segunda-feira, 15 de abril de 2013

Maria e a Ressurreição

Em seus relatos sobre a Ressurreição nada dizem os Evangelistas a respeito de Maria Santíssima. Entretanto, não é possível imaginar a Mãe do Redentor ausente desses acontecimentos.
Enquanto o corpo de Jesus repousava no sepulcro, os Apóstolos certamente sentiam, por um misterioso instinto, que a história do Homem Deus não podia estar concluída com aquela morte, mas não chegavam a imaginar a anunciada Ressurreição. Como supor, com efeito, que Jesus aceitaria o desafio lançado pelo mau ladrão: “Se és Cristo, salva-Te a Ti mesmo” (Lc 23, 39)? Porque se o fato de um vivo ressuscitar um morto — como Ele fizera com Lázaro — já resultava inteiramente incomum, quanto mais o seria alguém sair dos abismos da morte pelas próprias forças, dizendo ao seu corpo: “Levanta-te!”.
A Santíssima Virgem, porém, não tinha a esse respeito a menor fímbria de dúvida. Na noite do Sábado Santo, afirma Plinio Corrêa de Oliveira, “somente Nossa Senhora, em toda a face da Terra, teve uma Fé completa e sem sombra de dúvida na Ressurreição. [...] A cada minuto que passava, de algum modo a espada da saudade e da dor penetrava ainda mais seu Coração Imaculado. Mas, de outro lado, havia a certeza de uma grande alegria da vitória que se aproximava. Esta concepção A inundava de consolação e gáudio”.
Dr. Plinio acrescenta que Nossa Senhora “representou nessa ocasião a Fé da Santa Igreja e, por assim dizer, sustentou o mundo, dando continuidade às promessas evangélicas, pois, se não houvesse Fé sobre a face da Terra, a Providência teria encerrado a História. Maria foi a Arca da Esperança dos séculos futuros. Ela teve em Si, como numa semente, toda a grandeza que a Igreja haveria de desenvolver ao longo dos séculos, todas as promessas do Antigo Testamento e todas as realizações do Novo; tudo isto viveu dentro da alma de Nossa Senhora”.
Para termos uma visão mais completa desse grandioso panorama, cabe lembrar que, segundo a opinião de renomados mariólogos, Cristo Sacramentado jamais deixou de estar presente em Maria Santíssima desde a Santa Ceia até a sua Assunção ao Céu. Toda vez que Ela comungava, renovavam-se em seu coração as Sagradas Espécies, tornando-A um tabernáculo permanente da Eucaristia.
Ora, estando Cristo realmente presente na Sagrada Hóstia, Nossa Senhora deve ter sentido de algum modo, em seu interior, a Alma e o Corpo de Jesus separarem-Se no momento da sua morte, enquanto a Divindade continuava unida a ambos. Pois, como explica o Doutor Angélico, “tudo o que pertence a Cristo segundo seu próprio ser, pode ser atribuído a Ele enquanto existe em sua própria espécie e no Sacramento, a saber, viver, morrer, sofrer, ser animado e inanimado, etc.”.
Esse fenômeno pungente e misterioso supera nossa capacidade de compreensão. No Cenáculo, Maria Santíssima recebeu “o mesmo e verdadeiro Corpo de Cristo, que então era visto pelos discípulos sob a própria figura e era tomado na espécie do Sacramento”. Ele, afirma São Tomás, “não era impassível na forma em que era visto sob sua figura, muito pelo contrário estava preparado para a Paixão. Por isso, nem era também impassível o Corpo que se entregava sob a espécie do Sacramento”.
Nossa Senhora havia comungado o Corpo de Cristo padecente, e tendo-O custodiado durante toda a Paixão, os sofrimentos do seu Divino Filho reproduziam-se simultaneamente de algum modo no seu interior. E no mesmo momento em que Ele ressuscitava no Santo Sepulcro, ressuscitava também na Sagrada Hóstia presente em Maria.
Qual não terá sido o seu gáudio ao sentir misticamente em Si a Alma de Jesus unir-Se de novo ao Corpo, e Ele Se apresentar agora mais glorioso do que antes da morte? Bem arquitectónico seria que nesse exato momento Nosso Senhor Lhe aparecesse fisicamente para consolá-La, pois Ela fora a Corredentora e compartilhara todos os sofrimentos da Paixão.