terça-feira, 31 de julho de 2012

Apesar da extrema maldade do índio, Maria Santíssima manifesta sua inesgotável misericórdia

Através do fato ocorrido em Guanare, Venezuela, com o índio Coromoto, se vê que é impossível a um homem levar mais longe a obstinação no mal, e inimaginável por nós que a Mãe de Deus chegasse a tal extremo sua “obstinação” em convertê-lo. Realmente é a última palavra em matéria de condescendência: depois de o índio ter querido flechar e golpear Nossa Senhora, Ela fez um milagre, deixando nas mãos dele um pergaminho com sua imagem, e depois o converteu! Não se pode excogitar misericórdia mais excelsa, mais excelente, do que essa.
Alguém poderia observar que o pecado dos que mataram Nosso Senhor Jesus Cristo foi um pecado maior do que o desse índio, tentando agredir a Santíssima Virgem. É certo. Tudo quanto toca à Pessoa Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo ultrapassa qualquer dimensão e não pode ser comparado com absolutamente nada. Porém é preciso considerar que em sua Paixão Jesus estava na prostração, na humilhação própria à sua natureza humana. Nossa Senhora, em Guanare, Se apresentou em visão, de forma esplendorosa, mostrando-Se superior a tudo quanto o índio conhecia, e de uma maneira evidente, como Nosso Senhor não fez com seus verdugos. Apesar disso, a maldade dele foi tão grande que tentou agredi-La. Não afirmo ter ser isso mais grave do que o deicídio, mas, sob certo aspecto, revela uma dureza de alma ainda maior. Pois bem, para esse homem, a Mãe de Deus manifestou tanta bondade e misericórdia.
“À sua bondade soberana ninguém resiste”
Que ensinamentos retiramos desse fato? Antes de tudo, para Nossa Senhora a maldade humana não consegue opor obstáculos decisivos. De um jeito ou de outro, se a Santíssima Virgem quer mesmo, e até o fim, Ela acaba vencendo a maldade humana. Portanto, se em determinado momento da História da Humanidade Nossa Senhora quiser praticar um ato de generosidade excelso em relação a um homem, ou a uma série de homens, Ela poderá fazê-lo e vencerá, porque à sua bondade soberana ninguém resiste.
A Santíssima Virgem é soberana em tudo, inclusive em sua bondade. Querendo, Ela derruba todos os obstáculos, como Rainha cheia de suavidade, de tal maneira que uma pessoa, liberta dos grilhões do vício, dos apegos maus, realiza o verdadeiro livre arbítrio, o qual consiste em ser confiscado por Nossa Senhora. Trata-se de um verdadeiro confisco, porém a Mãe de Deus quando confisca, liberta. Ela não cobre o indivíduo de algemas, mas torna-se sua senhora, e ele torna-se senhor de suas más inclinações, de seus vícios, de seus pecados, de tudo quanto impede que sua alma voe para o bem. Essa é a própria substância da definição do livre arbítrio, segundo a Doutrina Católica.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A santidade de uma alma é consequência da misericórdia de Deus para com ela

A história do índio Coromoto, ao qual apareceu a Santíssima Virgem, fez-me lembrar as aparições de Nossa Senhora a um índio em Guadalupe, no México. A Mãe de Deus tratou-o com uma ternura especial, uma bondade, como não se vê nas outras aparições — mesmo em Fátima, onde Ela se manifestou tão condescendente e bondosa. Esse índio sentia tanta liberdade para com Nossa Senhora que, em vez de chamá-la “minha Rainha”, tratava-A de “minha filhinha”. E a Santíssima Virgem tomou tão bem esse tratamento, que uma ampliação fotográfica recente da imagem de Guadalupe mostra que na pupila dos olhos de Nossa Senhora está a figura do índio, tornando-o imortalizado nos olhos d’Ela. Estar na menina dos olhos significa ser o centro da atenção, do cuidado, e isto realizou-se ao pé da letra.
Tudo isso levou-me também a pensar a respeito do que disse Santo Antônio Maria Claret, após assistir as últimas sessões do Concílio Vaticano I, há cem anos atrás. Vendo, já naquela época, os sinais da desagregação da Europa, afirmou querer morar na América, porque aqui floresceriam santos maiores do que os surgidos na Europa. Essa afirmação me pareceu extraordinária.
Santo Antonio Maria Claret
Há mais. Antes de ser confessor da Rainha da Espanha, Isabel II, Santo Antônio Maria Claret tinha sido Arcebispo de Santiago de Cuba, e saíra deste país por ser perseguido pelos inimigos da Igreja, apesar de seu apostolado com a população do lugar, em favor da qual ele praticara magníficos milagres. No navio que o conduzia, predisse o futuro próximo de Cuba, sua separação da Espanha e submissão aos Estados Unidos. E apresentava isso como uma série de apostasias e castigos. Naturalmente, uma apostasia causa outra, e por fim se chegou à atual e miserável situação de Cuba.
Parecia-me curioso que ele, tendo falado de Cuba com tal energia e precisão, previra tanta santidade na América Latina. Isso significava a presença de um grande perdão e uma imensa misericórdia, ao lado do abismo representado pelo anúncio dessa severidade.
E, afinal, como a santidade tem sua origem, sua causa primeira, numa misericórdia de Deus para conosco, eu achava muito razoável que houvesse esse nexo entre a profecia de Santo Antônio Maria Claret, de um lado, e de outro o fato de Maria Santíssima ter-Se manifestado tão carinhosa, condescendente, em relação a esse índio do México. Nossa Senhora de Guadalupe foi proclamada pela Santa Sé Patrona da América Latina e, evidentemente, esse índio representava, para o olhar d’Ela, a América Latina inteira, e todos nós somos simbolizados por esse índio. De certo modo, pode-se dizer que cada um de nós está na menina dos olhos da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Nossa Senhora de Coromoto

Considerações de Plinio Correa de Oliveira a respeito da imagem de Nossa Senhora de Coromoto: 
A imagem chamou-me a atenção, porque — embora não tivesse grande valor artístico, no que diz respeito à execução material — seu porte e a expressão do olhar tinham uma elevação régia, uma majestade especial. E uma majestade com inteira consciência de sua grandeza, com muita dignidade; e ao mesmo tempo sem nada de apropriativo, de fruitivo, de como quem dissesse: “Aqui estou eu, sou extraordinária.” O olhar indica que seu pensamento está posto em seres de algum modo superiores a Ela, os anjos, no Céu ou no próprio Deus Nosso Senhor. É a imagem de uma Rainha, ao mesmo tempo contemplativa e mística de primeira categoria, e que considera todas as coisas da Terra através de altíssima luz.
Através dela se tem a verdadeira ideia de majestade unida à misericórdia.
É uma Rainha com fisionomia extremamente elevada e nobre, com porte muito digno e olhar pairando nas mais altas paragens do espírito, e ao mesmo tempo cheia de uma misericórdia inefável. A misericórdia não é demagógica, vulgar, uma condescendência com o pecado, uma afabilidade criminosa em relação ao mal, mas um ato de bondade generoso, gratuito, de quem converte e vence o mal, que vem muito de cima, mas entra a fundo e é capaz de toda espécie de regenerações.
Há um sacrossanto contraste entre a majestade e a misericórdia. Não há verdadeira majestade sem misericórdia, nem verdadeira misericórdia sem majestade.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Importância da missão dos protetores celestiais

“Creio não ser difícil compreender as razões pelas quais a solicitude divina nos destinou o auxílio dos anjos da guarda. Com efeito, a vida humana é tão precária, as dificuldades de toda ordem — espirituais e materiais — com que o homem luta, os riscos a que está sujeito, são de tal maneira diversos e numerosos, de um lado; e de outro, tão pequena sua capacidade de reação diante de tantos obstáculos, que ele não efetuaria a obra de sua santificação, nem consumaria sua missão neste mundo, se lhe faltasse a especial proteção de um anjo.
“Em última análise, todo homem sustenta, mantém e realiza o que deve realizar, manter e sustentar, porque por ele vela um ser espiritual, destinado a ampará-lo e socorrê-lo particularmente. Caso contrário, o homem se desarticularia e nada lograria produzir. O que significa que, via de regra, o êxito da ação humana, máxime quando se trata do homem que faz o bem, deve-se ao fato de o assistir essa proteção sobrenatural.
“Percebemos, assim, o imenso e contínuo papel do anjo custódio na existência de cada um de nós. Papel de cuja inteira importância apenas teremos noção ao ingressarmos na eternidade e ali nos ser revelado tudo quanto devemos ao auxílio do nosso guardião celeste: as graças que nos alcançou, os benefícios que nos prestou, os dons temporais que nos proporcionou, a saúde que nos preservou, e os perigos de que nos livrou, sejam os por nós conhecidos, sejam aqueles que nunca soubemos que nos cercavam. Na verdade, abismados ficaremos ao descobrirmos, então, as inúmeras dificuldades que o anjo da guarda subtraiu de nosso caminho!
“Tal proteção bem nos salienta como sempre dependemos do sobrenatural. E quem fala em sobrenatural, fala em oração e, pois, do quanto devemos rezar, com afinco e constância, implorando o patrocínio de nosso anjo da guarda. Peçamos a ele nos dizer à alma o bom conselho que necessitamos, nos sugerir as ideias, os pensamentos e movimentos santos, nos aproximar da virtude e nos afastar do pecado. Recorramos continuamente à sua assistência, pois ele intercede por nós junto a Deus e implora em nosso favor os dons divinos. A todo instante apresenta ao Senhor as nossas boas ações, valorizando-as, ou, pelo contrário, suplica-Lhe que perdoe nossa má conduta.
“Não nos esqueçamos, porém, de que sua missão intercessora passa antes pelas mãos de Maria Santíssima, Rainha dos Anjos e Medianeira de todas as graças. Nosso advogado angélico dirige a Ela os pedidos que faz por nós, e a Virgem Clemente se compraz em poder dizer a Nosso Senhor Jesus Cristo: ‘Meu Filho, vede esse espírito magnífico e belíssimo que pusestes na guarda daquele pobre homem. Esse anjo reza e pede pelo seu protegido, se o próprio não o faz. Em todo caso, quisestes constituir entre o coitado e Vós um medianeiro, que é este espírito puríssimo, e ele roga por quem não reza. Eu tomo as orações desse anjo da guarda, as enriqueço pela minha mediação e as apresento a Vós. Atendei-as, pois.’
“Tal é a missão do anjo que nos foi dado por protetor e amparo. Missão de extrema beleza, que desvenda aos nossos olhos um rendilhado de circunstâncias maravilhosas, dispostas por Deus para estender ao homem sua misericórdia e seu perdão infinitos, dos quais, por nós mesmos, não somos merecedores.”

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Corrigi-me em minha oração


Minha Mãe, Vós sabeis o que me convém, entretanto eu nem sempre o sei. Às vezes eu não peço o que me convém, porque não sei. Outras vezes eu peço o que não me convém, porque imagino que é bom. Senhora, eu Vos peço, ponde um seletivo em minha oração. De forma que Vós, que bem sabeis o que me é conveniente, me obtenhais, ainda que eu não peça, porque eu não sei o que de fato me convém. Corrigi-me em minha oração, caso peça algo que me pareça muito razoável, porém por razões que ignoro e Vós sabeis, não seja conveniente.

Fazei o que me convenha! Oportet semper orare et non deficere! É preciso rezar sempre e não desanimar nunca!

domingo, 22 de julho de 2012

Grandes batalhas, ajuda sobrenatural

Devemos tomar em consideração que a “batalha” a ser enfrentada por cada homem no decorrer de sua vida, é verdadeiramente uma dura batalha. Mas essa batalha pode ser ganha por uma razão fundamental: é que ninguém luta a sós. O que significa não lutar a sós?
A necessidade de uma ajuda sobrenatural
Temos em nosso auxílio uma proteção sobrenatural, sobre-humana, que é a proteção de Nossa Senhora.
A Ela foi dado conhecer a alma de cada homem de uma forma que ninguém jamais conheceu. A Santíssima Virgem vê até o mais íntimo da alma de cada um de nós, com tal amor, bondade e desejo de ajudar, que isso A levou a consentir nos padecimentos pelos quais seu Divino Filho passou.
Como Nosso Senhor era filho de Nossa Senhora e do Divino Espírito Santo, o Padre Eterno pediu o consentimento d’Ela para a consumação da Paixão de seu Divino Filho. O Padre Eterno não quis fazer algo sem atender ao consentimento d’Ela.
A pergunta feita por Ele a Nossa Senhora possivelmente foi a seguinte:
“Esse Filho, a quem quereis tanto e que é o Filho do próprio Espírito Santo, vai ser morto para a salvação de todo o gênero humano. Vós quereis entregá-Lo para a salvação da humanidade? Se quiserdes, Ele sofrerá como nunca ninguém antes, nem depois d’Ele, terá jamais sofrido. Uma enormidade de tormentos e de aflições se abaterá sobre Ele. Mas se Vós quiserdes, Ele não passará por essas dores, mas os homens não se salvarão e irão para o Inferno. Quereis?”
E Ela respondeu: “Quero!”
Respondeu tendo em vista cada homem, seus pecados e ingratidões. Para que fôssemos limpos de nossos pecados e resgatados da culpa original, o Filho d’Ela padeceu enormes tormentos, também para que tivéssemos a força necessária para nossa “batalha” no decorrer da vida.
Sempre que pedirmos a proteção d’Ela, obteremos
Nunca nos faltarão as forças, pois sempre que peçamos a proteção d’Ela, obteremos.
É preciso pedir, pois é insuficiente cobrar a Deus: “Vós prometestes que a tentação nunca seria maior do que as forças para combatê-la, porém agora eu não tenho forças.” A resposta de Deus será: “Esforce-se apenas um pouco que o resto virá.”
Além de esforçar-se é preciso pedir forças a Nossa Senhora.
Portanto, é preciso ter em relação a Ela uma devoção comparável à de São Luís Grignion de Montfort, compreendendo que Ela é medianeira de todas as graças, e todos os pedidos feitos ao Padre Eterno Lhe são agradáveis quando feitos por meio da Santíssima Virgem.
Quando Deus atende a um pedido feito por qualquer homem, Ele o faz através de Nossa Senhora, porque o pedido foi endossado e feito por Ela. Esta é a causa pela qual somos atendidos.
Há uma oração lindíssima — a qual recomendo rezarem — que recorda o desvelo e a mediação de Nossa Senhora para com todos os homens: é o Memorare (Lembrai-vos).

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Estarei sempre presente entre vós

Não posso imaginar como terá sido o luto da natureza com Nossa Senhora morta...

Mas imagino-A saindo da sepultura com glória delicadíssima, suavíssima, virginalíssima e maternalíssima. Ressurrecta, vai subindo ao Céu. Enquanto Nosso Senhor, em sua Ascensão, manifestava grandeza e bondade, Ela exprime mais bondade do que grandeza. Todos os presentes, vendo seu sorriso materno, compreendem-nA cada vez mais e são atraídos por Ela, à medida em que Maria Santíssima vai se elevando ao Céu, até o momento em que Ela desaparece e uma claridade fica espalhada sobre tudo e sobre todos, como quem diz: “Eu, na realidade, fiquei. Rezai, porque estarei sempre presente e unida a vós.”

Lentamente aquilo se desfaz, deixando lembranças que durarão por toda a eternidade...

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Beleza do transluzimento da santidade em Nossa Senhora

Continuação do post anterior
Maria Santíssima crescia continuamente em graça e santidade, por isso, quando chegou a hora de sua morte, Ela era muito mais santa do que quando São José morreu. Quando ele A viu ressurrecta, repleta de toda a santidade que deveria atingir segundo os planos de Deus — e que de fato Ela atingiu —, notou que a santidade transluzia em toda a sua pessoa com uma beleza incomparável. Com que veneração São José, afinal, via Nossa Senhora em corpo e alma, cujo esplendor era ainda maior do que Ela possuía na Terra!
São Joaquim e Santa Ana, sendo pais de Nossa Senhora, devem certamente ter tido o privilégio de assistirem, a partir de um lugar de destaque o ingresso d’Ela no Céu. Sabemos que os pais têm uma propensão natural por seus filhos, sobretudo quando são excelentes pais. Afinal, era justo que, tendo dado Maria Santíssima ao gênero humano, assistissem de um lugar especial a sua entrada no Céu.
Adão e Eva, os primeiros pais do gênero humano, deveriam estar ali presentes. Depois de verem tantas desgraças causadas por seu pecado, puderam contemplar o remédio concedido por Deus para solucionar esse pecado, fazendo nascer Nosso Senhor Jesus Cristo e glorificando de tal maneira a Mãe Imaculada do Redentor.
Podemos ainda imaginar o desfile maravilhoso das almas eleitas e dos Anjos que A receberam no Céu, por assim dizer gradualmente, num como que desfile esplêndido, cantando hinos de glória. E, afinal, todo o paraíso celeste pondo-se a cantar, enquanto Ela sobe até o trono da Santíssima Trindade.
Por fim, a Assunção chega ao seu auge: a coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. Houve então uma verdadeira festa no Céu. Não é uma hipérbole, mas uma festa autêntica, em termos e modos que não podemos imaginar. Foi o mais alto grau de alegria que possa haver. Ela foi coroada por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Devoção às alegrias de Nossa Senhora

Era costume entre os antigos reportar-se às alegrias da Santíssima Virgem. Essa era uma devoção bastante difundida, a ponto de um dos santuários marianos mais famosos do Brasil, o de Guararapes, em Pernambuco, ser dedicado a Nossa Senhora dos Prazeres.
Na vida de Nossa Senhora notamos inúmeros movimentos de alegria. O mais insigne deles é evidentemente o Magnificat.
Porém, nenhuma das alegrias que a Santíssima Virgem teve nesta vida foi tão grande quanto à da sua Assunção.
Após a dormitio1, Maria ressuscitou no apogeu de seu estado físico, mas também no auge de sua vida espiritual, pois a maturidade do corpo e a maturidade da alma se relacionam.
No dia de sua Assunção, Nossa Senhora estava na plenitude da santidade. Sua alma santíssima, que não deixou de progredir um minuto sequer durante toda a sua existência terrena, tinha chegado ao clímax. A Virgem Maria chegara à suprema perfeição. Possuía incomparável beleza de alma, pois estava repleta de virtude; seu amor a Deus atingira o apogeu. Essa santidade transluzia em toda a sua pessoa e Lhe dava uma beleza incomparável.
Entrada de Maria no Céu
Podemos imaginar sua alegria, sabendo que, a partir daquele momento, entraria no Céu com corpo e alma. Passaria por um cortejo incontável de Anjos, que prestariam a Ela homenagens como nunca nenhuma rainha deste mundo, nem de longe, recebeu. E Ela compreendia a natureza de cada Anjo, sua luz primordial2, a graça recebida por cada um, seu amor a Deus, e o amor de Deus para com cada um deles. Maria Santíssima tinha o conhecimento perfeito da hiperdulia que as miríades de Anjos Lhe prestariam. E Ela, tendo uma alegria completa por cada um desses louvores, sabia que os merecia, porque tinha sido a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu espelho fidelíssimo.
Imaginemos que um Anjo da guarda aparecesse para um de nós e dissesse: “Meu filho dileto, você é extraordinário! Sobre você pousam todas as minhas complacências. Você é inteiramente digno de minha benevolência.” Esta pessoa teria grande tentação de vaidade. Um elogio desses, feito por uma natureza angélica, imensamente maior do que a nossa, é algo inebriante...
Sendo mera criatura humana, Nossa Senhora estava recebendo o amor entusiástico de todos os Anjos, e a corte que durante milhares de anos tinha esperado sua Rainha ficou transformada em algo lindíssimo, porque Ela estava chegando. A beleza do mundo angélico não atingira toda a formosura para a qual fora criado, porque era preciso que uma criatura humana o governasse. Nossa Senhora coroava com uma perfeição altíssima a beleza do Céu.
Certamente, Ela deve ter se encontrado com as almas santas que tinham subido ao Céu após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, e sem dúvida encontrou-se com São José, com quem permutou uma saudação cheia de respeito e afeto sobre a qual nem sequer podemos ter ideia. Como deverá ter sido a alegria da alma de São José ao rever Nossa Senhora?

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Oração para a comunhão

Meu Senhor, andei mal e não tenho o que Vos dizer. Mas confio em Vós porque sois a solução de tudo. Vós sois o caminho, a verdade e a vida. Com confiança prostro-me aos Vossos pés, como Santa Maria Madalena. Sei que não me repelireis, nem me abominareis. Vós sois Aquele que a todos emendais e curais. Curai-me e emendai-me a mim também. Estou aqui como o cego, o paralítico ou o leproso do Evangelho: sanai-me das minhas doenças de alma, como sanastes aqueles corpos. Por Vossa Mãe, a quem nunca negastes nada, e a qual nunca recusa de atender ao pecador que a Ela recorre, eu Vos suplico: curai-me!”

Essa é a confusão confiante, cheia de certeza de ser atendido, com a qual se deve comungar. ainda pedirmos a Deus que mude o nosso espírito. Nosso Senhor pode transformar o espírito de uma pessoa de um momento para outro. A História conhece inúmeros casos de conversões súbitas. Ou aos poucos, gradativamente, convertendo-a ao longo dos anos.

Se em cada comunhão pedirmos a Nosso Senhor que nos converta e nos mude, em determinado dia Ele nos atenderá.

Quando comungarmos, digamos a Nossa Senhora:
“Vinde espiritualmente à minha alma e tratai a Nosso Senhor como o fazíeis na Terra. Adorai a Deus em meu lugar”.

sábado, 14 de julho de 2012

Eucaristia

Imaginemos uma pequena capela onde um sacerdote dá a algum de nós a Eucaristia. Visíveis apenas o padre, um de nós, e um discozinho de farinha e água. Porém, a fé nos ensina que todos os anjos e santos do Céu adoram cada partícula do Santíssimo Sacramento existente na Terra; e portanto presenciam aquela comunhão, cantando e louvando o Divino Redentor. Nossa Senhora, por sua vez, louva a Nosso Senhor porque Ele está Se dando a nós. De maneira que o Céu inteiro está olhando para aquela cena e pede a Nosso Senhor misericórdia por aquele que está recebendo a Eucaristia.

Pode-se conjecturar algo mais alentador? Quanta alegria e que beleza nessa cena!

Se antes de comungar pensássemos um pouco nisto, não é verdade que iríamos receber a Eucaristia com mais esperança, mais confiança, mais alegria? É evidente!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

“Sangue de Cristo, inebriai-me”

Consideremos que, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo nos redimido e aberto para nós as portas do Céu, é o momento de olharmos para nossas almas pecadoras. Pensemos em todo o sangue vertido por ele para limpar e purificar nossas almas, e para inebriá-las com suas graças. E digamos: Sangue de Cristo, inebriai-me; água do lado de Cristo, lavai-me; Paixão de Cristo Senhor nosso, daime forças.
Que Nosso Senhor nos dê, pelos rogos de Maria, a graça de olharmos para nossas almas, com todos os seus defeitos, contorções e misérias, com tudo o que nos desvia do que deveríamos ser, que nos afasta do caminho da santidade para a qual somos todos chamados. Peçamos perdão por nós, por nossos próximos a fim de que, encarando cada um seus próprios defeitos, tenhamos coragem e força, alcançadas para nós pelo Sangue de Cristo, para empreender uma séria e honesta reforma de nossas almas.
Senhor Jesus, Maria Santíssima, Mãe dos pecadores, tende pena de nós. Amém. 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pináculo da tristeza, aurora de uma imensa alegria

O sacrifício da Vítima Divina no alto do Calvário nos propõe diversos e importantes pontos para nossa reflexão.
Nosso Senhor Jesus Cristo consumou seu holocausto e acabou de morrer por nós. Como narra o Evangelho, após o brado lancinante de Eli, Eli, lamma sabactani — “meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes” — Ele entregou seu espírito nas mãos do Padre Eterno e, em seguida, tendo inclinado a cabeça, expirou. Tudo estava terminado.
Até esse augusto e trágico momento, reinavam no mundo a desolação, o pecado e a miséria. Porém, sobre tudo isso derrama-se agora o preciosíssimo Sangue de Cristo.
A Redenção acaba de se operar, o gênero humano é resgatado, e o caminho para o Céu novamente aberto para ele. Assim, o pináculo da tristeza, da tragédia e do horror vizinha a mais radiosa aurora da mais intensa das alegrias.
Aos pés da Cruz encontra-se Nossa Senhora, cujo Coração Imaculado e Sacratíssimo está rachado de dor. Ao mesmo tempo, Ela preliba todas as alegrias da salvação das almas. Maria tudo compreende, vê e mede, não só a regeneração do mundo nesta vida, mas, sobretudo, o esplendor eterno que todas as almas justas receberão para maior glória de Deus.
Diante dessa atitude da Santíssima Virgem, peçamos-Lhe que interceda por nós junto ao seu Divino Filho, e nos obtenha um inflamado zelo por nossa própria santificação. Desse modo, saberemos aproveitar tanto sangue vertido e tantas lágrimas, tanta dor e tanta tragédia, para igualmente sabermos participar da glória da Ressurreição de nosso Salvador.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Esperar com paciência nossa salvação


Pensemos, então, nessa libertação depois da prolongada espera. Comparemos a situação daquelas almas justas com a nossa, peregrinos neste mundo incerto, na esperança de alcançarmos o porto da bem-aventurança eterna. E peçamos a Nossa Senhora que nos auxilie e ampare a cada momento dessa nossa caminhada, a fim de que, salvando-nos, nossa libertação seja igualmente gloriosa — não para nós, mas para a honra d’Ela e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, à maneira da glória dos fâmulos que se associam ao triunfo dos mestres.

Que a Santíssima Virgem nos alcance a graça de esperarmos com paciência, não de uma espera negligente e indolente, mas sofrida e semeada de santas ansiedades. Espera sem nenhuma revolta; espera de almas que compreendem ter o Divino Senhor seu tempo para tudo, e, por isso, amam as horas de Deus.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Maria: Imperatriz do Paraíso

Imperatriz da cidade feliz do Paraíso com toda a alegria eterna, isenta sois de pecado, plena de virtudes, Mãe de Deus por obra divina. Virgem agradável de face angelical, assim como sois cheia de graça perante Deus, sede piedosa com os fiéis, rezando por eles ao Rei celestial.
Rosa fragrante de verdadeira bondade, fonte de graças que nunca se esgota, palácio de honra, onde a aliança foi feita entre Deus e o homem, para nossa salvação. Através de Vós Deus Se fez homem, não faltando qualquer elemento, e como homem morreu, sem dúvida alguma, e Se elevou da sepultura como verdadeiro Deus.
Flor das flores, doce, misericordiosa e piedosa, vemos o implacável anjo de Deus. E porque Deus o enviou para punir, ele está pronto, de espada em punho. Que seja da vontade de Deus ordenar-lhe que não levante a espada, perdoar todos os nossos erros até o dia de hoje e nos dar alegria, paz e saúde.
(Tradução livre do antigo motete “Imperaytritz”, do Llibre Vermell de Montserrat)

domingo, 8 de julho de 2012

O que é confiança

Pressentimento de que nossos melhores desejos se realizarão
A confiança é uma forma de obediência. É uma espécie de pressentimento interior, nascido de uma ação da graça, que nos faz sentir com inteira certeza que algo desejado pelos melhores lados de nossa alma se realizará.
Essa é a definição da confiança. Às vezes, há evidências contrárias que procuram desmentir essa confiança. Porém, se esperarmos e pedirmos muito, contra ventos e marés, aquilo se fará verdadeiramente. Poderá vir por caminhos inesperados, caprichosos, depois de longa demora que constituirá para nós uma dura provação.
Mas, quanto mais tardar, maior será a glória, mais brilhante o resultado de nossa perseverança, pois aquilo se realiza certamente. E é preciso sermos heróicos nesse ponto: quando tudo afirma o contrário, devemos dizer: “Continuarei a esperar com mais afinco, pois o que desejo acabará se operando, pela misericórdia de Maria Santíssima!”
Sintomas de que o pressentimento nasce da graça
Essa é a confiança cega de quem acredita naquele pressentimento, percebe pela fé que este é uma voz da graça e persevera contra todas as aparências externas.
Alguém poderia levantar a seguinte questão, a meu ver legítima: como se pode distinguir a simples presunção de um pressentimento válido, pois às vezes se tem uma série de pressentimentos que não se realizam. Como discernir, então, o bom pressentimento que nos vem de Deus?
Eu diria haver três sintomas que nos indicam a boa procedência desse pressentimento. Em primeiro lugar, sentir que desejo algo pelos melhores lados de minha alma e, portanto, os piores estão afastados. Em toda alma, os melhores lados são: o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Nossa Senhora, à Santa Igreja Católica e à Civilização Cristã.
Em segundo lugar, sentir que quando espero algo, minha piedade, minha abnegação, florescem e minha alma encontra alegria dentro da virtude.
E o terceiro sintoma: quando duvido daquilo, minha piedade fenece, começo a sentir tristeza em ter sido chamado por Nossa Senhora, e a virtude, em vez de ser um palácio de luz, passa a ser para mim uma masmorra sombria. Minha dedicação desaparece. Essas características configuram, portanto, o pressentimento suscitado pela graça dentro de minha alma.
Verificados esses três sintomas, podemos calmamente enfrentar até mesmo o inverosímil, porque este, pelo favor de Nossa Senhora, certamente se realizará. Esse é o heroísmo da confiança.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

“Confiando em Vós, não temerei os males”





Por maiores que sejam as dificuldades, espirituais ou temporais, que devemos enfrentar em nossa vida, a atitude constante que nos cumpre ter diante delas é a de uma confiança incondicional em Nossa Senhora. Na certeza desse socorro materno encontramos a coragem para fazermos face a qualquer adversidade, dizendo com o salmista (22, 4): “Confiando em Vós, ó Mãe, não temerei os males, pois na vossa luz, verei a Luz, vosso divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo!”

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Verdadeiros súditos de Maria






Segundo nos ensina São Luís Grignion de Montfort, nosso amor à Santíssima Virgem deve ser tal que conformemos nossa vontade inteiramente à d’Ela, de maneira que os caminhos pelos quais trilhamos e as ações que praticamos, sejam as ações e os caminhos desejados por Nossa Senhora. Sejamos almas tão unidas à Mãe de Deus, que nossas cogitações e vias com as d’Ela se identifiquem. Assim, Maria estabelecerá em nossa alma o reino de seu Coração Imaculado: será verdadeiramente nossa Rainha e nós, seus verdadeiros súditos.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Insondável solicitude



De uma perfeição, santidade e formosura incomparáveis, Nossa Senhora considera a cada um de nós, seus filhos, como enfermos de uma doença chamada pecado original, e tem para conosco solicitudes insondavelmente maiores do que manifesta uma mãe terrena por seu filho doente. Ela se compadece de nossos defeitos, e nos obtém as graças necessárias para vencê-los, para nos curar. A voz nos some na laringe, e nossos olhos perdem todas as outras coisas de vista, ao pensarmos n’Aquela que é nossa vida, doçura e esperança...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Necessária lição de confiança

Corria o ano de 1251 numa Europa toda católica e cheia de fé. Nesse continente, os frades do Carmo começaram a vaguear como membros de uma Ordem quase desconhecida, mal-admirada e à beira do desaparecimento. Assemelhava-se então a um tronco seco e velho, fadado a se desmanchar em pó. Era o instante esperado por Nossa Senhora para fazer desabrochar, no alto da ressecada vara, uma flor: São Simão Stock. Esse inglês de reconhecida virtude, eleito para o cargo de Geral da Ordem, dirigiu fervorosas preces à Santíssima Virgem, implorando-Lhe não permitisse a extinção da estirpe carmelitana. E a Mãe de Deus não tardou em socorrer seu bom servo. No dia 16 de julho daquele ano, aparece Ela a São Simão e lhe entrega o Escapulário do Carmo, “como sinal distintivo daquela confraria e selo do privilégio que obteve para todos os Carmelitas”. E prometeu: “O que com ele morrer, não padecerá o fogo eterno. Este é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos e prenda de paz e de aliança eternas.”
Assim, a misericordiosa intervenção de Nossa Senhora em favor da Ordem carmelitana a qual, a partir daquela data, refloresceu, expandiu-se e acentuou por todo o orbe católico a devoção à Santíssima Virgem.
Dessa maneira, participariam das inestimáveis graças espargidas sobre a família carmelitana quem recebe o Escapulário do Carmo, conforme lembrou o saudoso Papa João Paulo II: “Quem veste o Escapulário é introduzido na terra do Carmelo, para que ‘coma os seus frutos e produtos’ (cf. Jr 2,7), e experimente a presença doce e materna de Maria, no empenho cotidiano de se revestir interiormente de Jesus Cristo e de O manifestar vivo em si para o bem da Igreja e de toda a humanidade” (Carta por ocasião dos 750 anos de devoção ao Escapulário, 16/7/2001).
Além de nos evocar esse maravilhoso privilégio, a festa de Nossa Senhora do Carmo nos convida igualmente a admirarmos outra preciosa manifestação da solicitude de Maria para com seus filhos. Ao salvar a Ordem do Carmo, Nossa Senhora, a par de sua insondável bondade, mostrava também a confiança que se deve ter n’Ela, bem como seu primordial papel nas obras que ama de modo particular. Ainda que estas cheguem ao ponto de tudo parecer perdido, cumpre esperar o momento que Maria se reserva para agir. Lição de confiança todavia mais necessária em vista do que ocorreu depois: enquanto a Ordem fundada por Santo Elias conhecia novos brilhos e novas glórias, a Cristandade que a acolhera tornava-se presa de um inexorável processo de ruína e soçobro. Séculos se passaram, até que em 1917, numa colina de Fátima, Nossa Senhora se exprimindo com as famosas palavras que guardamos em nossas almas, fez a promessa do Reinado d’Ela: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”
E importa lembrar que, no ápice dessas aparições durante as quais proclamou a efetivação de sua realeza, Maria aparece revestida do traje de sua mais antiga devoção — a do Carmo. Eis uma das muitas razões pelas quais a celebração do 16 de julho nos é muito grata, a nós filhos e devotos da Santíssima Virgem. Que Maria, a Flor do Carmelo, Vinha florida, abençoe especialmente em sua festa os nossos leitores!