sexta-feira, 19 de abril de 2013

Maria, Arca do Testamento, quanto à sua eficácia

Continuação dos Comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição

“Consideremos a eficácia da Arca, na qual se representava a Virgem Maria, no tocante ao que dela procede.
Eficaz no conduzir os homens ao Céu
“Com efeito, aquela Arca, símbolo de Maria, foi eficaz para dirigir os caminhantes, segundo aquilo do capítulo X dos Números: «Partiram, pois, do monte do Senhoi e caminharam três dias, e a Arca da Aliança do Senhor ia adiante deles, indicando-lhes nos três dias o lugar para os acampamentos».
“Por esses três dias se entende toda a vida presente, quanto ao seu começo, decurso e fim, ou os três votos que conduzem o homem ao deserto da Religião, como por um caminho de três dias, a saber: da continência, pobreza e obediência, graças à ajuda da Virgem Maria, que foi pobríssima, humílima e castíssima. Ela vai adiante e prepara o caminho até introduzir na Terra de Promissão, como se diz no capítulo III de Josué: «Eis que a Arca da Aliança do Senhor de toda a Terra irá adiante de vós pelo meio do Jordão»; e continua mais abaixo o texto dizendo que, à entrada da Arca [no rio], secar-se-ão as águas, significando-se nisto que com o auxílio da Virgem se torna fácil o que antes parecia difícil.
Eficaz em socorrer os homens nos seus perigos e angústias
“Em segundo lugar, a Arca, figura da Virgem, foi eficaz para defender os que combatiam, segundo se diz no capítulo VI do livro segundo dos Paralipómenos: «Levanta-te, ó Senhor Deus! e vem ao lugar fixo de tua morada, Tu e a Arca de teu poderio».
“Diz-se de teu poderio, porque é forte para defender, conforme cantamos: «Dai-me poder contra teus inimigos». Para significar isto, dizem os anciãos de Israel no capítulo IV do primeiro livro dos Reis: «Façamos vir para nós de Silo a Arca da Aliança do Senhor e venha para o meio de nós, para que nos salve da mão de nossos inimigos», porque ela pode realmente salvar.
“Contudo, acrescenta-se ali que não salvou a todos, sendo a razão disto o estarem eles manchados pela idolatria, desprezando, portanto, em seu interior o que veneravam exteriormente. Pelo que, diz São Bernardo: «Nos perigos, nas angústias, pensa em Maria, invoca a Maria; e para conseguir a ajuda de sua intercessão, não deixes de seguir o exemplo de sua conduta». Porque quem invoca com os lábios e contradiz com suas obras, não merece ser ouvido nem salvo, mas antes receber sentença de condenação.
Eficaz no reconciliar os pecadores arrependidos com Deus
“Em terceiro lugar, a Arca era eficaz para reconciliar os arrependidos, segundo se diz no capítulo XXVI do Êxodo: «Porás também o propiciatório sobre a Arca do Testemunho do Santo dos Santos».
“Que é o propiciatório, senão aquele por quem se alcança a remissão dos pecados? Assim se diz no capítulo II da primeira carta de São João: «Temos por advogado, junto ao Pai, Jesus Cristo, justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados», etc.; e este propiciatório se acha colocado sobre a Arca, porque chegamos a ele por meio da Virgem Maria, que, como Mãe de misericórdia, roga ao Filho por nós e aplaca a Deus, irado por nossos pecados.
Eficaz no derrotar os inimigos de nossa salvação
“Em quarto lugar, a Arca foi eficaz para derrotar os rebeldes, como se diz no capítulo X dos Números: «E, quando se levantava a Arca, Moisés dizia: Levanta-te, Senhor e sejam dispersos os teus inimigos», por isso, referindo-nos à Virgem, cantamos o verso: «Alegra-te, ó Virgem Maria!», etc. Ela é, com efeito, a mulher que esmagou a cabeça da serpente; é, do mesmo modo, a Arca que feriu de morte os filisteus, como se descreve no capítulo V do livro primeiro dos Reis: «E levando eles [a Arca] de cidade em cidade, a mão do Senhor fazia grande mortandade em cada cidade». Em figura disto se diz no capítulo VI do livro de Josué que, dando voltas a Arca do Senhor ao redor de Jericó, caíram os muros desta cidade, porque Ela é quem derrota a seus inimigos e aos de Cristo, como Ester a Aman, e como Judith a Holofernes, e Jahel a Sísara, pois Ela é tão terrível a nossos inimigos como um exército em ordem de batalha.