sábado, 30 de junho de 2012

Inefável sorriso


O Divino Mestre nos convida a segui-Lo no caminho do Calvário, carregando nossa cruz. Caminho de lutas, de deveres e trabalhos por amor a Deus. Porém, para o fazermos, cumpre que O sigamos passo a passo, pondo nossos pés onde Jesus pôs os d’Ele, ou seja, na mais estreita e íntima união com o Redentor.

E tal só alcançaremos se, ao longo desse caminho, para auxiliar a nossa fraqueza, consolar os nossos corações, sentirmos que sobre nós paira aquilo que há de mais doce no Céu e na Terra, depois da clemência do próprio Deus — o sorriso inefável de Maria Santíssima.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Perfeição Cristã

São Luís Grignion de Montfort estabelece o programa de santidade que o próprio Divino Mestre nos deixou. Escreve ele: Toda a perfeição cristã, com efeito, consiste:
1º) Em querer tornarse santo: Se alguém quiser vir após Mim”.
2º) Em abnegar-se: “renuncie a si mesmo”;
3º) Em sofrer: “carregue sua cruz”;
4º) Em agir: “sigame (Mt 16, 24; Lc 9, 23).
Esse pensamento de São Luís Grignion é muito importante, porque nos revela a necessidade de uma graça especial para determinar os homens a seguirem a cruz de Nosso Senhor.
Quer dizer, se alguém julga que somente fatores humanos são capazes de levar uma pessoa a aceitar uma verdadeira vida de sacrifícios, esse se acha completamente enganado. E igualmente errado estará quem pense que a tal nos inclinará o costume, a natureza ou o “ânimo dedicado”. Não existe ânimo dedicado nessa matéria. Há homens que, às vezes, demonstram certa facilidade para algumas formas menos penosas de dedicação. Mas entregar-se até o sangue nas grandes dificuldades, não se consegue sem o auxílio da graça.
Com efeito, há certas graças que o Espírito Santo concede aos homens, em geral graças de conversão, que trazem consigo a vitória na vida espiritual. Graças tão ricas, tão eficazes, alcançadas por meio de Maria Santíssima, que nos fazem sentir um desejo quase irresistível de progredir na virtude e de abraçar as vias da santidade de modo mais resoluto.
Certo, mesmo sob o influxo dessa graça poderemos conhecer eclipses, enfrentaremos toda espécie de ventanias, de tropeços, mas, afinal, aquela luz divina nunca se apagará inteiramente no nosso horizonte. E acabaremos por segui-la e por atingir nosso bom porto, conduzidos pela misericórdia de Nossa Senhora.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O socorro maternal que por nós intercede

O simbolismo mais tocante da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está contido no gesto com que o Menino Jesus se apóia em Nossa Senhora, a qual segura as mãos d’Ele, significando que Ela governa os movimentos de Seu Divino Filho. Este era um antigo símbolo de homenagem e de obediência, o qual consistia em que o inferior colocasse suas mãos entre as do superior. Isto significava o domínio, o poder, deste sobre aquele, porque um homem que segura as mãos de outro evidentemente segura-o por inteiro.

Representando o Divino Infante desse modo o artista foi muito feliz e conseguiu indicar o que de fato acontece: a Santíssima Virgem pode tudo sobre o Menino Jesus e, nesse sentido, sua oração O “governa”!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Imaculado Coração de Maria

Com grande sabedoria a Igreja instituiu a Festa do Imaculado Coração de Maria no dia seguinte à do Sagrado Coração de Jesus. Assim, a liturgia une no louvor da Terra e do Céu os dois corações que foram sempre inseparáveis, denominados de “semelhantíssimos” (Ladainha do Coração de Maria), pulsando por amor aos homens, e que desde a Assunção de Nossa Senhora se encontram juntos no Céu, em seus corpos gloriosos.

Comentários de Plinio Correa de Oliveira a respetio da estampa ao lado:

 “Imagem especialmente piedosa, comentava ele, exprimindo de modo tocante o insondável afeto de Mãe, a bondade, a misericórdia, a pureza e todas as excelsas virtudes que Nossa Senhora possui num grau inconcebível por nós. O quadro A representa no seu resplendor, segurando o coração com a mão, como se este houvesse rompido o peito para se mostrar aparente aos homens e oferecido pela Santíssima Virgem: ‘Ele é vosso; dou, se me pedirdes’. Portanto, é um convite à prece, à súplica ao Imaculado Coração d’Ela, feito por Ela mesma: ‘Sede devotos do meu Imaculado Coração e recebereis graças incontáveis’.” 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

De ferro em ouro




São Luís Grignion de Montfort compara Nossa Senhora a uma fornalha ardente e contínua de amor de Deus, na qual todo ferro que nela se lança fica abrasado e se transforma em ouro (Tratado, nº 261).

Bela imagem, que nos deve encorajar na devoção à Santíssima Virgem: tributando-Lhe nosso amor e nossa confiança, Ela há de transformar por completo nossa alma — antes dura e fria como o ferro — em ouro, em nobre metal incandescente de piedade e adoração a Deus.

domingo, 24 de junho de 2012

Maria, dispensadora de todas as graças

Deus Espírito Santo comunicou a Maria, Sua fiel esposa, Seus dons inefáveis, escolhendo-a para dispensadora de tudo que Ele possui. Deste modo Ela distribui Seus dons e Suas graças a quem quer, quanto quer, como quer e quando quer, e dom nenhum é concedido aos homens, que não passe por Suas mãos virginais.

(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís Grignion de Montfort)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Confiança na gloriosa mediação da Virgem

Creio que a única solução para quem se encontra em uma situação angustiante é lançar uma âncora. Contudo, fazê-lo à maneira de um navegante que se acha numa circunstância tão desesperadora que, ao invés de deitar a âncora no fundo do mar, arroja-a em direção às nuvens, esperando que o Céu a segure por ele. Ou seja, é preciso chegar até essa ousadia de confiança.

E, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, seria uma atitude racional. Com efeito, sendo a voragem da água tal que o próprio fundo do mar se descobre aos olhos do navegante, ele não tem outro recurso senão lançar a sua âncora para o Céu. E é tanto mais provável que o Céu atenda seu apelo, quanto mais terá sido sua confiança na hora de jogar a âncora.

Noutras palavras, quanto mais a alma for própria a darse, quanto mais for generosa em dedicar-se ao serviço de Deus e de Maria Santíssima, tanto mais ela acreditará, no momento da provação e da angústia, que Nossa Senhora fará por ela o inconcebível em matéria de socorro, de amparo, de solicitude.

Alguém poderia me perguntar, muito a propósito: como se joga uma âncora para o Céu?

Responderia eu que há determinadas circunstâncias nas quais percebemos claramente que uma ação nossa corresponde ao plano da Providência para conosco, mas, ao mesmo tempo, de acordo com as disposições humanas, tal realização é por inteiro improvável. A âncora foi jogada para o Céu.

Importa notar o seguinte aspecto: não é tanto algo que resolvemos fazer, mas uma situação que aceitamos com confiança, por discernirmos que Nossa Senhora colocou por nós a âncora nas nuvens.

Percebemos que o navio desapareceu, o mar corre por debaixo dos nossos pés, estamos pendurados numa corda, presa não sabemos onde. Olhamos para cima: está numa nuvem e com uma âncora na ponta. E o mais extraordinário: está ventando de tal maneira que o vento pode levar a nuvem a qualquer hora... Entretanto, Nossa Senhora quer que permaneçamos tranqüilos, pendurados na âncora como se estivéssemos com o chão sob nossos pés.

Sei que não é uma atitude fácil de ser adotada. Mas, pela minha própria experiência, posso afirmar que ela é, ao mesmo tempo, terrível e altamente deleitável.

Cumpre, pois, que nos formemos nessa generosidade de alma e, quando for preciso, lancemos a âncora para o Céu com toda a segurança. Preparemo-nos para jogá-la às nuvens, pedindo a Nossa Senhora que nos alcance uma virtude da confiança semelhante à d’Ela.

A abundância da misericórdia de Maria sobrepuja tudo quanto qualquer um de nós possa excogitar. Deixemos nossas apreensões inteiramente nas mãos de Nossa Senhora e Ela tudo resolverá. Essa certeza não é gratuita: baseia-se na mediação onipotente da Mãe de Deus em nosso favor. Mediação, aliás, belamente assinalada na oração final da Ladainha Lauretana, que me apraz muito recitar: “Pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria”.

Ou seja, de tal modo uma súplica de Nossa Senhora é atendida por seu divino Filho que seus pedidos podem ser qualificados de gloriosos. Isso deve nos entusiasmar e cumular de confiança n’Aquela que incansavelmente está disposta a nos socorrer.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Medianeira da Luz

Há, sem dúvida, imensa beleza no despontar do astro-rei. Contudo, em certas ocasiões, o aparecimento da lua tem também seu encanto, sua poesia e sua grandeza. Assim a vinda de Nossa Senhora foi, para toda a humanidade, como um magnífico nascer da lua”.
Lua que brilha da luz do Sol da Justiça, Cristo Senhor nosso, e que se compraz em espargi-la sobre a face da Terra, isto é, em distribuir para os homens a superabundância de graças que seu divino Filho depositou nas suas mãos maternais. Dr. Plinio Correa de Oliveira comentou uma coletânea de textos (em itálico) acerca do papel de Nossa Senhora nos primórdios da Santa Igreja:
“Maria foi o oráculo vivo que São Pedro consultou nas suas principais dificuldades. A estrela para a qual São Paulo não cessou de olhar, para se dirigir em suas numerosas e perigosas navegações.
“Temos, então, esse belo panorama: a Igreja nascente — com todos os lances maravilhosos da história do cristianismo nos seus passos iniciais — inspirada e dirigida por Nossa Senhora. Sem dúvida, São Pedro era o Papa e detinha o poder sobre a Igreja, que lhe fora conferido por Jesus. Contudo, não deixa de ser igualmente verdade que o Príncipe dos Apóstolos se submetia às disposições de Maria, atendendo-as com devoção e reconhecimento. Por sua vez, São Paulo sempre recorria a Ela, a fim de ser bem orientado nas suas navegações, isto é, no seu apostolado com os gentios.
“É então que Ela preencheu a significação de seu nome simbólico. Pois, diz São Boaventura, o nome de Maria pode traduzirse por essas palavras: Maria é a criatura iluminada por cima e que espalha, por todas as direções, a luz que lhe vem do alto. Ela é, verdadeiramente, a medianeira da luz. Toda a sabedoria e toda a luz nos vêm, para todos os homens, através d’Ela.
“Eis, portanto, uma linda interpretação do nome de Nossa Senhora, como sede da sabedoria, como foco da ortodoxia e da boa doutrina. Quem deseja progredir na virtude da sabedoria, deve recorrer a Ela que é, por definição, pelo próprio conteúdo de seu nome, essa fonte de luz celeste que se espalha para a humanidade inteira.
“Se os evangelistas querem recolher os principais fatos da vida de Jesus e seus ensinamentos mais importantes, para transmiti-los nos seus escritos autênticos, eles recorreram a Maria. Foi a Ela que pediram os esclarecimentos necessários sobre a Encarnação, a infância e a juventude do Homem-Deus, assim como sobre o modo perfeito de exprimir os dogmas que Ele trouxe do Céu. Pois, disse o Cardeal Hugo, Ela fez de seu coração o tesouro das palavras e das ações de seu Filho, a fim de os comunicar em seguida aos escritores sagrados.
“Temos, novamente, a figura de Nossa Senhora como o vaso de eleição que recolheu todos os ensinamentos e atitudes de Jesus, para distribuí-los aos Apóstolos, à Igreja nascente e à Igreja de todos os tempos. Foi Ela, não só a informante, mas a inspiradora da mentalidade com que os evangelistas escreveram seus livros sagrados; Ela esteve ao lado de São Pedro, São Paulo, São João Evangelista, deste e daquele, contando-lhes, explicando-lhes, ajudando-os a interpretar as palavras e os atos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela era uma fonte de aroma divino perfumando a Igreja inteira.
“Tal é o esplendor da alma santíssima de Nossa Senhora, apenas vislumbrado por nós e que nos deve levar a amá-La e imitá-La, cada dia mais e mais.”

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Confiança cega em Maria

Jamais será suficiente insistir em que a misericórdia de Maria Santíssima não tem limites. Por maiores que sejam nossas ingratidões e infidelidades, Ela estará sempre ao nosso lado, disposta a nos reerguer, a nos sorrir, perdoar e a incutir ânimo para novos atos de virtude.
Por isso, nunca deixemos de nos voltar para Ela, dizendo-Lhe: “Minha Mãe, quisestes estabelecer comigo um vínculo que não se rompe nem mesmo no momento em que Vos ofendo. No vosso desejo de sempre me amparar, puseste-me nas vias da bondade, da misericórdia e do perdão. Ensinai-me, pois, a conhecer vossa clemência, a confiar em Vós de olhos cegos e de todos os modos, e assim levar uma vida, ao mesmo tempo, semeada de devoção a Vós e repleta de alegria, porque repleta de confiança no vosso maternal socorro. Amém.”

Plinio Corrêa de Oliveira

terça-feira, 19 de junho de 2012

Palavra confortadora







Assim como São João Batista estremeceu de gáudio no seio de sua mãe ao ouvir a voz de Maria Santíssima, devemos pedir a Nossa Senhora que nos obtenha a graça de igualmente exultarmos ao som da voz d’Ela ressoando em nossos corações. Que, em meio aos sofrimentos e aflições a que todos estamos sujeitos nesta vida, a Mãe de Misericórdia nos diga uma dessas palavras interiores pela qual estremeçamos de santa alegria, e nos dê coragem e ânimo para carregarmos todas as nossas cruzes até o fim da vida.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Rainha da paz

Um predicado que não exclui lutas e sofrimentos
A procura de uma correta interpretação desse título mariano nos levaria a considerar que a primeira notícia de Nossa Senhora nas Sagradas Escrituras no-La mostra como adversário do demônio, e como Aquela que esmagaria a cabeça da serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher”, disse Deus à víbora, entre tua descendência e a dela” (Gn, 3, 15). Ou seja, há uma atitude fundamental de repulsa e de combate ao mal naquela que é invocada como Rainha da Paz.
Além disso, como se infere das palavras divinas, todas as lutas travadas pela Igreja e pelos católicos contra os adversários da Fé têm na mulher, isto é, em Nossa Senhora, o primeiro exemplo de coragem e de força para vencê-los.
Então, se a paz fosse simplesmente ausência de luta, como a Virgem Maria seria a Rainha da Paz?
Mais ainda. Se a paz consiste em não ter sofrimento nem angústias, como explicar as palavras de Simeão dirigidas a Nossa Senhora, segundo as quais um gládio de dor transpassaria o coração d’Ela?
Na verdade, Maria sofreu um dilúvio de dores na Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela viu surgirem e crescerem as antipatias, as animosidades e o ódio em relação a seu Divino Filho; d’Ele ouviu a predição de que sofreria e morreria crucificado, e não O abandonou um só instante, acompanhando-O e partilhando de seu martírio até o Consummatum est no alto do Calvário, até a deposição do Corpo sagrado na sepultura. E tudo Ela sofreu numa atitude de luta e de paz, para a redenção do gênero humano, para esmagar o demônio e vencer a morte.
Assim, a autêntica noção de paz não exclui a luta nem o sofrimento. E onde está a Rainha da Paz, está a inimizade contra a serpente e contra o mal.
Possui a paz quem deseja a ordem
O que é a paz?
Segundo a definição de Santo Agostinho, a paz é a tranquilidade da ordem. Quando uma alma possui firme propósito de se manter em ordem, custe o que custar, embora enfrentando as maiores dificuldades, angústias e perturbações, ela tem a paz. Por isso diz São Francisco de Sales que Nosso Senhor Jesus Cristo, no Horto das Oliveiras, não perdeu a paz nem a alegria na fina ponta de sua alma, porque estava disposto continuamente a cumprir seu dever.
Do mesmo modo podemos afirmar que Nossa Senhora não deixou de ter paz nem mesmo no Calvário, pois seu espírito estava em ordem, realizando sua missão de Co-redentora da humanidade.
Portanto, quando a ordem vence e incute, quer interna, quer externamente, sua tranquilidade própria, ainda que em meio a uma série de lutas e sofrimentos, a paz impera. Tanto mais vigorosa e resoluta, quanto maiores as dificuldades em face das quais deve se afirmar. Esse conceito se aplica às instituições, aos povos e à vida espiritual de cada pessoa.
Paz de fundo de alma, mesmo na “amargura muito amarga”
Aplica-se, sobretudo, como acima evocamos, ao Divino Redentor e à sua Mãe Santíssima, em cujos lábios a piedade católica colocou aquelas palavras do profeta: “Eis na paz minha amargura muito amarga” (Is 38, 17).
Ao tecer essas considerações, longe estou de pretender que não se deve apreciar as épocas de tranquilidade, ou as horas de distensão e bonança que a Providência nos permite desfrutar em nossa vida. Antes, devemos pedir a Deus, por meio de Nossa Senhora, que nos conceda essas épocas de “respiração”, onde não haja dores ou dificuldades.
Contudo, não podemos fazer disso o ideal da paz, pois sabemos que são momentos de consolações no meio de lutas e trabalhos. Como os tiveram, aliás, Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe em Nazaré, em casa de Lázaro, Maria e Marta, etc.
Assim, ao invocarmos a Rainha da Paz, peçamos a Ela que imprima bem vivo em nossa alma o amor à paz verdadeira que é a tranquilidade da ordem, e não a ausência da dor e da luta. E quando nos acharmos opressos por dificuldades, roguemos-Lhe que nos conceda, complementarmente à paz interior alicerçada na ordem, alguma distensão, dispondo circunstâncias propícias que nos façam respirar um pouco na vida.
É um pedido legítimo que, estou certo, Ela atenderá com a abundância de sua maternal misericórdia.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Dos que me destes, não perdi nenhum”

Nos momentos de provação e angústia, lembremo-nos de que Nossa Senhora, por disposição divina, se acha junto a cada um de seus filhos provados, ajudando-o a lutar e a vencer as dificuldades. De tal sorte que dia virá em que Ela, afetuosa, amorosa e pacientemente deitará um olhar misericordioso sobre todo o seu rebanho de devotos e repetirá a Nosso Senhor Jesus Cristo essas palavras magníficas que o próprio Redentor pronunciou: “Dou-vos graças meu Deus, porque de todos os que Vós me destes, não perdi nenhum!” (Jo 17, 12)
Na verdade, Maria Santíssima nos acompanhará pelos extravios, pelas infidelidades, prostrações e conspurcações, pelos olvidos, pelas ingratidões, por toda a poeira e por toda a lama do caminho: mas, a todos e a cada um, em determinado momento, Ela dirá infalivelmente a palavra que o poderá salvar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Oração à Nossa Senhora, rainha dos corações



Minha Mãe, Vós sois Rainha de todas as almas, mesmo das mais duras e empedernidas, desejosas contudo de se abrirem à vossa misericórdia. Peço-Vos, pois, sede Rainha de minha alma, quebrai nela os rochedos de maldade, as resistências abjetas que de Vós me separam. Dissolvei, por um ato de vosso império, as paixões desordenadas, as volições péssimas, os restos dos meus pecados passados que tenham permanecido no meu íntimo. Limpai-me, ó minha Mãe e Rainha, para que eu seja inteiramente vosso.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Necessidade da graça

Pensemos: a morte de Cristo causou tanta perturbação no universo que o sol se toldou no firmamento, a terra tremeu e outros fenômenos do gênero se verificaram. Ora, se as próprias criaturas materiais como que se manifestaram diante da morte do Filho de Deus e Lhe preparam aquele funeral, como posso tomar conhecimento da Paixão e não me incomodar?
Pois a maldade do homem decaído pelo pecado original o levará a ser indiferente aos padecimentos de Cristo e à sua Cruz, caso ele não seja auxiliado pela graça. A inclinação para essa indiferença, qualquer um pode sentir dentro de si: ouvirá diversos sermões a respeito dos sofrimentos de Nosso Senhor, os mais lógicos e atraentes; porém, sem uma assistência da graça, daria no mesmo se lhe narrassem a Guerra de Tróia. Quer dizer, não o abalaria nem o moveria a nenhuma boa disposição.
Daí adquirirem especial valor aquelas palavras singelas do cântico Stabat Mater, frutos da piedade popular, acessível e amável: Santa Mãe, fonte de amor, fazei-me sentir a intensidade de vossa dor, fazei-me chorar convosco. Quer dizer, depois de Nosso Senhor ter feito tudo por mim, preciso pedir a Maria Santíssima que me alcance graças para eu ter pena d’Ele, pois a Cruz, sem o socorro da graça, pode me parecer apenas um pedaço de madeira, e todo um ciclo de conferências sobre a beleza e riqueza do sofrimento não nos tocará a alma.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Luz de nossas almas


Quisera eu que um raio de graça descesse sobre cada um de nós, e nos fizesse compreender que, em relação a Nossa Senhora, devemos ser como era o Menino Jesus: filhos intimíssimos d’Ela, cientes de que sua misericórdia nunca se cansa, seu perdão jamais nos é recusado, e seu maternal sorriso sempre nos é concedido, adiantando-se a nós e para Ela nos atraindo.

Que o olhar da Virgem Santíssima seja a luz interna de nossas almas e a estrela que nos guie pelo mar tempestuoso desta vida.

domingo, 10 de junho de 2012

Os detalhes do quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Um quadro rico em símbolos
O milagroso ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro mede 53 por 41,5 centímetros. É uma pintura de estilo bizantino, executada em madeira sobre fundo dourado, cor muito usada pelos artistas no antigo Império Romano quando se tratava de retratar grandes personalidades. O ouro, no caso, é um expressivo símbolo da glória da Rainha dos Céus.
Mais do que um simples retrato de Maria, a pintura reproduz uma cena.
A Virgem Mãe segura com desvelo, afeto e adoração o Menino Deus; seu olhar, porém, não está voltado para Ele, mas para nós, seus filhos adotivos. Jesus não olha nem para sua Mãe nem para nós, mas parece querer abarcar com seu olhar divino os dois anjos que seguram os instrumentos da Paixão: à esquerda, São Miguel, de manto verde, com a lança e a esponja de fel; à direita, São Gabriel, de manto lilás, com a cruz e os cravos que perfuraram pés e mãos do Redentor.
Pormenor altamente expressivo é a sandália pendente do pé direito do Menino Jesus, segura por um fio, quase caindo. Ela é bem o símbolo da situação da alma em estado de pecado mortal: presa a Jesus por um fio, a devoção a Nossa Senhora.
Sob o manto azul, Maria veste uma túnica vermelha. Nos primórdios do Cristianismo, as virgens se distinguiam pela cor azul, símbolo da pureza, e as mães pela cor vermelha, signo da caridade. Essa combinação cromática define, pois, excelentemente Nossa Senhora, Virgem e Mãe. Nota-se também o verde no forro de seu manto. Ora, a composição dessas três cores era de uso exclusivo da realeza. Assim, a dignidade régia da Rainha dos Anjos e dos Santos está bem representada em suas vestimentas.
Bem no alto do quadro, metade em cada lado, estão escritas, em letras gregas, as iniciais da expressão “Mãe de Deus”; ao lado da cabeça do Menino Jesus, as iniciais de “Jesus Cristo”; acima do anjo da esquerda, “Arcanjo Miguel”; e do anjo da direita, “Arcanjo Gabriel”.

sábado, 9 de junho de 2012

História do quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Haverá alguém que nunca tenha se sentido aflito em horas de dificuldades ou na perspectiva de alguma tragédia? Ou que jamais tenha tido necessidade de uma ajuda, seja ela espiritual, psicológica, afetiva ou material?
Com toda certeza, não, pois o ser humano, longe de ser auto-suficiente, é contingente por natureza: não tem condições de viver sem apoio de seus semelhantes, muito menos sem a contínua sustentação de Deus, Criador do universo.
Uma carência inevitável, uma solução infalível
Para esse estado de carência inevitável, Deus nos oferece uma solução infalível: o recurso à sua e nossa Mãe. Daí ser muito apropriado o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, com o qual se patenteia a certeza do auxílio que Ela nos dá quando a Ela recorremos.
“Perpétuo Socorro” indica uma fonte de misericórdias que nunca se esgota, jamais se interrompe. “Nunca” significa em nenhum tempo, nenhum lugar, nenhuma circunstância. Por pior que seja a situação, por mais graves e numerosos que sejam nossos pecados, a Virgem Maria quer manter-nos continuamente sob sua insondável proteção e celestial amparo.
Não é de espantar, pois, que a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro tenha se espalhado por todo o mundo.
Como surgiu ela?
Furto sacrílego, incrível recalcitrância
Por volta de 1496, venerava-se numa igreja da Ilha de Creta um milagroso quadro da Virgem Maria. Segundo antiga tradição, fora pintado em fins do séc. XIII por um artista desconhecido, inspirado em uma pintura atribuída a São Lucas.
Para nós, a história do venerável quadro começa nesse ano, com um crime sacrílego: na esperança de vendê-lo por bom preço, um negociante o furtou e fez-se com ele ao mar, escondendo-o entre suas mercadorias. No ano seguinte, chegou a Roma, onde adoeceu gravemente e foi hospedado em casa de um amigo, também mercador. Na iminência da morte, contou a seu amigo o vergonhoso furto e pediu-lhe que conduzisse o quadro a uma igreja onde pudesse receber um culto condigno. O romano lhe prometeu assim fazer.
Morreu o mercador, e o romano se dispunha a cumprir o prometido, mas sua mulher o persuadiu a reter na casa o quadro. Apareceu-lhe então a Virgem Maria e lhe disse que o levasse para uma igreja. Ele não obedeceu. Voltou a Mãe de Deus mais duas vezes e o ameaçou de morte se continuasse desobedecendo. Sua esposa porém se opôs novamente, e ele mostrou-se mais submisso a ela do que à Rainha dos Anjos. Numa quarta aparição, esta lhe comunicou:
— Avisei-te, ameacei-te, não quiseste obedecer. Agora sairás primeiro desta casa, depois sairei Eu à procura de um lugar mais honroso.
E de fato logo saiu em primeiro lugar o recalcitrante homem, dentro do caixão, a caminho da sepultura. A Santíssima Virgem apareceu então à sua filha de seis anos, e lhe disse:
— Avisa à tua mãe e ao teu tio que Santa Maria do Perpétuo Socorro quer que a tireis desta casa, se não quereis morrer todos sem demora.
A viúva tomou a sério a advertência, pois ela tinha tido uma visão igual à da menina. Uma sua vizinha, porém, convenceu-a a continuar retendo o quadro em sua casa. Atacada logo em seguida por uma terrível enfermidade, essa vizinha arrependeu-se de sua má ação, recorreu à misericórdia de Nossa Senhora e foi curada após tocar o milagroso quadro. A Santíssima Virgem apareceu mais uma vez à menina e lhe comunicou que ele deveria ser levado para a Igreja de São Mateus, situada na Via Merulana, entre as basílicas de Santa Maria Maior e São João de Latrão.
Uma das igrejas mais visitadas de Roma
A viúva, a filha e a vizinha apressaram-se em comunicar esses prodigiosos fatos aos Padres Agostinianos, encarregados da mencionada igreja. Como um rastilho de pólvora, espalhou-se a notícia por toda a cidade. Assim, na hora de para lá transportar o quadro, em 27 de março de 1499, formou-se uma grandiosa procissão acompanhada por inúmeros membros do clero e uma multidão de fiéis.
Durante três séculos a imagem sagrada foi venerada na Igreja de São Mateus. Ali acorriam de todas as partes os fiéis em tão grande número que, em pouco tempo, ela se tornou uma das igrejas mais visitadas de Roma, devido à fama dos milagres operados por intercessão da Virgem do Perpétuo Socorro.
Abandonada numa capela, esquecida de quase todos
Novas dificuldades, porém, se interporiam entre a Mãe de Misericórdia e seus filhos. Em 1798 as tropas de Napoleão Bonaparte invadiram Roma, exilaram o Papa Pio VI e, sob pretexto de fortalecer as defesas da cidade, destruíram 30 igrejas, entre elas a de São Mateus. Nessa ocasião perderam-se incontáveis relíquias e grande número de imagens sagradas. Contudo, o milagroso quadro foi salvo à última hora por um sacerdote que o levou para a Igreja de Santo Eusébio e depois para a capela privada dos agostinianos no convento de Santa Maria in Posterula.
No turbilhão dos acontecimentos políticos e das guerras que marcaram as primeiras décadas do séc. XIX, apagou-se quase completamente a lembrança da inefável bondade com que a Mãe do Perpétuo Socorro acolhia todos quantos a Ela recorriam. Assim, sua imagem sagrada acabou relegada por mais de meio século a uma capela secundária de Roma, sem qualquer ato de devoção especial, sem ornamentação, sem uma lâmpada sequer que indicasse sua augusta presença, esquecida de quase todos.
“Fazei com que Ela seja conhecida no mundo inteiro”
Esquecida de quase todos... não, porém, de Frei Agostinho Orsetti, que havia sido frade na Igreja de São Mateus. Em seu coração não diminuíra o fervor, em sua mente não se apagara a lembrança dos incontáveis milagres obtidos por intercessão dessa incomparável Mãe de todos os necessitados. Por volta de 1850, estando já idoso e quase cego, travou amizade com um jovem coroinha chamado Miguel Marchi, que frequentava a capela de Santa Maria in Posterula. Muitos anos depois, sendo já sacerdote redentorista, o antigo coroinha relatou que “aquele bom frade” costumava referir-se com ansiedade à triste situação em que se encontrava a tão querida imagem. “Não te olvides, meu filho, de que a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está em nossa capela. Era muito milagrosa. Nunca te olvides, entendeste?
Frei Agostinho faleceu em 1853, sem ver efetivado seu desejo de que a Virgem do Perpétuo Socorro fosse de novo exposta à veneração pública. Na aparência, haviam sido infrutíferos os esforços e as confiantes orações desse zeloso agostiniano.
Só na aparência, porque o jovem coroinha, mais tarde Pe. Miguel Marchi CSsR, não se olvidou! Em meados do séc. XIX, a Congregação dos Padres Redentoristas foi convidada pelo Bem-Aventurado Pio IX a instalar em Roma sua Casa Generalícia. Para essa finalidade, e sem terem conhecimento dos fatos acima relatados, adquiriram um terreno na Via Merulana... justamente no local onde existira a Igreja de São Mateus. Como se verá, quem, pela voz do Papa, atraía à Cidade Eterna essa Congregação era a própria Mãe do Perpétuo Socorro.
Ali construíram os Padres Redentoristas um convento e a Igreja de Santo Afonso. Um deles, estudando o setor da cidade no qual estavam estabelecidos, não tardou a descobrir que a Igreja de Santo Afonso tinha sido construída exatamente no local onde existira outrora a Igreja de São Mateus, na qual fora venerada durante séculos a milagrosa pintura de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. E relatou a seus irmãos de hábito essa auspiciosa descoberta. Entre os sacerdotes que o ouviam encontrava-se o Pe. Miguel Marchi. Este então, por sua vez, narrou tudo quanto lhe havia dito a respeito dessa imagem o velho frade agostiniano do convento de Santa Maria in Posterula.
Aqui se vê bem a mão da Virgem Santíssima guiando os acontecimentos. Ela inspirou nos corações daqueles seus filhos missionários o ardente desejo de expor novamente à veneração pública o milagroso quadro. Estes instaram o Superior Geral da Congregação, Pe. Nicolas Mauron, a fazer diretamente ao Papa um pedido com esse objetivo. Recebido em audiência por Pio IX, o Superior Geral narrou-lhe a história do quadro e apresentou-lhe a solicitação de que ele fosse confiado à guarda de sua Congregação para voltar a receber as honras e súplicas dos fiéis no mesmo local escolhido por Nossa Senhora em 1499.
O Papa ouviu tudo com atenção e escreveu de próprio punho este bilhete, com data de 11 de dezembro de 1865: “O Cardeal Prefeito da Propaganda chamará o Superior da comunidade de Santa Maria in Posterula e lhe dirá que é Nosso desejo que a imagem da Santíssima Virgem, à qual se refere esta petição, seja de novo colocada entre [as basílicas de] São João [de Latrão] e Santa Maria Maior; os Redentoristas vão substituí-la por um outro quadro adequado”.
Em seguida o Santo Padre deu aos Redentoristas, na pessoa de seu Superior Geral, a missão de difundir a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: “Fazei com que ela seja conhecida no mundo inteiro!”
“Ó Maria, terminai o que começastes!”
Os Padres Agostinianos anuíram com respeito filial ao desejo do Sumo Pontífice e entregaram o milagroso quadro aos seus novos guardiões. Numa solene procissão, cerca de 20 mil fiéis o conduziram pelas ruas ornadas de flores até a Igreja de Santo Afonso.
A Mãe do Perpétuo Socorro manifestou seu contentamento já nesse dia, através de alguns milagres. “Querida Mãe, cure meu filho ou leve-o para o Céu!” — implorou da janela de sua casa uma angustiada mãe, erguendo nos braços seu filhinho moribundo quando passava o quadro. Logo o menino ficou curado.
Pouco adiante, outra mãe pediu para curar sua filha atingida por uma paralisia total. Imediatamente a menina ganhou força nas pernas, porém, apenas o suficiente para começar a andar. Mãe e filha foram no dia seguinte à Igreja de Santo Afonso e suplicaram: “Ó Maria, terminai o que começastes!” E a menina de lá saiu completamente restabelecida.
Iniciou-se, assim, uma nova fase na luminosa história da milagrosa pintura da Virgem Santíssima. Até hoje ela acolhe maternalmente seus filhos e filhas no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. E, graças ao zelo dos Padres Redentoristas, milhares de igrejas se erigiram em sua honra em todas as partes do mundo.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Nunca deixemos de confiar n’Aquela que é nossa esperança

Baseado em minha experiência pessoal, seja-me permitido ressaltar a necessidade de nutrirmos uma confiança sem limites e constante na bondade de Maria Santíssima, em todas as ocasiões, em todas as circunstâncias e de todos os modos, dizendo a Ela: “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!”
Ela é a nossa vida, porque, não fosse sua insondável misericórdia para conosco, estaríamos mortos.
É nossa doçura, pois tudo quanto existe de doce em nossa existência nos vem pelo intermédio d’Ela. E a suavidade de Nossa Senhora para com seus filhos, ainda mesmo quando fracos e infiéis, é incomparável.
Todas as formas materiais de doçura — a do mel, do açúcar, da brisa, ou a própria doçura dos corações maternos — não são senão pálida imagem dessa doçura das doçuras que vem a ser o Imaculado Coração de Maria, inundado da suavidade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Maria, vida, doçura, esperança nossa, salve. Esperemos sempre na intercessão d’Ela por nós, na sua misericórdia para conosco, com uma esperança invencível, pois quem possui tal Mãe, que de tal maneira induz os seus filhos a olharem para Ela, nunca pode deixar de esperar no seu maternal auxílio.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Fonte de nossa coragem

Incomparavelmente mais perfeita que a mais perfeita das mães, de Nossa Senhora podemos esperar o socorro indizível, a protecção inefável, a solução inimaginável para todas as nossas dificuldades espirituais e temporais. N’Ela confiando, temos sobejos motivos para nunca desanimar e jamais desfalecer na coragem.
Por meio d’Ela, alcançaremos as graças mais insignes, maior força de alma e de vontade, lograremos a constante perseverança na virtude e um crescente amor a seu Divino Filho.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Olhar de insondável desvelo

Se, em meio às nossas aflições, acaso nos assalte a dúvida de que Maria Santíssima nos socorrerá, lembremos com que imensidade de ternura Ela olhava para o seu Filho perseguido durante a Paixão, e pensemos: “Com que maternal e insondável desvelo não estará também fitando a mim, nessa hora de provação?”
Não duvidemos. Nossa Senhora nos alcançará graças, e incutirá na alma de cada um a força necessária para transformarmos o momento de angústia em fator de crescimento espiritual, em período de preparação para realizarmos, em nome d’Ele, grandes feitos.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A Virgem Maria: Perpétuo tabernáculo da Eucaristia

Será descabido considerar que as Sagradas Espécies permaneceram inalteradas em Maria Santíssima desde que, na Última Ceia, as recebera pela primeira vez?
Desde o início da vida pública de Jesus Cristo, a Virgem Santíssima ardia em desejo de que seu Filho instituísse, o quanto antes, o Sacramento da Eucaristia, o qual seguramente já Lhe tinha sido revelado. As bodas de Caná pareceram-Lhe ocasião apropriada para isto e, assim, quando o vinho veio a faltar, Maria dirigiu-Se aos criados e ordenou-lhes: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).1
Mas, ainda não era o momento: “Mulher, minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4) — respondeu Jesus. Somente três anos mais tarde, na véspera de Sua Paixão, Nosso Senhor iria dar à Sua Mãe esse celeste alimento.
Paraíso terrestre do novo Adão
Quão dura deve ter sido a espera de Nossa Senhora até poder receber as Sagradas Espécies! Todavia, o Filho também não via chegar o instante de retornar a esse materno e santíssimo claustro, que foi durante nove meses Sua puríssima mansão. Pois afirma São Luís Maria Grignion de Montfort: “Digo com os santos que Maria Santíssima é o paraíso terrestre do novo Adão, no qual este se encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incomparáveis. É o grande e o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis”.2
Com efeito, Deus deu para Adão o Éden, onde grassa todo gênero de maravilhas: flores e plantas aromáticas, animais, pedras preciosas... Para os santos e bem-aventurados, reservou um lugar tão superior em natureza a este mundo que foi chamado de Céu Empíreo, isto é, “de fogo”. E, para Si, criou um Paraíso tão sublime e atraente que torna os outros meras prefiguras: Maria Santíssima.3
Assim, como veremos a seguir, quando Nossa Senhora acolheu em seu interior o adorabilíssimo Filho sob as Espécies Eucarísticas pela primeira vez, estas não se desfizeram mais dentro dEla.
Permanência miraculosa das Sagradas Espécies
As Sagradas Espécies são, pela própria natureza de sua matéria, tão corruptíveis e passíveis de deterioração como o pão e o vinho comuns.
Na hora da Comunhão, elas “se desfazem pouco tempo após terem sido recebidas, cessando nelas a presença de Cristo”. Mas, como afirma o padre Gregorio Alastruey no seu conceituado Tratado de la Virgen Santísima, fora deste modo ordinário e comum, “pode existir um outro modo miraculoso e singular, pelo qual se mantenham incorruptas as Sagradas Espécies, continuando Cristo a estar presente no comungante”.4
Assim acontecia, por exemplo, com Santo Antônio Maria Claret, em cuja autobiografia lemos: “No dia 26 de agosto de 1861, enquanto rezava na igreja do Rosário, na Granja, às dezenove horas, o Senhor concedeu-me a grande graça da conservação das Espécies Sacramentais e de ter sempre, dia e noite, o Santíssimo Sacramento no peito”.5
Graça singular e adequada para a Mãe de Deus
Ora, ensina a Igreja que Cristo cumulou Sua Mãe, “mais do que a todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade”.6 Porque, como afirma Alastruey: “todo tipo de graça que se concedeu a outros de forma fragmentada e incompleta, foi dado à Bem-aventurada Virgem em conjunto e de modo perfeito, como convinha à Mãe de Deus, a fim de que estivesse ornada de toda a formosura das graças e dos dons concedidos aos outros justos”.7
A isto se acrescenta que, tendo sido Maria constituída, por livre disposição de Deus, “Dispensadora univesal de todas as graças que se concederam ou se concederão aos homens até o fim dos séculos”,8 convinha a Ela possuir todos os dons que Ela mesma haveria de distribuir aos homens.
Assim, se grandes heróis da virtude, como o fundador dos Claretianos, foram favorecidos com a permanência de Jesus Eucarístico no seu peito, não poderia Nossa Senhora ter deixado de receber em grau sumo graça tão singular e tão adequada para a Mãe de Deus.
Será, então, descabido considerar que as Sagradas Espécies permaneceram inalteradas em Maria Santíssima, desde o momento em que, na Última Ceia, as recebera pela primeira vez até a hora da Assunção?
A piedade e a razão levam-nos a pensar que não. Antes, cremos que o título de “Perpétuo tabernáculo da Eucaristia” em nada contradiz, e até completa, as belas expressões de louvor usadas pelo Servo de Deus João Paulo II: “Mulher eucarística” e “Primeiro sacrário da História”.9
* * *
Uma consideração final. Discutem os teólogos se Maria conservou a presença das Sagradas Espécies no Céu, depois da Assunção. O assunto é cativante, mas expô-lo exigiria entrar em considerações sobre o Céu e os corpos gloriosos que fogem da matéria de hoje.
Deixemo-las para um próximo artigo e fiquemos, por enquanto, com esta “ponta de trilho” levantada pelo padre Gregorio Alastruey: “Não se pode negar a possibilidade de as Espécies Sacramentais permanecerem incorruptas no peito da Virgem Mãe de Deus, seja enquanto viveu na terra, seja no Céu; porque se Deus pode impedir que os agentes naturais externos alterem e corrompam as Espécies Eucarísticas, do mesmo modo pode preservá-las da corrupção que se segue ao influxo dos humores internos, necessários para a ação digestiva; argumento que tem seu máximo valor quando aplicado à vida do Céu, onde, pelo estado dos corpos gloriosos devem excluir-se ou ordenar-se de outro modo certas funções vitais que procedem da alma no seu grau inferior ou mais vegetativo”.10
1 Cf. ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Virgen Santísima. Madrid: BAC, 1956, p. 680-681.
2 MONTFORT, São Luís Maria Grignion de. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 32. ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 19.
3 Cf. MONTFORT, Op. Cit., p. 19-20.
4 ALASTRUEY, Op. Cit., p. 687.
5 Apud: CONTRERAS MOLINA, Francisco. San Antonio María Claret: La palabra hecha vida y misión. Madrid: BAC, 2008. (C. IV. N. 4).
6 PIO IX, Ineffabilis Deus, n. 2.
7 ALASTRUEY, Op. cit., p. 342.
8 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La Virgen Maria: Teologia y espiritualidad marianas. 2. ed. Madrid: BAC, 1997, p. 194.
9 JOÃO PAULO II. Ecclesia de Eucharistia. n. 53 e 55.
10 ALASTRUEY, Op. cit., p. 688.