quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

E no seio materno sempre santa


Comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

E no seio materno sempre santa

Afirma o eminente mariólogo que “a remissão do pecado original não se pode fazer sem a infusão da graça santificante. Por isto a Imaculada Conceição não se distingue, na realidade, da primeira santificação da Mãe de Deus, e se pode chamar sua graça original” 43.

Maria, santa desde o primeiro instante de sua vida

Os Santos e outros abalizados autores, de diversas maneiras exprimiram essa doutrina.

Em um de seus arrebatadores sermões dedicados a Nossa Senhora, São Tomás de Villanueva ensina: “Era necessário que a Mãe de Deus fosse também puríssima, sem mancha, sem pecado. E assim não apenas quando donzela, mas em menina foi santissima, e santissima no seio de sua mãe, e santíssima em sua concepção. Pois não convinha que o santuário de Deus, a mansão da Sabedoria, o relicário do Espírito Santo, a urna do maná celestial, tivesse em si a menor mácula. Pelo que, antes de receber aquela alma santíssima, foi completamente purificada a carne até do resíduo de toda mancha, e assim, ao ser infundida a alma, não herdou nem contraiu pela carne mancha  alguma de pecado, como está escrito: «Fixou sua habitação na paz (Si. LXXV,  3). Quer dizer, a mansão da divina Sabedoria foi construída sem a inclinação para o pecado”

Ao assinalar os principais privilégios que acompanharam a Imaculada Conceição de Maria, escreve São João Eudes: :

“A gloriosa Virgem não apenas foi preservada do pecado original em sua concepção, como foi também adornada da justiça origina’ e confirmada em graça desde o primeiro momento de sua vida, segundo muitos eminentes teólogos, a fim de ser mais digna de conceber e dar à luz o Salvador do mundo. Privilégio que jamais foi concedido a criatura alguma humana nem angélica, pertencendo somente à Mãe do Santo dos Santos, depois de seu Filho Jesus. [...]

“Todas as virtudes, com todos os dons e frutos do Espírito Santo, e as oito bem-aventuranças evangélicas se encontram no coração de Maria desde o momento de sua concepção, tomando inteira posse e estabelecendo n’Ela seu trono num grau altíssimo e proporcionado à eminência de sua graça”

Santo Afonso de Ligório, por sua vez, comenta:

“A nossa celeste menina, tanto por causa de seu ofício de medianeira do mundo, como em vista de sua vocação para Mãe do Redentor, recebeu, desde o primeiro instante de sua vida, graça mais abundante que a de todos os Santos reunidos. E que admirável espetáculo para o Céu e para a Terra, não seria a alma dessa bem-aventurada menina, encerrada ainda no seio de sua mãe! Era a criatura mais amável aos olhos de Deus, pois que, já cumulada de graças e méritos, podia dizer: «Quando era pequenina agradei ao Altíssimo». E ao mesmo tempo era a criatura mais amante de Deus, de quantas até então haviam existido.

“Houvera, pois, nascido imediatamente após a sua Imaculada Conceição, e já teria vindo ao mundo mais rica em méritos e mais santa do que toda a corte dos Santos. Imaginemos, agora, quanto mais santa nasceu a Virgem, vendo a luz do mundo só depois de nove meses, os quais passou adquirindo novos merecimentos no seio materno!”

43) ALASTRUBY, Gregório. Tratado de la Viigen Santísima. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. P. 260.
44) VILLANUEVA, Tomas de. Obras. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. p. 210.
45) EUDES, Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de Dios. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 63 e 66.
46) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima, 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 214.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Privilegiada e singular santidade de Maria


Comentários Pequeno Ofício de Nossa Senhora

Sobre a insondável santidade da Mãe de Deus, encontram-se outros fervorosos testemunhos expressos nas páginas da Mariologia. Podemos citar, por exemplo, o de São Bernardo: “Creio que desceu sobre Ela uma abundantíssima bênção santificadora, que não apenas fez  santo o seu nascimento, como também A guardou imune durante sua vida de todo pecado; o qual não se acredita tenha sido dado a nenhum outro nascido de mulher. Convinha à Rainha das virgens o privilégio de uma santidade especial, por cuja virtude transcorresse toda a sua existência sem um só pecado, para que deste modo a que havia de dar à luz o Vencedor da morte e do pecado, obtivesse para todos o dom da vida e da justiça” 40

Enumerando os excelsos privilégios de Nossa Senhora, escreve o Pe. Mathias Faber, S. J. (séc. XVII):

“A quarta estrela da coroa de Maria foi a imunidade de todo pecado atual, mesmo venial. [...] Os santos Padres multiplicam seus testemunhos sobre este ponto. Santo Agostinho ensina no livro Da Natureza e da Graça, que ele não quer, absolutamente, que se faça menção à Bem-aventurada Virgem todas as vezes que se trate do pecado. São Bernardo, São Boaventura, Santo Ambrósio, Santo Efrém, todos enfim falam no mesmo sentido. De resto, o Anjo da Anunciação não o indicou assaz claramente quando disse a Maria: «Ave, cheia de graça»?

“Enquanto andamos pelos lamacentos caminhos deste mundo, nós, homens, [...] não podemos viver muito tempo sem cair em alguma falta, por causa dos perpétuos movimentos da concupiscência que nos excitam ao pecado. Contudo, não era digno da Mãe de Deus estar sujeita a esta enfermidade. Se houvesse Ela cometido um só pecado, poderia convenientemente se tornar a Mãe do Deus que desceu sobre a Terra para extirpar todo pecado? Não redundaria desta falta alguma ignomínia sobre seu Filho?
“Maria foi impecável e confirmada em graça de maneira tão perfeita, que não podia pecar nem mesmo venialmente. É este o ensinamento dos doutores, e a Santa Igreja, que celebra a Conceição e a Natividade da Mãe de Deus, testemunha sua crença na inamissível santidade de Maria, não apenas em seu nascimento, como também no próprio instante de sua puríssima e Imaculada Conceição” 41

E ainda a célebre e bela sentença do Doutor Angélico:

“Aqueles aos quais Deus elege para uma missão, prepara-os de sorte que sejam idôneos para desempenhar a mesma. [...]

“Ora, a Bem-aventurada Virgem Maria foi por Deus escolhida para ser sua Mãe, e não há dúvida de que Ele A tornou, por sua graça, idônea para semelhante missão, segundo o que o Anjo Lhe disse: «Achaste graça diante de Deus, e eis que conceberás», etc. Certamente que não seria idônea se alguma vez houvesse pecado, já porque a honra dos pais redunda nos filhos, e, ao contrário, redunda no filho a ignomínia da mãe; já pela singular afinidade da Virgem com Cristo, que d’Ela recebeu a carne, pois se diz na segunda aos Coríntios: «Que concórdia pode existir entre Cristo e Belial?»; já também porque, de modo singular, o Filho de Deus, que é a Sabedoria divina, habitou n’Ela, e não só em sua alma, como também em seu seio. E no [livro] da Sabedoria se diz: «A sabedoria não entrará na alma perversa nem habitará no corpo escravo do pecado».

“De sorte que absolutamente devemos dizer que a Bem-aventurada Virgem não cometeu nenhum pecado atual, nem mortal, nem venial, para que n’Ela se cumpra o que se lê no Cântico dos Cânticos:

«Sois toda formosa amiga minha, e não há em ti mancha alguma»” 42

40) BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. II. p. 1179.
41) FABER, Mathias. In Festa Conceptionis B. VM. Apud JOURDAIN, Z-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900.Vol. V. p. 69-70.
42) AQUINO, Tomás de; BUSA, Roberto. S. Thomae Opera Omnia. Summa contra gentiles autographi deleta Summa Theologiae. Milano: Cartiere Binda, 1980. Vol. II. p. 810.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Maria: A única criatura humana na qual o demônio não tem parte


Pequeno Ofício de Nossa Senhora

A respeito de como Nossa Senhora foi “livre do mal que o mundo espanta”, é também categórico o ensinamento do Pe. Domingos Bertetto, S. D. B.:

“Entre os seres humanos, Maria é a única de quem se pode dizer: «Satanás não tem n’Ela parte alguma. Tudo n’Ela pertence a Deus».

“Efetivamente, não só se admira n’Ela a inocência original e a ausência de todo pecado mortal, mas ainda a imunidade de toda culpa venial, bem como de qualquer mínima imperfeição moral. Deve-se isto, ensina o Concilio de Trento, a um «especial privilégio de Deus», que a Igreja considera ter sido dispensado à Santíssima Virgem (cfr. sess. VI cân. 23, Denz. 833).

“De fato, à Virgem Maria convinha aquela pureza moral que se reclama da sua excelsa prerrogativa de Mãe de Jesus, Cordeiro sem mancha, nascido para abolir o pecado no mundo. [...]
“Por isso foi saudada pelo Arcanjo como cheia de graça e da presença do Senhor. «Que defeito — diz São Pedro Damião —poderia ter lugar na mente ou no corpo d’Aquela que, tal como o Céu, foi o sacrário de toda a divindade?».

“Maria, por conseguinte, agiu sempre sob a inspiração e o impulso do Espírito Santo, de maneira que «nunca preferiu senão aquilo que Lhe mostrava a Divina Sabedoria — acrescenta São Bernardino de Siena — e sempre amou a Deus quanto sabia devê-Lo amar». Por isso é que também d’Ela se devem excluir todas as imperfeições morais” 39

BERTETTO, Domingos.A Virgem Imaculada Auxiliadora. Porto: Salesianas, 1957. p.15-16.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Inflexível terribilidade


Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição

Esse milenar confronto entre Nossa Senhora e o demônio foi superiormente descrito por São Luís Grignion dc Montfort, nas páginas de seu Tratado da Verdadeira Devoção. Transcrevemos aqui (em itálico) algumas passagens do mesmo, seguidas de comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar mas aumentar até ao fim: a inimiza de entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. Ele Lhe deu até, desde o Paraíso, tanto ódio a esse amaldiçoado inimigo de Deus, tanta clarividência para descobrir a malícia dessa velha serpente, tanta força para vencer esmagar e aniquilar esse ímpio orgulhoso, que o temor que Maria inspira ao demônio é maior que o que lhe inspiram todos o Anjos e homens e, em certo sentido, o próprio Deus.

“Não que a ira, o ódio, o poder de Deus não sejam infinitamente maiores que os da Santíssima Virgem, mas, em primeiro lugar Satanás, porque é orgulhoso, sofre incomparavelmente mais, por ser venci do e punido pela pequena e humilde escrava de Deus, cuja humildade o humilha mais que o poder divino; segundo, porque Deus concedeu a Maria tão grande poder sobre os demônios, que, como muitas vezes se viram obrigados a confessai pela boca dos possessos, infunde-lhes mais temor um só de seus suspiros por uma alma, que as orações de todos o Santos; e uma só de suas ameaças que todos os outros tormentos.

“Inimizade perfeita posta por Deus” — diz o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. “É Nossa Senhora que aparece com tudo que há de terrível em seu poder voltado contra o demônio e seus sequazes, e com aquela maldição de Mãe arrasando até os alicerces do reino dele.

“Lindíssima é a ideia de que, já no Paraíso Terrestre, quando Nossa Senhora existia apenas na mente de Deus, Ele A adornou de algo como um instinto antidiabólico, à vista do demônio serpeando por aquele Éden.

“Com efeito, a primeira característica de Nossa Senhora face ao demônio é o ódio. Assim como Ela foi cheia de graça, assim Ela foi cheia de ódio contra esse amaldiçoado inimigo de Deus. Porque o ódio santo é, evidentemente, um dom do Altíssimo. Ora, Maria está toda cheia dos dons de Deus, logo está cheia de ódio ao demônio.

“Em seguida, São Luís Grignion fala da clarividência que foi dada por Deus a Maria, para descobrir a malícia da velha serpente. É, portanto, o ver claro, é a sagacidade, é a virtude evangélica da astúcia recomendada por Nosso Senhor, jogando contra a diabólica astúcia e liquidando o demônio! Donde as palavras de São Luís Grignion:

«Tanta força para vencer esmagar e aniquilar esse ímpio orgulhoso». É batalha enunciada em todos os seus termos. Assim, cheia de sagacidade e cheia de ódio, Nossa Senhora só pode ter vitórias.

“O temor que Maria inspira ao demônio é maior que o que lhe inspiram todos os Anjos e homens e, em certo sentido, o próprio Deus».

“É uma maravilha de audácia, mas é a pura verdade. Comparada com Deus, Nossa Senhora é menos do que uma pequena milícia em comparação com o maior exército da terra. Assim, compreende-se o pensamento de São Luís Grignion: é tal a humilhação que sofre o demônio sendo esmagado por Nossa Senhora, que ele tem disto especial medo. E um único bater de cílios de Maria, porque carregado de ódio a Satanás, põe em polvorosa o Inferno inteiro.

“Ela é a inimiga, por excelência, do demônio; é Aquela que passa sua eternidade lutando contra ele.

“Na vida de Santa Teresinha do Menino Jesus há este lindo traço: ela disse que haveria de passar o Céu dela fazendo o bem sobre a Terra. Interrogada por sua superiora se ela, então, do Céu protegeria os homens, a Santa teve esta magnífica resposta: «Não, eu descerei»!

“Nossa Senhora passa o Céu d’Ela fazendo o bem sobre a Terra, e se há quem possa dizer «Eu descerei», é Ela, que tantas e tantas vezes se tem mostrado aos homens. Mas, Ela faz duas formas de bem: o bem para o homem e o mal para o demônio. De maneira que o «Eu descerei» da Santíssima Virgem é também descer com o látego, com o castigo para o demônio e seus empedernidos agentes humanos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora


Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada

Sois armado esquadrão contra Luzbel

A fim de expressar o pavor que a Imaculada Mãe de Deus inspira às hostes infernais, a tradição cristã e a liturgia católica aplicam a Maria esta frase da Escritura: “Terrível como um exército em ordem de batalha” (Cânt. VI, 3 e 9).

Terrível adversária do demônio

“Quando uma confusa tropa de rebeldes vê avançar contra si um poderoso exército, toma-se de terror à vista dos estandartes e das armas reluzentes, e antes pensa em fugir do que em combater.
“No Cântico dos Cânticos, Maria é comparada a um potente exército: terribilis ut castrorum acies ordinata. Para quem Maria é assim tão terrível? Não para os Anjos, nem para seus fiéis servidores; tampouco para os pobres pecadores que a Ela recorrem com coração contrito e humilhado. Ela é terrível para os anjos rebeldes. A sua simples lembrança, tremem os demônios que não podem suportar sua presença, diz o Cardeal Hugo. E Maria não está só. Com Ela estão todos os Santos e todos os Anjos que formam seu exército. Ela os envia, quando necessário, em socorro daqueles que A invocam. Com razão diz São Pedro Damião que Maria é a nossa proteção contra os demônios, e São Boaventura, que Ela é a vara do poder de Deus contra os inimigos infernais, cujas ciladas e ataques Ela confunde e reprime” 64

Comentando a referida passagem dos Cânticos, São João de Avila escreve: “A Virgem, por nenhuma adversidade, tentação nem trabalho, deixou de cumprir a santa vontade do Senhor e de andar em seus santos caminhos. Como pessoa determinada a morrer ou vencer, partiu vitoriosa sobre todos os seus inimigos e deles se fez temer, a ponto de não ousarem aparecer diante d’Ela. Por isso dizem os Anjos que Maria é terrível aos demônios e aos pecados como exército em ordem de batalha” 65

Semelhante comentário é este do Pe. Henry Bolo: “Maria, que guarda seus filhos do perigo, sustenta-os na batalha. Toda a luta, qual quer que seja sua natureza, vem do eterno inimigo. Por toda a parte onde ele aparece, Maria tem a missão de lhe calcar a cabeça com seu pé virginal. Não há exército que seja mais terrível ao Inferno do que a Virgem Santíssima. Ela encarna, sob a frágil aparência de mulher, a virtude guerreira, a força nos combates. Trate-se das imensas e mortíferas arenas, maculadas de sangue, perturbadas de gritos e de convulsões, obumbradas de pó, ou bem desse campo de batalha invisível que se chama a consciência de cada um, a vitória é assegurada logo que se invoca Maria” 66

64 JOURDAIN, Z-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. V. p. 630.
65 AVILA, Juan de. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. II. p. 938.
66) BOLO, Henry. Pleine de Grace. Paris: René Haton, 1895. p. 282-283.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Fostes livre do mal que o mundo espanta


Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

Fostes livre do mal que o mundo espanta.

Comentando as palavras do Salmo 90: “Não chegará a ti o mal, nem o açoite se acercará de tua morada”, diz São Bernardo que “a verdadeira vida da alma é Deus, do qual somente pode separá-la o mal. O mal da alma, que outra coisa é senão o pecado?”

O pecado: causa de todos os males

“O mal que o mundo espanta” é, pois, o pecado, destruidor de todos os bens que Deus concede aos homens para se unirem a Ele nesta vida e na outra. É o que salienta o Pe. Texier, corroborado por palavras da Virgem Santíssima, colhidas em revelações particulares:

“Na via que conduz a Deus, o primeiro obstáculo que se nos depara, e o maior, é o pecado: ele reduz a marcha e pode nos jogar fora do caminho. A respeito deste inimigo do Senhor, Maria quer nos comunicar o sentimento de sua alma; Ela nos dirá, com o Salmista: «O vós que amais a Deus, detestai o mal» (51. XCVI, 10). [...]

“O que torna o pecado tão terrível é o fato de ele ser a causa de todos os males.

“Eu sou a saúde dos enfermos, declara a Santíssima Virgem a Maria Lataste (Sua vida, por Pascal Darbinis, II, 199). Ora, há duas espécies de enfermidades: as do corpo e as da alma. Curo igualmente umas e outras. Todas têm por princípio o pecado. Este, com efeito, sujeitou o homem à morte e às diversas doenças que atormentam seu corpo nas provas da vida. E, ao mesmo tempo, inclinou tristemente a alma humana para o mal.

“Quantas vezes, no curso dos séculos, a Santa Mãe de Deus lembrou aos homens esse funesto privilégio do pecado! Em La Salette, em Lourdes 36, indicou Ela o grande mal contra o qual é preciso se premunir, porque ele provoca a cólera do Altíssimo e atrai os castigos sobre o mundo” 37.

Nossa Senhora, isenta de todo pecado

Ora, esse triste mal que aflige o homem e o mundo, jamais atingiu a excelsa Mãe de Deus, imune como foi, desde o primeiro instante seu ser, a qualquer pecado, seja original, seja atual (isto é, aquele cometido pelo livre consentimento humano).

Com devotas palavras, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira retrata este sublime aspecto de Maria Imaculada:

“Concebida sem pecado original, Nossa Senhora não sentia em si nenhuma inclinação para o que fosse ruim. Pelo contrário, possuía todas as facilidades para dar à graça de Deus uma perfeita e constante correspondência. De sorte que, n’Ela, as grandezas sobrenatural e natural se entrelaçavam numa profunda e maravilhosa harmonia.

“Em consequência, Nossa Senhora tinha como ninguém uma altíssima noção da excelência de Deus, e da glória que Lhe devem render todas as criaturas. Por isso, nutria em sua alma vivíssimo horror ao pecado, que é um ultraje à mesma glória divina. Donde possuir Ela, também, uma ardorosa combatividade, no sentido de execrar toda forma de mal.

“Compreende-se, à vista disto, porque Nossa Senhora é comparada a um exército em ordem de batalha: Castrorum acies ordinata. Ou, como d’Ela se diz, que sozinha esmagou todas as heresias na Terra inteira. Por quê?

“Exatamente porque, já no privilégio de sua Imaculada Conceição, Ela é o modelo de combate ao mal”. 38

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Maria, modelo de quem comunga


Se tal é o excelso vínculo que une Nossa Senhora à Sagrada Eucaristia, nada nos será mais oportuno do que escutarmos este precioso conselho do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

“Em virtude de uma extraordinária analogia, Nossa Senhora é o modelo de quem comunga. Porque quando recebemos Nosso Senhor na Sagrada Eucaristia, a nosso pequeno — e não raras vezes miserável — modo, passamos a ser, enquanto durar em nós a presença real, tabernáculos vivos do Santíssimo, como Maria o foi do Verbo Encarnado. Isto nos eleva a uma inimaginável dignidade.

“Portanto, ao nos prepararmos para a Comunhão, devemos pedir  à Santíssima Virgem que disponha nossos corações a receber convenientemente o Senhor Sacramentado: «Minha Mãe, vinde à minha alma, entrai em meu espírito e preparai-o para a visita de vosso Divino Filho. Concedei-me as disposições necessárias para comungar bem, ainda que de modo eventualmente árido e insensível».

“Em seguida, peçamos a Ela esteja presente conosco no momento de oferecermos a Nosso Senhor Eucarístico os quatro atos de culto: adoração, ação de graças, reparação e petição.

“Que dizer a Jesus por meio de Maria? Por exemplo, isto: «Meu Senhor e meu Deus! Eu quereria Vos amar muito mais do que Vos amo; desejaria Vos receber neste instante, com os faustos de um amor inexprimível, do qual, infelizmente, não sou capaz. Entretanto, como há em mim, ao menos, o pesar de não ser assim, peço-Vos que aceiteis as adorações de vossa Mãe Santíssima como se minhas fossem. Eu A convidei à minha casa para que Ela Vos recebesse em meu Jugai Portanto, sou eu que, de algum modo, Vos recebo e pelos lábios de Maria Vos adoro».

“E assim devemos proceder na ação de graças, na reparação e na petição, oferecidas a Jesus por intermédio da Santíssima Virgem.

“Deste modo faremos, com certeza, uma excelente Comunhão. Porque, ao entrar em nossa alma, Nosso Senhor encontrará, pelo menos, a lembrança de sua Santíssima Mãe, e o desejo de O receber em união com Ela. Este desejo e esta lembrança são imensamente eficazes para que Jesus se sinta bem acolhido. Porque Ele está bem onde está Maria; e onde não se acha Maria, Ele não está bem.

“Este método de receber a Sagrada Eucaristia em íntima união com Nossa Senhora põe ao alcance de quem comunga todas as graças que Jesus Sacramentado proporciona a seus devotos sinceros” .

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Nossa Senhora e a Sagrada Eucaristia

Continuação do post anterior  

Essa última consideração torna presente ao nosso espírito a estreitíssima relação que há entre Nossa Senhora e a Sagrada Eucaristia. Esta, como salienta D. Alastruey, “é de certo modo uma extensão e complemento da Encarnação, não só porque por ela Cristo está e continuará presente na Terra até a consumação do mundo, senão porque, ademais, os imensos benefícios da Encarnação e Redenção se unem maravilhosamente neste mistério, e nele se prodigalizam aos homens.
“Maria, consentindo na Encarnação do Verbo, consentiu, ao menos implicitamente, em todas as consequências da mesma, entre as quais destaca-se de maneira especial, por sua grandeza, a Santíssima Eucaristia” 28

É o que indica São Bernardo quando, aludindo à parábola do fermento ou levedura que uma mulher pôs em três medidas de farinha (Mt. XIII, 33), diz: “Estas são aquelas medidas do Evangelho, fermentadas para que se faça o pão dos Anjos que o homem come, o pão que fortalece o coração humano. Ditosa mulher, bendita entre todas as mulheres, em cujas castas entranhas, com o fogo do Espírito Santo, se cozeu este pão! Feliz mulher, repito, que nestas três medidas introduziu a levedura de sua fé!” 29

Ao lado de São Bernardo, não poucos foram os Santos e autores eclesiásticos que enalteceram a Santíssima Virgem, enquanto concebendo e nos dando o Pão da Vida. Por exemplo, o monge beneditino Ruperto de Deutz exclama: “Quando o Anjo disse a Maria: «Conceberás e darás à luz um Filho, e o chamarás com o nome de Jesus», então abriu o Senhor as portas dos Céus e fez chover o maná que haveríamos de comer, pão do Céu, pão dos Anjos”.30

E Ricardo de São Lourenço: “Cristo é o pão vivo que desceu do Céu (Jo. VI, 32 e ss.). A Trindade Divina misturou a água da humanidade com o vinho da divindade quando uniu a natureza humana à divina, e também a Santíssima Virgem quando acreditou e consentiu na união” 31

No exórdio de um de seus famosos sermões, assim se exprime São João de Avila: “Senhora, em que veremos vossa predileção para conosco? Dai-nos um sinal seguro de que nos amais. «Se vos amo ou não — diz a Virgem — vede o que fiz por vós; considerai meus frutos e obras». [...]

“Vede o fruto de seu ventre, o santo Sacramento que de suas entranhas saiu. E então Ela nos diz: «Vinde e comei este pão bendito, esta carne que meu seio gerou». Quão benevolamente nos convida! Se, pois, segundo o fruto conhecemos a que no-lo deu, Vós, Senhora, alcançai-nos que o degustemos” 32

E São Pedro Damião, enfim, diz: “Detenhamo-nos aqui, meus irmãos, e consideremos o quanto somos obrigados à Bem-aventurada Mãe de Deus, e que ações de graças Lhe devemos render por um tão grande benefício; pois este corpo que Ela engendrou e que trouxe em seu seio, esse corpo que Ela envolveu em panos e nutriu de seu leite com cuidados e ternuras maternais, é, digo, esse mesmo corpo que recebemos no altar. Quaisquer louvores que Lhe possamos render, estarão abaixo de seus méritos, pois Ela foi quem nos preparou em suas castas entranhas a carne puríssima que nos é dada em alimento”.

28) ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Virgen Santísima. 3. ed. Madrid; BAC, 1952. p. 678.
29 BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. I. p. 278.
30 DEUTZ, Ruperto de. De gloria et hon. Fuji hominis. Apud ALASTRUEY, Gregório. tratado de la Virgen Santísima. 3. ed. Madrid: BAC. p. 677-678.
31 LORENZO, Ricardo de San. De laud. B. Mariæ, 1. I. Apud ALASTRUEY, Gregório. tratado de la Virgen Santísima. 3. cd. Madrid: BAC. p. 678.
32 AVILA, Juan de. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. II. p. 911-912. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Do templo a mesa ornou-Vos em figura


Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

Do templo a mesa ornou-Vos em figura

Este louvor que rendemos à Santíssima Virgem se relaciona com a seguinte passagem do Êxodo (25, 23-30), quando, no alto do Sinai, o Senhor ordenou a Moisés a construção do tabernáculo destinado ao culto divino:

“Farás também uma mesa de pau de setim 23, que tenha dois côvados 24 de comprimento, um côvado de largura, e côvado e meio de altura. E cobri-la-ás de ouro puríssimo, e far-lhe-ás uma moldura de ouro em roda, e (porás) sobre a mesma moldura uma coroa entalhada, de quatro dedos de altura; e sobre esta, outra coroa de ouro.

“Farás também quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos da mesma mesa, uma em cada pé. As argolas de ouro estarão da parte de baixo da coroa para se meterem por ela varais, e a mesa possa ser transportada. E farás varais de pau de setim, e os cobrirás de ouro, e servirão para transportar a mesa. Prepararás também pratos, copos, incensórios e taças de ouro puríssimo, em que se deverão oferecer as libações. E porás sempre sobre a mesa os pães da preposição na minha presença.”

Os doze pães da proposição representavam as doze tribos de Israel, que assim ficavam, simbolicamente, em perene homenagem ante o Criador. Esses pães só podiam ser consumidos por pessoas consagradas ao divino serviço, como eram os sacerdotes e levitas 25.

Mesa sobre a qual repousou o Pão da Vida

Porém, aqueles pães encerravam simbolismo ainda mais elevado: eram imagens do verdadeiro Pão da proposição, Nosso Senhor Jesus Cristo. E a mesa sobre a qual se achavam prefigurava, por sua vez, a Santa Mãe de Deus. Assim pensa o Pe. Terrien, que nos diz: “Se Cristo é o pão sagrado da proposição, pão vivo e vivificante, Maria é a mesa sobre a qual Ele foi posto” 26

A mesma opinião encontramos no Pe. Jourdain, segundo o qual, “Maria é a mesa mística magnificamente ornada e feita de madeira incorruptível, que Deus preparou para os que se comprazem na meditação das coisas divinas. Ela é a mesa santa e sagrada, portando o Pão da Vida, Jesus Cristo Nosso Senhor, o sustentáculo do mundo. Pela Encarnação, trouxe Maria [em seu imaculado seio] esse Pão que é o próprio Deus, unindo à sua divindade a natureza que recebemos de Adão, e comunicando, àqueles que d’Ele se nutrem, uma nova vida e a graça de se tornarem semelhantes a Deus” 27

24) Côvado: antiga medida de comprimento, que tinha três palmos e correspondia a 66 centímetros.
25) Cfr. PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 92.
26) TERRIEN, J.-B. La Mère de Dieu et la Mère des Hommes. 8. ed. Paris; P. Lethielleux, 1902. Vol. I. p. 120.
27) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris; Hippolyte Walzer, 1900. Vol. I. p. 467-468.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

As virtudes cardeais de Maria


“Devemos investigar agora porque possuiu Ela as quatro principais virtudes como quatro colunas.

• Fortaleza

Primeiro, vejamos se teve a fortaleza. Como pode estar longe desta virtude Aquela que, relegadas as pompas seculares e desprezados os deleites da carne, se propôs viver só para Deus virginalmente? Se não me engano, esta é a Virgem da qual se lê em Salomão: «Quem encontrará a mulher forte? Certamente, seu preço é dos últimos confins» (Prov. XXXI, 10). A qual foi tão valorosa, que esmagou a cabeça daquela serpente a quem disse o Senhor: «Porei inimizade entre ti e a mulher entre a tua descendência e a descendência dela; e ela te esmagará a cabeça» (Gên. 111,15).

• Temperança

“Que foi temperante, prudente e justa, comprovamo-lo com luz mais clara na alocução do Anjo e na sua resposta. Havendo-A saudado tão honrosamente o Anjo, dizendo-Lhe: «Deus te salve, cheia de graça», não se ensoberbeceu por ser bendita com um singular privilégio da graça, mas, pelo contrário, calou-se e ponderou consigo mesma que significava aquele insólito cumprimento. Que outra coisa brilha nisto senão a temperança?

• Prudência

“Mas, quando o mesmo Anjo A ilustrava sobre os mistérios celestiais, perguntou diligentemente como conceberia e daria à luz, a que não conhecia varão; e nisto, sem dúvida alguma, foi prudente.

• Justiça

Dá um sinal de justiça quando se confessa escrava do Senhor (Lc. I, 28-38). Que a confissão é própria dos justos, o atesta aquele que diz: «Com tudo isso, os justos confessarão teu nome e os retos habitarão em tua presença» (SI. CXXXIX, 14). E em outra parte se diz dos mesmos: «E direis na confissão: Todas as obras do Senhor são excelentes» (Ecli. XXXIX, 21).

“Foi, pois, a Bem-aventurada Virgem Maria, forte no propósito, temperante no silêncio, prudente na interrogação, justa na confissão.

Portanto, com estas quatro colunas e as três anteriores da fé, construiu n’Ela a Sabedoria celestial uma casa para si” 2l

Colunas que sustentam a sabedoria da Santíssima Virgem

Outra interessante interpretação do louvor em epígrafe devemos à esclarecida pena do Cardeal Lépicier. Comentando o dom de sabedoria com que o Espírito Santo ornou a alma da Santíssima Virgem, escreve ele:

“Quando lemos que a Sabedoria edificou para si uma casa e levantou sete colunas, podemos entendê-lo como se a espiritual e celeste sabedoria de Maria houvesse sido assinalada por sete características que são, por assim dizer, outros tantos sustentáculos seus. A sabedoria do alto é, primeiramente pura, depois pacífica, modesta, dócil, procedendo ao modo dos bons, é cheia de misericórdia e de excelentes frutos; sem o hábito de criticar e alheia à hipocrisia.

“Pense-se em quanto deviam ser sólidas as bases dessas sete colunas em Maria e com que majestade se levantava sobre elas sua sabedoria” 22

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Fé na Santíssima Trindade



Este é o pensamento de São Bernardo, ao discorrer sobre o referido trecho dos Provérbios:

“Que significa talhar [em sua casa] sete colunas, senão dela fazer uma digna morada com a fé e as boas obras? Certamente, o número ternário pertence à fé na Santa Trindade, e o quartenário, às quatro principais virtudes. Que esteve a Santíssima Trindade em Maria (me refiro à presença da majestade), na que só o Filho estava pelo assumir da natureza humana, atesta-o São Gabriel, quem, abrindo os mistérios ocultos, disse: «Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo»; e em seguida: «O Espírito Santo virá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra» (Lc. I, 28-35). Eis aqui que tendes o Senhor, que tendes a virtude do Altíssimo, que tendes o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nem pode estar o Pai sem o Filho, nem o Filho sem o Pai, e sem os dois O que procede de ambos, o Espírito Santo, segundo o que disse o mesmo Filho: «Eu estou no Pai e o Pai em Mim». E outra vez: «O Pai que permanece em Mim, esse faz os milagres» (Jo. XIV, 10). É claro, pois, que no coração da Virgem esteve a fé na Santíssima Trindade.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Nossa Senhora da Luz



Nossa Senhora da Luz, invocação lindíssima porque é Nossa Senhora enquanto suscitando toda espécie de luzes interiores – tão frequentes em nossas almas – que não podemos considerar nem fantasia, nem imaginação. São luzes que de fato nos iluminam por dentro e nos levam à prática da virtude.

Que Nossa Senhora da Luz, nossa Auxiliadora nos momentos de trevas interiores faça raiar em nossas almas esta luz de uma confiança invencível na realização de nossa vocação, de nossa missão, que é a vitória da causa católica por meio de auxílios que Ela nos dá em todas as circunstâncias.

Extraído de conferência de 24/5/1971

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Com as sete colunas da Escritura…


Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

Com as sete colunas da Escritura…

Esta homenagem é uma decorrência da anterior, onde chamamos Nossa Senhora digna morada de Deus.

Com efeito, assim reza o livro dos Provérbios (IX, 1): “A sabedoria edificou para si uma casa, levantou sete colunas.”

Sete virtudes de Maria

Escutemos o Pe. Ségneri, S. J., interpretando essa passagem da Escritura:

“As sete colunas que a Sabedoria talhou para o embelezamento de sua casa, são as sete virtudes que ornaram a alma de Maria, sete virtudes principais, às quais se reduzem todas as outras. Maria possuiu em soberano grau a fé, a esperança, a caridade, a prudência, a justiça, a temperança e a força. As três primeiras virtudes são aquelas que chamamos teologais, sobrenaturais, divinas, porque não as encontramos senão numa alma elevada pela graça à participação da natureza divina. As quatro outras virtudes são aquelas que denominamos cardeais, e que podemos chamar, também, naturais e morais, enquanto se encontram no homem considerado em seu estado natural, ainda não elevado pela graça.

“Ora, todas essas virtudes jamais foram vacilantes na Santíssima Virgem, como elas são em nós. Pelo contrário, foram, em Maria, quais sólidas colunas que nada poderia abalar. Confirmada em graça, ignorava Ela essas revoltas intestinas que nos fazem flutuar, constantemente, entre o bem e o mal: «Ego confirmavi columnas ejus» (Si. LXXIV, 3). [...]

“O Espírito Santo diz que a própria Sabedoria talhou as sete colunas de sua casa, para nos fazer entender que essas colunas não deviam ser obra comum, mas rara, singular, extraordinária. Quer isto dizer que as mesmas virtudes que são comuns a todos os justos, tiveram na Santíssima Virgem um caráter de excelência toda particular, que foram de uma ordem superior às virtudes que normalmente possuem os Santos. Maria devia ter a fé, a esperança, a caridade, e todas as outras virtudes em grau mais eminente do que as teve Adão, a fim de satisfazer com mais exatidão e facilidade os desejos do Senhor, o qual, desde toda a eternidade, repousou sobre Ela seus olhos e A escolheu por Mãe” 20

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Maria, templo onde Jesus quer ser invocado



Ó Jesus que viveis em Maria, vinde e vivei em vossos servos, no espírito de vossa santidade, diz a conhecida Oração a Jesus vivendo em Maria. Comentando esta passagem da mesma, assim se exprime o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

“Jesus viveu em Maria, e, de Maria, Jesus se comunicou aos homens. Nossa Senhora é o sacrário onde está Nosso Senhor Jesus Cristo, e o santuário de dentro do qual todas as graças se difundem para o gênero humano.

“Por isso, devemos rezar a Jesus enquanto vivendo em Maria, porque Ele quer ser invocado dentro do seu templo, que é a Santíssima Virgem. Pedir a Ele o quê? Que Ele venha e viva em nós, como vivia n’Ela.

“Viver em nós, quer dizer, é ter o espírito da santidade de Jesus Cristo, que é o espírito da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. E é, portanto, o espírito ultramontano», a expressão mais característica do espírito da Santa Igreja.

“Isto é o que devemos pedir a Jesus, por meio de Nossa Senhora, enquanto vivendo n’Ela.”

CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 23/5/1966. (Arquivo pessoal).


Habitação ornada com as mais belas prendas

E Santo Afonso de Ligório, citando o Doutor Angélico, comenta:

“Devem ser santas e limpas todas as coisas destinadas para Deus. Por isso David, ao traçar o plano do templo de Jerusalém com a magnificência digna do Senhor, exclamou: Não se prepara a morada para algum homem, mas para Deus (IPar. XXIX, 1). Ora, o soberano Criador havia destinado Maria para Mãe de seu próprio Filho. Não devia, então, adornar-Lhe a alma com todas as mais belas prendas, tornando-A digna habitação de um Deus?

“Afirma o Beato Dionísio Cartuxo: O divino artífice do universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por isso ornou Maria com as mais encantadoras graças. Dessa verdade assegura-nos a própria Igreja. Na oração depois da Salve Rainha, atesta que Deus preparou o corpo e a alma da Santíssima Virgem, para serem na Terra digna habitação de seu Unigênito” 17


A morada do Rei Crucificado

Finalmente, outro aspecto — talvez mais sublime que os demais — de Maria Santíssima enquanto casa de Deus, nos é apresentado por Santo Ambrósio, o pai da Mariologia ocidental. Comentando o Evangelho de São Lucas (XXIII, 33-49), designa ele a Nossa Senhora, junto à Cruz, como sendo “a morada do Rei” 18

A isto observa, por sua vez, o beneditino D. Manuel Bonaño: “A Virgem é a corte, o palácio, a morada por excelência do grande Rei. Aos pés da Cruz, quando Nosso Senhor é por todos abandonado, Ela continua sendo sua morada, como o foi na Encarnação” 19

17) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima, 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 192.

18) AMBROSIO. Obras de San Ambrosio: Tratado sobre el Evangelio de San Lucas. Madrid: BAC, 1966. Vol. I. p. 612.
19) BONAÑO, Manuel. In: AMBROSIO. Loc. cit.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A sabedoria edificou para si uma casa

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Destinada para dar ao Senhor digna morada
O capítulo nono dos Provérbios se abre com este versículo: “A sabedoria edificou para si uma casa”.
Qual é esta sabedoria e que morada construiu ela para seu uso?
São Bernardo nos responde: “Esta sabedoria que era de Deus e que era Deus, vinda a nós do seio do Pai, construiu para si uma casa, e esta casa foi a Virgem Maria, sua Mãe”
Casa ornada pelo Divino Arquiteto
Corroborado pelas opiniões do santo Abade de Claraval e de outros eminentes varões da Igreja, escreve o Pe. Paulo Ségneri, afamado jesuíta e pregador na Corte Pontifícia, no séc. XVII:
“Segundo os santos doutores, a casa que a Sabedoria para si edificou, é a Virgem Santa que o Verbo escolheu desde toda a eternidade por Mãe. Ora, um rei poderoso e rico que deseje construir para si uma mansão, deseja, ao mesmo tempo, que nada se poupe para a regularidade, ornamento e magnificência do edifício.
“A Sabedoria Eterna faria menos por sua morada?
“Não. O Verbo, tendo resolvido tomar um corpo humano no seio de uma Virgem, e de nele permanecer nove meses, não negligenciou nada para adornar este templo de sua divindade, para enriquecê-lo de todos os seus dons, em uma palavra, para torná-lo digno de si. Deste modo a Escritura fala do Verbo sob o nome da Sabedoria, Sapientia ædificavit sibi domum, a fim de nos assinalar que é a sabedoria que Ele emprega, para escolher e formar uma criatura da qual jamais se envergonhará de ser o Filho.
“O Verbo, pois, como hábil arquiteto que nada deixa de irregular, nada de defeituoso, na obra-prima de sua arte, e que lhe dá, pelo contrário, toda a perfeição de que é capaz, o Verbo, disse, longe de suportar em sua Mãe qualquer desordem, qualquer defeito, tomará prazer em aperfeiçoá-La, como numa obra à qual preside sua sabedoria infinita.
“Que prova nos é necessária, depois disso, das grandes prerrogativas da Santíssima Virgem? Pode alguém recusar-Lhe alguma, quando se faz a reflexão de que Ela é a casa que a Sabedoria edificou para si: Sapientia ædificavit sibi domum?” 
Na mesma linha seguem os comentários do Pe. Jourdain:
“Não a um homem, mas ao próprio Deus era mister preparar uma residência, a qual em tudo fosse digna do hóspede divino que a ocuparia, não por um dia, de passagem, mas para nela habitar e dela tomar os elementos de uma nova vida. [..,]
“Tal mansão está necessariamente ao abrigo de qualquer mácula. Ou seja, Maria, Mãe do Deus feito homem, criada e preparada por Ele para se encarnar em seu seio, foi necessariamente isenta de qualquer falta, seja atual, seja original. [...] Isto não basta, acrescenta ainda Santo Agostinho; convinha que Ela fosse ornada e enriquecida de todas as virtudes: «O Filho de Deus não construiu jamais uma casa mais digna de Si do que Maria. Esta habitação nunca foi assaltada pelos ladrões, jamais atacada pelos inimigos, nunca despojada de seus ornamentos». [...1
A mais ilustre habitação de Deus
“São Pedro Damião e São Jerônimo, assim entendem o capítulo III de Isaías: a Santíssima Virgem é verdadeiramente a casa de Deus, o palácio ou a corte real em que o Filho do Rei Eterno, revestido de nossa carne, fez sua entrada neste mundo. «O palácio sagrado do Rei, única habitação d’Aquele que nenhum lugar pôde conter», como diz Santo André de Creta. [...] .
“A Santíssima Virgem Maria é, portanto, a casa de Deus. Se, como diz o Apóstolo, «os que vivem castamente são o templo de Deus», a Virgem, a castíssima Mãe de Deus poderia não sê-lo? Sim, Ela o é, e jamais possuiu Deus moradia mais nobre e mais digna de Si. Por isto diz São Gregório: «Salve, templo vivo da Divindade! Salve, casa equivalente ao Céu e à Terra! Salve, templo digno de Deus!»” 15


15) SÉGNERI, Paulo. Meditações. Apud JOURDATN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. VIII. p. 1-2.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Lourdes e o Santo Rosário

O que sentiria o caro internauta se recebesse o convite de rezar o Rosário em companhia de Nossa Senhora, vinda do Céu à Terra especialmente para essa finalidade?
Pois bem, foi o que ocorreu há quase 150 anos na famosa Gruta de Lourdes, onde Nossa Senhora apareceu dezoito vezes a uma adolescente de quatorze anos, Bernadete Soubirous.
Em sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, o saudoso Papa João Paulo II, referindo-se às exortações da Santíssima Virgem à prática dessa devoção disse: “Em particular, desejo lembrar, pela incisiva influência que conservam na vida dos cristãos e pelo reconhecimento recebido da Igreja, as aparições de Lourdes e de Fátima, cujos respectivos Santuários são meta de numerosos peregrinos, em busca de conforto e de esperança.”
Lourdes é sinônimo de milagres. Dentre as dezenas de milhares ali registrados, sessenta e sete receberam aprovação canônica da autoridade competente. Eles costumam chamar mais a atenção do que a mensagem transmitida ali pela Mãe de Deus. Mensagem esta, aliás, revestida de caráter muito peculiar. A única incumbência recebida pela vidente foi a de pedir ao pároco, Pe. Peyramale, a construção de uma “capela” e a realização de procissões. O resto é mais uma lição de gestos do que de palavras.
Acompanhemos os passos de Bernadete através das dezoito aparições, que perfazem um total de doze a quinze horas de colóquio com a Rainha do Céu e da Terra.
Em 11 de fevereiro de 1858, estando ela ocasionalmente diante da agreste gruta de Massabielle, teve sua atenção despertada por um forte ruído de ventania. Observou, porém, que de modo inexplicável as árvores não se moviam.
Voltando os olhos para uma espécie de nicho natural existente no imenso rochedo, notou ali uma fulgurante mas suave luz e, no centro, a figura de uma jovem de pequena estatura, sorridente, trajada de alvíssimo vestido, com um véu de igual alvura e, na cintura, uma faixa azul cujas pontas tombavam até a altura dos joelhos. Duas rosas douradas pousavam sobre seus pés descalços, cobertos em parte pelo vestido. Do braço direito pendia-lhe um grande terço de contas reluzentes, com a cruz e a corrente douradas. As mãos estavam postas na altura do peito.
Com um sinal de cabeça, a atraente Dama convidou Bernadete a se aproximar mas esta receou estar sendo vítima de uma ilusão. Esfregou os olhos, observou bem e... lá continuava a visão, com aquele sorriso encantador e maternal.
Levou então instintivamente a mão ao bolso do avental, pegou o terço e tentou fazer o sinal-da-cruz, mas sentiu seu braço imobilizado.
Nesse momento, a Senhora da visão empunhou seu próprio terço e começou a traçar um amplo, solene e majestoso sinal-da-cruz. Bernadete recuperou o movimento do braço e imitou o gesto d’Ela.
As duas entenderam-se apenas pelo olhar e, contemplando-se uma à outra, começaram a rezar o Rosário, sem pronunciar as palavras. Terminada a oração, a celestial Visitante fez novo sinal convidando Bernadete a se aproximar, mas esta não ousou fazê-lo.
Tão subitamente quanto surgira, a visão se desfez, e logo depois apagou-se a fulgurante luz do nicho.
Toda tomada pelo que acabara de ver, e sem procurar explicação para o prodigioso fato, Bernadete sentia uma irresistível atração por aquela jovem, de indescritível beleza.
A notícia do ocorrido acabou se divulgando pelo lugarejo, acarretando-lhe a zombaria das colegas de classe, a surpresa e oposição dos pais, a incompreensão do pároco, as ameaças e interrogatórios das autoridades civis, a curiosidade popular que se manifestava muitas vezes com desprezo.
Todavia, Nossa Senhora foi dirigindo os acontecimentos de modo a serem vencidas todas essas dificuldades, e assim, no dia 18 de fevereiro, teve início a famosa quinzena em que as aparições se sucederam com regularidade.
Aos poucos, aumentou a afluência do público; a fonte miraculosa brotou dos dedos de Bernadete, começaram os milagres. Dois fatos, entretanto, marcaram de maneira especial as pessoas devotas e os simples curiosos.
O primeiro deles é que Bernadete sempre rezava o Rosário junto com Aparição. Fazia-o num ritmo irregular, parando em algumas contas, ou sorrindo de modo arrebatador; por vezes, lentas e suaves, corriam-lhe as lágrimas pela face iluminada.
O público seguia de modo instintivo todos os gestos da vidente. Cada qual pegava seu terço e tentava acompanhá-la. Sem ter recebido qualquer recomendação nesse sentido, todos sentiam dever imitá-la.
Invariavelmente, ao chegar, ela começava a desfiar as contas do Rosário e, antes mesmo da segunda dezena, todos percebiam já estar presente a belíssima Visitante. Olhando para Bernardette, sentiam o sobrenatural.
A outra circunstância notável era o êxtase daquela jovem. Quando chegava Nossa Senhora, a vidente se transfigurava. Com os olhos fixos no nicho, ela perdia o contato com o mundo exterior. Seu rosto resplandecia de um branco suave, como iluminado por uma luz interna. Ela tornava-se insensível a alfinetadas e mesmo à chama da vela que atingia suas mãos, sem, aliás, lhe causar dano. Os gestos, o porte, as saudações em direção ao nicho, o angelical sorriso — tudo isso encantava, comovia, causava admiração. Sobretudo, operava conversões.
As aparições duravam cerca de 20 a 30 minutos. Algumas, sobretudo as quatro últimas, foram de bem mais longa duração, em torno de uma hora cada. Nestas, Bernadete rezou o Rosário completo junto com a Santíssima Virgem, acompanhada por todos os presentes.
No dia da última aparição da quinzena, 4 de março, por volta de vinte mil pessoas se aglomera aglomeravam na Gruta, nas suas imediações e até na outra margem do rio Gave - acotoveladas umas junto às outras, segundo declaração de uma testemunha. No meio dessa multidão reinava o mais completo silêncio, podendo-se ouvir o rumorejar da água e o cântico dos pássaros. Muitos tinham ali passado a noite inteira, de pé, sob o frio e a chuva fina. A majestosa Dama ainda não havia se identificado, mas todos estavam certos de ser a Santíssima Virgem e de terem a graça singular de rezar o Rosário em sua companhia.
A última aparição deu-se na festa de Nossa Senhora do Carmo. A perseguição das autoridades civis já se tinha declarado de modo aberto. A gruta estava barricada, interditada e vigiada pela polícia. Porém, Bernadete, guiada por um chamado interior, conseguiu lá chegar de forma discreta, acompanhada de apenas três amigas. E ali, no silêncio, na contemplação, rezou o último Rosário junto com a celeste Visitante.
Apesar de todos os obstáculos, era vontade de Nossa Senhora transformar aquele lugar em um grande centro de culto marial. Assim, as barreiras foram vencidas uma a uma, a gruta foi reaberta, os milagres começaram a se multiplicar. A veracidade das aparições não demorou em ser reconhecida de modo oficial pelo bispo diocesano, dando-se início à construção da bela basílica que hoje é famosa.
Lourdes acabou por se tornar o Santuário mais visitado do mundo, ao qual acorrem cada ano mais de cinco milhões de pessoas de todos os recantos da Terra.
O que fazem lá? Imitam Bernadete, aquela jovem recatada e pura, a qual no dizer de Pio XII em sua encíclica sobre a Peregrinação a Lourdes - tornou-se bemaventurada, desfiando seu Rosário diante da Gruta, e aprendeu dos lábios e do olhar da Virgem Santa a dar glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Se o leitor já teve a felicidade de ir a Lourdes, pôde certamente rezar o Rosário no mesmo local onde tantas vezes o fez Bernadete.
Contudo, não é necessário ir até lá. Em qualquer lugar no qual rezarmos o Rosário, lembremo-nos de que estamos sendo fiéis à mensagem que Maria Santíssima veio pessoalmente nos comunicar.