segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Maria: Vós sois o templo da Trindade

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Vós sois o templo da Trindade
Entre os muitos símbolos com que Nossa Senhora é prefigurada no Antigo Testamento, está o magnífico templo de Jerusalém, edificado por inspiração do Espírito Santo e sob as ordens de Salomão.
Conta-nos o livro segundo dos Paralipômenos (caps. III e IV), que aquele filho de David “mandou revestir de madeira de faia a parte maior do templo, e mandou chapear tudo de lâminas de puríssimo ouro. Mandou pavimentar o templo com preciosíssimos mármores, com muitas de corações.
“E o ouro das lâminas, de que mandou cobrir o edifício, e as suas traves, e os pilares, e as paredes, e as portas, era finíssimo. E Salomão fez todos os vasos do templo de Deus, e o altar, de ouro, e as mesas, sobre as quais se punham os pães da proposição. Fez mais de puríssimo ouro os candeeiros com as suas lâmpadas; e uns florões, e os isqueiros e as tenazes de ouro; todas estas coisas foram feitas de ouro puríssimo. E os braseiros, e os turíbulos, e os copos, e os grais eram de ouro puríssimo. E mandou abrir lavores nas portas do templo interior, isto é, do Santo dos Santos; e as portas do templo pela parte de fora eram de ouro.”
Maria, resplandecente templo de Deus
Essa fabulosa riqueza, porém, nada é perto daquela de que foi  ornado o verdadeiro templo da Trindade, Maria Santíssima.
“Outrora — escreve o venerável Tomás de Kempis —, o templo material de Salomão sobrepujou por sua beleza a todos os templos da Terra. Sua fama se estendeu até os últimos confins; e foi esplendidamente honrado com a visita dos mais diversos reis e povos, atraídos por sua grande suntuosidade.
“Da mesma sorte, o templo espiritual de Deus, que não é outro senão a Bem-aventurada Virgem Maria, pura de qualquer mancha, resplandece sobre todos os templos dos Santos, e por isso devemos honrá-La e amá-La mais que a todos eles” 6
 6) KEMPIS, Tomás de. La Imitacion de Maria. Barcelona: Regina, 1956. p. 63-64.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Virgindade, fecundidade e humildade

Virgindade, fecundidade e humildade: admiráveis ornamentos de Maria
Deixemos falar, uma vez mais, o eloquente amor de São Bernardo à Santíssima Virgem e Mãe: “Ditosa em tudo Maria, a quem não faltou a humildade, nem a virgindade. Singular virgindade a sua, que não foi prejudicada, mas honrada pela fecundidade; não menos ilustre humildade, que não diminuiu, mas engrandeceu sua fecunda virgindade; e inteiramente incomparável fecundidade, que a virgindade e a humildade, juntas, acompanham. Qual dessas coisas não é admirável? Qual não é incomparável? Qual não é singular?
“Maravilha será se, ponderando-as, não duvides qual julgarás mais merecedora de tua admiração; quer dizer, se será mais estupenda a fecundidade numa virgem ou a integridade numa mãe; sua dignidade pelo fruto de seu castíssimo seio, ou sua humildade com tão imensa grandeza. Sem dúvida, a cada uma dessas coisas se devem preferir todas juntas, e é incomparavelmente maior excelência e maior ventura havê-las tido todas, do que precisamente algumas.
“E por que se espantar de que Deus, a quem lemos e vemos admirável em seus Santos, se tenha mostrado mais maravilhoso em sua Mãe?

“Venerai, pois, vós que vos achais em estado de matrimônio, a integridade e pureza do corpo num corpo mortal; admirai também vós, virgens sagradas, a fecundidade de uma virgem; imitai, homens todos, a humildade da Mãe de Deus; honrai, Santos Anjos, a Mãe de vosso Rei, vós que adorais o Filho de nossa Virgem, nosso e vosso Rei, reparador de nossa linhagem e restaurador de vossa cidade” .

sábado, 18 de janeiro de 2014

Deus Vos salve, Virgem Mãe

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Deus Vos salve, Virgem Mãe
Virgindade consagrada pelo nascimento do Homem-Deus
Assumindo as palavras do Anjo, exclama São Tomás de Villanueva:
“O Virgem, quantas virgens esclarecidas renunciam à flor de sua virgindade por amor à descendência, embora sabendo que não hão de engendrar senão um triste mortal! E Vós, sabendo que haveis de dar à luz a Deus, ainda vacilais e exclamais: «Como há de ser isso, ó Anjo de Deus?»[…]
“Não temais, Maria: esta concepção não Vos arrebatará a virgindade, mas a consagrará; não Vos diminuirá o pudor, mas o sublimará com a descendência, já que haveis de conceber por obra do Espírito, e não com o concurso de varão; virgem dareis à luz e virgem permanecereis depois. [...] Sereis Virgem, porém fecunda. Mãe sereis, mas incorrupta; conservando a honra da virgindade com os gozos da maternidade” 2
Milagre representado pelas figuras da Antiga Lei
E o Pe. Rolland comenta:
“Um dos mais gloriosos privilégios da Santíssima Virgem, ou antes o mais glorioso após o de sua maternidade divina, é a sua inalterável e perpétua virgindade. [...]
“Pode-se afirmar, sem receio de equívoco, que esse privilégio de Maria é, verdadeiramente, um dos mais esplêndidos milagres operados pela destra do Onipotente. É ele tão grande, que Deus o quis representar pelas figuras da Antiga Lei. Por certo, admiro a sarça incandescente que ardia sem se consumir; admiro o velo de Gedeão, ora seco quando tudo ao seu redor estava coberto de umidade, ora banhado de rocio, quando toda a terra se achava desolada pela aridez; admiro os três mancebos dentro da fornalha, sem ressentirem a menor ofensa das chamas: estes são grandes milagres. Contudo, o milagre de [ser] Maria sempre virgem e ao mesmo tempo Mãe de Deus, é incomparavelmente mais maravilhoso, tanto mais superior aos primeiros, quanto a realidade excede à figura!
A Virgem Mãe profetizada nas Escrituras
“Esse prodígio é tão sublime que Deus [...] o anunciou por seus Videntes, em solenes termos, como sendo uma nova criação, uma obra absolutamente extraordinária. «Eis, diz Isaías a Acaz, um sinal extraordinário que surpreenderá o céu e a terra: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel, isto é, Deus conosco».
“Sim, a perpétua virgindade da Santíssima Virgem é uma maravilha entre as maravilhas.
“O Senhor fez em Mim grandes coisas», dizia Nossa Senhora a sua prima Isabel. Essas grandes coisas são: primeiro, e antes de tudo, sua maternidade divina; mas, logo em seguida, é sua perpétua virgindade”3.
Flor e fruto
Outra bela consideração sobre esse admirável privilégio de Nossa Senhora, devemos ao Pe. Félix Cepeda, C. F. M., que assim se exprime:
“Grande é a glória de uma mulher que chega a ser mãe; mais pura é a glória das que permanecem virgens. Essas duas glórias são incompatíveis: quem aceita uma, necessariamente se despoja da outra. Vede as árvores na primavera como se cobrem de flores brancas ou encarnadas. Chega o outono, e nos regalam frutos delicados. Porém, em vão buscareis as flores, pois estavam murchas e caíram. Não é possível que [as árvores] ostentem, ao mesmo tempo, flores e frutos.

“Não assim com Maria: é virgem e mãe juntamente, o que convém somente a Ela. Por isso a Igreja canta com o poeta Sedulio: «Não se viu nada semelhante, nem antes nem depois». E São Dionísio Areopagita, em seu livro Dos Nomes Divinos: «Esta é uma coisa nova, a mais nova de todas»” 4.
2 VILLANUEVA, Tomas de. Obras. Madrid: BAC, 1952. p. 250-251 e 265.
3) ROLLAND. La Reine du Paradis. 8. ed. Paris: Langres, 1910, Vol. I. p. 284 e 290-291.

4) CEPEDA, Felix Alejandro. Virgo Veneranda. Madrid: Corazón de Maria, 1928. p. 184.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Hora sexta - Pequeno oficio da Imaculada Conceição

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Sexta
Hino
Deus Vos salve, Virgem Mãe, Vós sois o templo da Trindade,
O puro encanto dos Anjos, agasalho da castidade.
Sois o consolo dos tristes; horto da alegria cara,
Sois a palma da paciência o cedro da pureza rara.
Maria, terra Vós sois, bendita e sacerdotal,
Concebida e preservada sem pecado original.
Cidade santa do Altíssimo, do Céu entrada oriental,
Há em Vós, singular Virgem toda a graça celestial.
Amém.
V. Como um lírio entre os espinhos
R. Assim a minha predileta entre os filhos de Adão.

No presente Hino louva-se a beleza interior de Nossa Senhora, Virgem e Mãe, admirável templo que a Santíssima Trindade adornou com os mais preciosos dons celestiais.
A Bem-aventurada Virgem é aqui exaltada como Aquela que constitui a alegria dos Céus, o mais belo modelo de castidade, o Paraíso do novo Adão, a terra bendita da qual Ele foi formado, por obra do Espírito Santo.
Oceano de graças, de cuja plenitude os homens as recebem, Maria Santíssima é a porta através da qual Deus entrou no mundo, e os justos ingressam no Céu. E, também, sublime exemplo de paciência para os que pugnam nas filei ras da Igreja Militante, os quais Ela consola, concedendo -lhes forças para enfrentarem as provações, dores e lutas inerentes à sua missão apostólica.

Como a Esposa do Cântico dos Cânticos, Nossa Senhora é o “lírio entre os espinhos”, a única preservada de todo pecado, em meio aos homens manchados pela culpa orlqinal e continuamente aguilhoados por suas más inclinações.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

E o meu trono está sobre uma coluna de nuvem

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
E o meu trono está sobre uma coluna de nuvem
Embora este versículo insinue, novamente, a sublime exaltação de Nossa Senhora ao mais alto dos céus, evoca-nos ele, também, outro símbolo de Maria Santíssima: a coluna de nuvem que guiava o povo eleito, através do deserto, em busca da Terra Prometida.
Assim narra o livro dos Números (IX, 15-23):
“No dia, pois, em que o tabernáculo foi ereto, a nuvem o cobriu. Da tarde, porém, até a manhã estava sobre o tabernáculo como uma espécie de fogo. Assim acontecia continuamente: De dia cobria-o a nuvem, e de noite como que uma espécie de fogo. E, quando se levantava a nuvem, que cobria o tabernáculo, então punham-se em marcha os filhos de Israel; e no lugar onde a nuvem parava, aí acampavam. A ordem do Senhor partiam, e à sua ordem assentavam o tabernáculo. Todo o tempo em que a nuvem estava parada sobre o tabernáculo, permaneciam no mesmo lugar; e se acontecia estar parada sobre ele muito tempo, os filhos de Israel estavam às ordens do Senhor, e não partiam durante todo o tempo em que a nuvem estava sobre o tabernáculo. Ao mandado do Senhor levantavam as tendas, e ao seu mandado as desarmavam. [...] E estavam sempre atentos ao sinal do Senhor, como este tinha ordenado por meio de Moisés.”
Coluna de nuvem que conduz os homens à celeste Pátria
Interpretando esse texto sagrado, comenta o Pe. Jourdain:
“Santo Epifânio ensina abertamente que esta coluna de nuvem era a figura de Maria: «Vós sois», diz ele, «esta nuvem, semelhante a uma coluna, que conduzia o povo no deserto».
“São João Crisóstomo também diz que esta augusta Virgem é semelhante à coluna de nuvens que Deus habitava, para servir de guia a seu povo, no deserto.
“Ela é, acrescenta Ricardo de São Lourenço, a nuvem que Deus estendeu sobre nós, para nos proteger contra os ardores do Sol de Justiça. Semelhante àquela que conduzia os israelitas pelo deserto, Ela nos defende contra as ciladas das tentações, ilumina as trevas de nossa ignorância, e nos mostra a via que nos leva à celeste Pátria.
Nuvem sempre radiante de luz
“O grande São Jerônimo, para mostrar que Maria é realmente simbolizada pela nuvem misteriosa, que guiava os descendentes de Jacob através do deserto, recorda a imagem de uma outra nuvem da qual fala o Profeta Isaías, no capítulo XIX: «Eis que o Senhor vem ao Egito sobre uma nuvem ligeira»; e também este versículo do Salmo: «o Senhor os Conduzia durante o dia com a nuvem»: A nuvem, devemos reconhecê-lo é a Bem-aventurada Virgem Maria. Ela é ligeira: sua maternidade, sem concurso de varão, em nada Lhe pesou «Ele os conduzia durante o dia com a nuvem».
“Diz bem o Salmista: Durante o dia, porque esta nuvem jamais foi tenebrosa, mas sempre radiante de luz.
Nuvem que nunca se afasta dos homens
“Maria é, pois, uma nuvem, mas nuvem ligeira e luminosa [...]
Sigamos a misteriosa nuvem, passo a passo, imitando seus exemplos, pois com Ela rumaremos ao Céu.
“Coluna de fogo, Ela brilhará diante de nós na solidão deste mundo. Ela não permitirá que nos extraviemos em perigosas sendas; Ela nos defenderá contra os ataques de nossos inimigos, contra a presa dos animais ferozes que rondam em meio às trevas.
“A nuvem luminosa e a Coluna de fogo de que nos fala a Escritura, não se afastavam dos filhos de Israel, mesmo quando este povo, de cerviz dura, ofendia o Senhor. Maria não se afasta de nós, ainda que nos aconteça de sermos infiéis às graças que Ela nos obtém de Deus, e de ofendermos nosso Soberano Juiz. Ela permanece junto de nós, intercedendo todavia, e acalmando a cólera divina acesa por nossos pecados.
“É Ela, nossa guia e nossa protetora que nos introduzirá na Terra Prometida”.57
Nuvem na qual se reflete a magnificiência de Deus
Também sobre esse símbolo de Nossa Senhora escreveu Le Mulier a cujas devotas palavras nos associamos, ao encerrarmos os comentários a esta Hora Tércia:
“A nuvem, logo que se forma no seio da terra, eleva-se atraída pelos raios do sol. Assim, apenas concebida no seio de sua santíssima mãe, Deus atraiu Maria até Ele, elevando-A à sua perfeita semelhança, e à mais alta dignidade da qual foi capaz uma simples criatura.
“A nuvem está entre o céu e a terra; a Virgem está entre Deus e os homens.
“A magnificência de Deus aparece nas nuvens, diz David; muito mais ainda aparece ela na sua Santíssima Mãe, tão exaltada acima de toda criatura.
“A nuvem, diz o santo homem Jó, é a vestimenta do mar, as faixas de que ele está envolto; e a Virgem, não vestiu Ela o Salvador, que é como um imenso oceano, do qual decorrem todas as graças, sem número nem medida?

“Ó Maria, que sois esta nuvem ligeira sobre a qual o Salvador veio visitar os povos do Egito e derrubar seus falsos ídolos, vinde a nós, a fim de que o Senhor nos olhe em sua misericórdia e disperse os maus espíritos que nos perseguem” 58
57) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Made. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol.1. p. 218219; 480-481.
58) LE MULIER, Henry. De la Très-Sainte Vierge d’aprés les Saintes Écritures et les Pères de L ‘Eglise. Paris: Pilon, 1854. Vol. I. p. 90-92.