgens deu ao mundo o seu Salvador. Amém.
Comentário
A Revolução tem como mentor o demônio, e por isso ela é o que há de mais vil na Terra; é um movimento que se arrasta — como a diabólica serpente — em meio aos vícios e pecados humanos, por entre aquilo que há de sórdido, feio, torto e abjeto, neste vale de lágrimas.
“Nossa Senhora é Aquela que aterroriza esse perigoso e infame adversário, porque Ela é em tudo o oposto da Revolução.
“Maria Santíssima é a Virgem-Mãe do Salvador com tudo quanto é digno, belo, nobre e santo reunido para adorná-La. Ela possui graus de esplendor de pureza e de perfeições inimagináveis!
E o contrário da maldita serpente, cuja cabeça Ela traz, continuamente, esmagada sob seus pés” 1
Encontra-se, nestas palavras do Prof Plinio Corrêa de Oliveira, uma perfeita síntese dos comentários que se poderiam fazer sobre a Hora Noa do Pequeno Oficio.
Os acentos deste Hino evocam, primordialmente, o poder vitorioso da Santíssima Virgem. Ela é a cidade fortificada, o seguro refúgio dos pecadores. E a inexpugnável Torre de David, revestida de escudos e armaduras de heróicos guerreiros, símbolos das excelsas virtudes de Maria, nunca atingidas pelos ataques do infernal inimigo.
Abrasada no amor a Deus, desde o primeiro instante de sua Imaculada Conceição, Nossa Senhora quebrantou — e para todo o sempre esmagará — a soberba do demônio.
Na Hora Noa surgem três insignes filhas do povo eleito, figuras da Bem-aventurada Virgem: a bela Abigail, que representa a onipotência suplicante de Nossa Senhora; a heroica Judith, imagem da fortaleza e do poder d’Aquela que venceu o demônio; e Raquel, mãe de José, governador do Egito, que simboliza a Santíssima Mãe
do verdadeiro Salvador do mundo.
O Hino se encerra com uma enlevada homenagem à excelsa formosura — espiritual e física — da Imaculada Conceição.

1) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 31/1/1989. (Arquivo pessoal).

domingo, 9 de novembro de 2014

Como um lírio entre os espinhos

V Como um lírio entre os espinhos,
R. Assim a minha predileta entre os filhos de Adão
A Imaculada Conceição, lírio entre os espinhos
Acompanhemos o Pe. Tiago Nouet, jesuíta do século XVII, em seu brilhante comentário à passagem do Cântico dos Cânticos (II, 2), que deu origem ao louvor aqui tributado a Maria Santíssima. Assim se exprime aquele douto pregador:
“A concepção de todos os homens que nascem pela via ordinária da geração, é acompanhada de três grandes desordens, a saber: a privação da graça santificante que nos torna filhos de Deus; a privação da justiça original, que consiste numa perfeita subordinação da parte inferior à parte superior do homem; e um violento pendor que temos para o mal, unido à dificuldade que encontramos na prática do bem.
“Ora, a concepção da Bem-aventurada Virgem foi isenta de todos esses infortúnios, por um singular favor de Deus, que a distingue de todas as outras, e faz aparecer Maria entre os filhos dos homens, como o lírio entre os espinhos. Ela foi concebida no estado de graça, na justiça original, isto é, numa perfeita subordinação de todas as suas potências à razão, e desta a Deus. Ela foi concebida sem qual quer inclinação para o mal, e com uma forte tendência para toda sorte de bem. [...]
A única sem o labéu do pecado
“O lírio é belo em virtude de sua brancura; os espinhos não têm beleza alguma. É a primeira diferença entre a concepção da Bem-aventurada Virgem e a de todos os filhos de Adão, que nascem no pecado, cujo labéu os torna objeto de abominação diante de Deus. Porque ninguém está isento de mancha, nem mesmo o recém-nascido. Somente da Bem-aventurada Virgem pôde dizer o Espírito Santo: «Sois toda formosa; em vós não há mácula».
“Sois toda bela, não em parte, mas toda, sem exceção e sem reserva. Não há, portanto, nódoa alguma em Vós, nem de pecado venial, nem de pecado mortal, nem de pecado original. Nunca houve, e jamais haverá. Sois e sereis sempre cheia de graça. [...]
Isenta dos espinhos da concupiscência
“O lírio não tem nó, tudo nele é suave e liso, desde a haste até à flor. Os espinhos, pelo contrário, são rudes e picantes, furam e dilaceram quem os toca.
“É a segunda diferença entre a concepção da Bem-aventurada Virgem e a de todos os homens, que estão sujeitos aos picantes aguilhões da concupiscência, da qual Ela foi inteiramente isenta. [...]
“Com efeito, exigia a honra do Filho de Deus e a de sua Santíssima Mãe, que Esta tivesse um tal domínio sobre suas paixões, e que a par
te inferior de sua alma fosse de tal maneira submissa à razão que, não só não cometesse Ela pecados atuais, mas também que não pudesse pecar. [...j .
“Admirai, pois, o privilégio de Maria que, única, recebeu este singular favor: n’Ela nunca reinou nem habitou o pecado. [...]
Fortíssima inclinação para o bem e completa aversão ao mal
“O lírio é aprumado e se eleva muito alto. Não há flor que tende a se afastar mais da terra, enquanto que os abrolhos e os espinhos nesta rastejam.
“É a terceira diferença entre a concepção da Bem-aventurada Virgem e a do comum dos homens, que o pecado original abandona como vítima à cegueira do espírito, à malícia do coração, à fragilidade da carne, ao desregramento das paixões e à desordem dos sentidos e da imaginação, donde nascem este pendor que temos para o mal e a dificuldade que sentimos na prática da virtude, este apego que temos à Terra, e o trabalho que nos custa o dirigir nossos pensamentos às coisas celestes. Porém, a plenitude da graça que a Bem-aventurada Virgem recebeu no momento de sua concepção tinha dois efeitos inteiramente opostos. Esta Lhe dava uma suavíssima e fortíssima inclinação para o bem, e uma extrema aversão ao mal; um maravilhoso pendor para o Céu, e um perfeito desapego de todas as coisas da Terra. Pois, como diz São Tomás, pode-se considerar a santidade, enquanto nos aproxima de Deus, e é a caridade; ou enquanto nos afasta do mal, e é a pureza. Uma e outra existiram em Maria num grau eminente, mas com esta diferença: que Ela podia crescer em caridade até ao último suspiro de sua vida; porém, quanto à sua pureza, estava Ela no último grau de excelência, e, abaixo de Deus, não podia haver maior” 1
Glória do jardim de espinhos
Assim, compreendemos o cântico do monge e poeta medieval, Adão de São Vítor:
“Salve, pois, ó Mãe do Divino Verbo, Flor que brotou entre os espinhos, sem espinho; glória do jardim de espinhos, O espinheiral, somos nós; fomos ensanguentados pelos espinhos dos pecados. Mas, para tua pessoa, não existem espinhos” 2
Lírio que nunca foi espinho
E Santo Afonso de Ligório, comentando a invocação Mater purissima, da Ladainha Lauretana, escreve: “Esta Virgem Mãe ... é chamada lírio entre os espinhos. Todas as outras virgens, diz Dionísio o Cartuxo, são espinhos, ou para elas mesmas ou para os outros; mas a Bem-aventurada Virgem nunca foi um espinho, nem para Ela, nem para os outros, pois a todos os que A fitavam, Ela só inspirava sentimentos puros e santos. Além disso, o autor que escreveu a Vida de São Tomás de Aquino, relata que o santo Doutor dizia que as próprias imagens de Maria extinguem os ardores da concupiscência naqueles que as contemplam com devoção. E São João de Avila atesta que muitas pessoas, tentadas contra a castidade, conservaram-se puras pela devoção a Maria” 3
1) NOUET, Tiago. L’Homme d’oraison, Méditation pour le jour de la Conception Immaculée de la B. Vierge. Apud JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. V. p. 92-95.
2) SÃO VÍTOR, Adão de. Prosa per l’Assunzione della B. M. V Apud ROSCHINI, Gabriel. Instruões Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 133.

3) LIGÓRIO, Afonso Maria de. Oeuvres Complètes. 10. ed. Tournai: Casterman, 1880. Vol. VIII. p. 180.