quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pedindo o auxílio de Nossa Senhora

Se o  pecado é um grande mal, pior do que ele em si mesmo considerado — dizia São Francisco Xavier — é a perda da confiança em Deus e em Nossa Senhora por parte da pecador. Tal estado de espírito resulta, frequentemente, das infidelidades crônicas, das faltas cometidas no passado, da insatisfação consigo próprio.
Nessas condições, a pessoa pode pensar “Sou tão ruim, pequei tanto e, além disso, sinto-me tão medíocre, sem nenhum valor, que tenho medo de me aproximar de Nossa ‘Senhora para pedir auxilio”.
Comportar-se assim é fazer como se um daqueles dez leprosos que foram pedir a cura a Nosso Senhor, dissesse antes para consigo: “Estou tão leproso que não tenho coragem de pedir isto a Ele”. E, por causa deste receio, não procurasse Jesus. Resultado, nunca recuperaria asaúde do corpo! O correto seria pensar: “estou tão necessitado  deste milagre, que a única saída é pedi-lo com todo o empenho!”
Assim com a lepra, para aqueles homens, também nossas misérias são uma razão especial para recorrermos a Nossa Senhora. E por maior que seja o horror que tenhamos aos nossos pecados e defeitos interiores, nem por isso deixa de ser verdade que, levantando os olhos para Maria. Ela nos atenderá.
Roguemos, pois, a Nossa Senhora Auxiliadora a graça dessa inabalável confiança no seu celestial socorro, e nos será dado constatar como Ela é, até um ponto inimaginável, nosso Refúgio e Amparo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nossa Senhora de Fátima

Fátima não é um fato que interessa apenas a nosso tempo. Fátima é um marco novo na própria história da Igreja. Fátima é, queiram-no ou não o queiram, a verdadeira aurora dos Tempos Novos cujos albores não despertaram nos campos de batalha, nem nas laudas de papel de tantos escritores, mas no momento em que Nossa Senhora baixou à terra e comunicou aos três pastorinhos as lições severas sobre o crepúsculo de nossos dias, e as palavras esperançosas sobre os dias de bonança que a Misericórdia Divina prepara para a humanidade quando esta finalmente se arrepender. (…)
Aparecendo em Fátima. Nossa Senhora disse textualmente aos três pastorinhos que uma intensa devoção ao Coração Imaculado de Maria seria o meio de salvação do mundo contemporâneo.
Na sagrada Escritura, encontramos esta frase: “ Porque foram fracos, eu lhes abri uma porta que ninguém poderá fechar” Esta porta aberta para a fraqueza do homem contemporâneo, é o Coração Imaculado de Maria. Com efeito, nada nos pode dar maior confiança, esperança mais fundada, estímulo mais certo, do que a convicção de que em todas as nossas misérias, em todas as nossas quedas, não temos apenas a nos olhar o rigor de juiz, a infinita santidade de Deus, mas também o Coração cheio de ternura, de compaixão, de misericórdia, de nossa Mãe Celeste. Onipotência Suplicante, ela saberá conseguir para nós tudo quanto nossa fraqueza pede para a grande tarefa de nosso reerguimento moral. Com este Coração, todos os terrores se dissipam, todos os desânimos se esvaem, todas as incertezas se desanuviam. O Coração Imaculado de Maria é a Porta do Céu, aberta de par em par aos homens de nosso tempo, tão extremamente fracos. E esta porta, “ninguém a poderá fechar”, nem o demônio, nem o mundo, nem a carne.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Olvido, Triunfo e Misericórdia

Durante sua vida terrena, a Virgem Santíssima sofreu olvidos de toda ordem. O primeiro, e certamente dos que mais A fizeram sofrer, foi o aparente abandono dEla pelo Menino Jesus, quando deixava Jerusalém e Ele desapareceu. Essa inesperada atitude do Divino Infante motivou a celestial pergunta de Nossa Senhora, ao reencontrá-Lo entre os doutores no Templo: “Filho, por que procedeste assim conosco?”
Foi este um olvido aparente, pois Nosso Senhor nunca se esquecia de sua Mãe Virginal. Porém, de modo análogo, em outros momentos de sua vida Maria Santíssima pareceu esquecida, e como que não se dava importância a Ela. O mesmo ocorre, aliás, com os que amam e seguem Nossa Senhora. Por vezes, passam por situações em que têm a impressão de que todos se esquecem deles e não lhes reconhecem o merecido valor.
Seja como for, importa que esses devotos da Virgem sigam, no aparente esquecimento, o excelso exemplo de sua divina Mãe. Com efeito, sem se deixar abalar pelos pretensos descasos e olvidos, prosseguia Ela tranquilamente sua trajectória, até chegar o momento das grandes glorificações: a Ressurreição de seu Divino Filho, a sua Ascensão aos Céus, Pentecostes, a Dormição gloriosa dEla e, por fim, a Assunção.
Somente após o seu celebrado ingresso no Céu, onde foi coroada Rainha do Universo, a ação de Nossa Senhora e o culto a Ela começaram a se estender e se multiplicar pelo mundo inteiro. A tal ponto que, sem haver uma Iei eclesiástica determinando que seja posta uma imagem de Nossa Senhora, obrigatoriamente, em todas as igrejas, o impulso de alma mais profundo de todos os fiéis tende para isso, tornando desnecessária a obrigatoriedade desse costume. O que é ainda mais glorificante para a Mãe dc Deus. E assim, em qualquer igreja que se entre, sob as formas e as invocações mais variadas, seja sob o aspecto de pinturas, de mosaicos ou esculturas, nunca falta uma imagem bem visível de Nossa Senhora.
E a glorificação dEla. Entretanto, o ápice de seu triunfo será no dia do Juízo Final, quando Ela aparecerá em toda a sua pompa e majestade, ao lado de seu Divino Filho, aclamada por todos os justos, enquanto os réprobos serão humilhados. E terminada essa magna hora da justiça de Deus, São Miguel Arcanjo e os Anjos fiéis executarão, com todo o zelo, a ordem de lançar no inferno os condenados ao fogo eterno.
Portanto, para os que sabem suportar o olvido, virá depois a glória, o triunfo e a misericórdia.
Pensamento este que se aplica, em certo sentido, à devoção a Nossa Senhora de Fátima. Na verdade, Fátima teve no começo seu momento de triunfo, e agora passa por um olvido. O ciclo é inverso, há-de chegar o dia da misericórdia. Mas, esse dia não virá sem novo triunfo. Pois a Virgem Santíssima prometeu: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Aurora da confiança

Em geral, a devoção viva e verdadeira a Nossa Senhora se inicia por uma espécie de permuta de bons ofícios entre ela e o fiel.
Vendo-se em apuros, a pessoa pede a Nossa Senhora para ser salva. E a Mãe de Misericórdia, ao ajudar, opera algo – na ordem da graça – na alma do socorrido, fazendo-a adquirir uma vivência da sua solicitude maternal, risonha, afável e bondosa. Assim, nasce no espírito do fiel a fervorosa esperança de ser novamente atendido em outras circunstâncias difíceis.
Esse insistente suplicar de graças – sobretudo a do perfeito amor a Deus – vai num crescendo, em que Nossa Senhora se torna sempre mais exorável, mais materna, de uma assistência mais meticulosa, à medida que a pessoa progride no contato com essa providência risonha e afável d’Ela para com cada um de nós.
Às vezes, pedimos a Nossa Senhora verdadeiras bagatelas, ninharias, que Ela nos concede como a mãe que deseja dar a seus filhos coisas grandes e pequenas, e tem um sorriso particularmente afectuoso para as menores solicitações.
Inicia-se então uma espécie de aurora da confiança, da profunda compreensão de nossas relações com Nossa Senhora. E ainda que a alma passe por longas e duras provações, por extensos períodos de aridez e dificuldades, algo dessa compreensão e dessa confiança permanece imutável. É como uma luz que nos acompanha a vida inteira, até a hora da morte, e mesmo nos últimos e mais amargos transes de agonia.
Não raras vezes suplicamos algo que não está nos desígnios de Nossa Senhora conceder. Contudo, se Maria Santíssima não nos atende, Ela nos dá, entretanto, força de alma para suportar a carência do que não recebemos. Passados os dias de provação, veremos que Maria nos galardoou com algo incomparavelmente melhor do que aquilo que anteriormente Lhe havíamos solicitado.
Portanto, ao apresentarmos nossos pedidos e oferendas a Nossa Senhora devemos fazê-lo com total esperança de que Ela condescenda conosco. Se assim não procedermos, nossa devoção para com Ela jamais será perfeitamente verdadeira.
Em nosso relacionamento com a Santíssima Virgem, importa que tenhamos o desembaraço, a intimidade de filhos que, apesar de por vezes constristá-La, apresentam-se com toda a confiança, certos de obter o auxílio e o sorriso da melhor de todas as Mães.
É este o ponto de partida inefavelmente suave de uma ardente devoção a Nossa Senhora.
Queira, pois, a Rainha dos Corações nos outorgar a graça dessa doçura especial no amor a Ela.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Coração materno

Ora, se ao coração materno é próprio a bondade, a meiguice, a generosidade, a indulgência, porque se inclina, de modo particular, a essas disposições, o Coração Imaculado de Maria representa esse afeto e essa doçura maternais para conosco, num grau inimaginável. Como bem o frisou São Luís Grignion de Montfort, o amor d’Ela para conosco é incomparavelmente maior que a soma do amor de todas as mães do mundo por um único filho. E cumpre dizer: Nossa Senhora ama com solicitude especial os justos, mas possui igualmente um carinho terníssimo para com os pecadores, conforme atesta a tocante oração do “Lembrai-Vos...”.
Nossa Senhora é, pois, a Mãe que aceitou sacrificar o próprio Filho por nós. Por todos e cada um de nós!

domingo, 18 de setembro de 2011

Oração de Nossa Senhora

Podemos tirar lições para nossa vida espiritual tanto do fato de a oração de Nossa Senhora ter apressado a vinda do Messias, quanto de ter Ela recebido do Pai Eterno sua fecundidade.
Considerando Nossa Senhora capaz de, com sua prece, apressar a vinda do Messias, que ensinamentos podemos tirar? Devemos primeiramente analisar a Santíssima Virgem no seu zelo pela causa de Deus.
Em sua oração, Ela certamente observava a situação de extrema miséria moral em que caíra o povo eleito. Nessa prece Ela desejava ardentemente, pois, que Israel fosse reerguido à sua antiga condição. Considerava ainda a decadência da humanidade, sabendo melhor que ninguém quantas almas estavam se perdendo naquela era pagã, e vendo Satanás imperar sobre o mundo antigo.
Maria Santíssima fez, então, na Terra, o papel de São Miguel Arcanjo no Céu: sua oração, pedindo que Deus viesse ao mundo, equivale ao Quis ut Deus? — Quem como Deus? — do Arcanjo. É Ela que se levanta contra esse estado de coisas; é só Ela que tem a súplica bastante poderosa para desferir um golpe que tudo transforma.
Então, a plenitude dos tempos se encerra: Nosso Senhor Jesus Cristo nasce, e toda a humanidade é reconstruída, regenerada, elevada e santificada. As almas começam a se salvar em profusão, as portas do Céu se abrem, o inferno é esmagado, a morte é destruída, a Igreja Católica floresce sobre toda a face da Terra. E tudo como efeito da oração de Nossa Senhora.
Não é verdade que Nossa Senhora, também sob este aspecto, se apresenta a nós como um verdadeiro modelo? Não devemos querer em nossos dias a vitória de Nosso Senhor, como Maria Santíssima a desejou em sua época? Não há uma analogia absoluta entre o ardor com que Ela quis a instauração do Reino de Cristo na Terra, e o fervor com que o devemos desejar em nossos dias? Não é verdade que, se a oração d’Ela foi necessária para a realização da Encarnação, é indispensável também para que consigamos em nossa época a vitória de Jesus Cristo no mundo? Quando nos esfalfamos na luta pela vitória de Jesus hoje, lembramo-nos de rezar a Nossa Senhora? Quando rezamos a Ela, nos recordamos de pedir essa graça?
Não seria uma boa prece se, por exemplo, ao contemplarmos o Mistério da Anunciação durante a primeira dezena do Rosário, tivéssemos em mente Nossa Senhora que pede a vinda do Salvador? E rogássemos a Ela que Jesus Cristo novamente triunfe no mundo, com uma futura vitória da Igreja Católica? Não temos aí uma boa aplicação desse Mistério para a vida espiritual? Não é assim que esta última deve ser vista, vivida e conduzida? Isto não é muito mais sólido que um arrastado murmúrio piedoso?
Sem dúvida, é com essas verdades de Fé que se alimentam a piedade e toda a vida espiritual.
Contemplemos Nossa Senhora apressando, com sua oração, a vinda do Messias. Ora, se Nosso Senhor vem a nós também no momento da Comunhão, podemos e devemos pedir à Virgem Maria, quando nos preparamos para receber seu Divino Filho, algo dos sentimentos com que Ela O acolheu no momento da Encarnação.
E se desejamos obter para alguém a graça da comunhão diária, não será útil pedir a Nossa Senhora que consiga para aquela alma a recepção quotidiana de Nosso Senhor, lembrando-A da eficácia da prece com que Ela obteve a vinda de Jesus Cristo para o mundo?
Consideremos, por outro lado, a participação de Nossa Senhora na fecundidade do Padre Eterno para gerar membros do Corpo Místico de Cristo. Todo fiel é um membro deste Corpo Místico. Quando passamos perto de algum batistério, devemos nos lembrar de fazer uma oração à Santíssima Virgem, rogando- Lhe que nos conserve, até o momento da morte, na correspondência à graça do Batismo e nela nos confirme a vida inteira. Foi junto a uma pia batismal que entramos para o seio da Igreja Católica, nascemos para a vida sobrenatural e, pela prece de Nossa Senhora e a fecundidade de Deus Nosso Senhor, fomos gerados membros do Corpo Místico de Cristo, do qual Maria é verdadeira Mãe.
E se nos lembrarmos, ainda, de que nascemos para a vida da graça pela mesma onipotente intercessão da Santíssima Virgem, teremos então que tudo nos permite de pedir a Ela nos conserve nas celestiais dádivas do Batismo, e que as cumule com a virtude do senso católico — coroação dessa união extremamente íntima com Cristo.
A piedade deve consistir em formar disposições de espírito que tenham base nesses princípios ensinados pela Igreja e pela Teologia, e não em meros sentimentos. Tais ensinamentos engendram um amor a Nossa Senhora muito sério e muito sólido. Assim é que se constrói a verdadeira devoção a Maria e se alicerça a autêntica vida espiritual.
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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Bendito o dia que viu Nossa Senhora nascer!


O nascimento de Nossa Senhora trouxe para a humanidade um valor que, devido à falta de nossos primeiros pais, era então desconhecido: uma criatura isenta de qualquer mancha, um lírio de incomparável formosura que deveria alegrar os coros angélicos e a terra inteira. Era, em meio ao exílio do gênero humano corrompido, o aparecimento de um ser imaculado, concebido sem pecado original.
Considere-se ainda que Nossa Senhora trazia consigo todas as riquezas naturais que podem caber numa mulher. Deus lhe concedeu uma personalidade valiosíssima, e, a esse título também, sua presença entre os homens representava um tesouro verdadeiramente incalculável.
Entretanto, se aos dons naturais acrescentarmos os tesouros das graças incomensuráveis que com Ela vinham, as maiores que Deus Nosso Senhor tenha concedido a alguém, podemos compreender o enorme significado de seu advento ao mundo. O nascer do sol é uma pálida realidade em comparação com a resplandecente aurora que foi o aparecimento de Nossa Senhora nesta terra! A entronização mais solene que se possa imaginar de um rei ou de uma rainha, ou os fenômenos da natureza mais grandiosos, nada são diante do nascimento de Maria, momento bendito certamente saudado pela alegria de todos os Anjos do Céu, e pode-se conjecturar que tenha provocado inusitados sentimentos de júbilo nas almas retas esparsas pela terra.
Esse sentimento de alegria bem pode ser expresso com uma paráfrase das palavras de Jó: “Bendito o dia que viu Nossa Senhora nascer, benditas as estrelas que A viram pequenina, bendito o momento em que veio ao mundo a criatura virginal destinada a ser Mãe do Salvador!”
O início de nossa redenção
Se se pode dizer que a redenção dos homens teve início com o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, pode-se afirmar que o mesmo se aplica — guardadas as proporções — à natividade de Nossa Senhora. Pois tudo quanto o Salvador nos trouxe, começou a nos vir com Aquela que O daria ao mundo.
Daí se compreendem todas as esperanças de salvação, de indulgência, de reconciliação, de perdão e de misericórdia que se abriram, afinal, para a humanidade, naquele bendito dia em que Maria nasceu nesta terra de exílio. Feliz e magnífico momento, marco inicial de uma existência insondavelmente perfeita, pura, fiel, e que seria a maior glória do gênero humano em todos os tempos, abaixo apenas de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado.
Afirmam muitos teólogos que, concebida sem pecado original, Nossa Senhora foi dotada do uso da razão desde o primeiro instante de seu ser. Vivendo no seio de Sant’Ana como num tabernáculo, já tinha, portanto, altíssimos e sublimíssimos pensamentos.
Pode-se traçar um paralelo dessa situação com o que narra a Sagrada Escritura a respeito de São João Batista. Ele, que fora engendrado no pecado original, ao ouvir a voz de Nossa Senhora saudando Santa Isabel, estremeceu de alegria no seio de sua mãe.
É possível, assim, que a Bem-aventurada Virgem, com a altíssima ciência que recebera pela graça de Deus, já no seio de Sant’Ana tenha começado a pedir a vinda do Messias, estabelecendo-se, em seu espírito, o elevadíssimo intuito de vir a ser, um dia, a servidora da Mãe do Redentor.
De qualquer modo, sua presença na terra era uma fonte de graças para todos os que d’Ela se aproximavam, quando ainda se encontrava no seio de Sant’Ana, e mais ainda depois de seu nascimento. Se da túnica de Nosso Senhor, como conta o Evangelho, irradiavam-se virtudes curativas para quem a tocasse, quanto mais da Mãe de Deus, Vaso de Eleição!
Recém-nascida e já vitoriosa sobre o demônio
A vinda do Salvador seria a derrota de todo o mal no gênero humano. Portanto, no bendito momento do nascimento da Santíssima Virgem, a vitória do bem começou a ser afirmada e o demônio a ser esmagado, ele mesmo percebendo que algo de seu cetro estava irremediavelmente partido. Era Nossa Senhora já começando a influir nos destinos da humanidade.
O mundo de então achava-se prostrado no mais radical paganismo. Uma situação em tudo parecida com a de nossos dias: todos os vícios imperavam, todas as formas de idolatria tinham dominado a terra, e a decadência ameaçava a própria religião judaica, que era o prenúncio da religião católica. Por toda parte, o erro e o demônio eram vitoriosos.
Porém, no momento decretado por Deus em sua misericórdia, Ele derruba a muralha do mal, fazendo nascer Nossa Senhora. E com a vinda d’Ela — que era a raiz de Jessé, da qual nasceria o divino lírio, Nosso Senhor Jesus Cristo — tinha início a irreversível destruição do reino de satanás.
“Nascimento” de Maria em nossa vida espiritual ...
Esse triunfo de Nossa Senhora sobre o mal, já por ocasião do nascimento d’Ela, sugere-nos outra reflexão.
Quantas vezes, em nossa vida espiritual, vemo-nos imersos na luta contra as tentações, contorcendo-nos e nos revolvendo em dificuldades! E não temos idéia de quando virá o bendito dia em que uma grande graça, um insigne favor, colocará fim a nossos tormentos, a nossas lutas, e, afinal, nos proporcionará um grande progresso na prática da virtude.
É então que se verifica um como que nascimento da Santíssima Virgem em nossa alma. Na noite das maiores provações e das mais espessas trevas, Ela surge e desde logo começa a vencer as dificuldades com que nos defrontamos. Nesse momento, Ela se levanta também como uma aurora em nossa existência e, em nossa vida espiritual, passa a representar um papel até então desconhecido por nós.
Esse pensamento nos deve encher de alegria e de esperança, e nos dar a certeza de que Nossa Senhora nunca nos abandona. Nas horas mais difíceis por que passamos, Ela como que irrompe entre nós, resolve todos os nossos problemas, alivia nossas dores, e nos dá a combatividade e a coragem necessárias para cumprirmos nosso dever até o fim, por mais árduo que este seja.
A maior consolação que Ela nos traz é, precisamente, o fortalecer nossa vontade, para empreendermos a luta contra os inimigos da nossa salvação.
... e nas tramas da história
Como nos fortalece, também, para nos tornarmos zelosos filhos da Igreja e defensores da religião católica. Elementos históricos existem para se poder afirmar que todas as grandes almas que combateram as diversas heresias, ao longo dos séculos, foram especialmente suscitadas por Nossa Senhora. É o que insinua, de modo muito bonito, o brasão dos claretianos, onde, além do Imaculado Coração de Maria, figuram São Miguel Arcanjo e a divisa: Os filhos d’Ela se levantaram e A proclamaram Bem-aventurada.
Esse levantar dos devotos da Santíssima Virgem para glorificá-La não é também uma forma de nascimento d’Ela, como magnífica aurora, nas tramas da história?
Assim, os verdadeiros filhos de Nossa Senhora devem desejar e pedir a Ela a graça de serem indomáveis e implacáveis contra o demônio e seus sequazes que, em nossos dias, procuram conspurcar a glória da imortal Igreja de Cristo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Por vossa bondade, salvai-me!

Ó clemente, piedosa, doce e sempre Virgem Maria, rogai por nós, porque somos tudo o que somos, mas Vós sois tudo o que sois. Concebida sem pecado, nunca tivestes a menor falta, nunca deixastes de progredir em graça e virtude, na medida inteira que se esperava de Vós. Sois a Virgem de uma virgindade insondavelmente preciosa. Sois a Mãe de Deus, a Filha do Pai Eterno, a Esposa do Divino Espírito Santo.
Tendes tudo para ser atendida, e sois cheia de misericórdia para com os pecadores. Um destes sou eu, que me ajoelho a vossos pés, a Vos suplicar: perdoai-me! Não olheis para os meus pecados mas para a vossa bondade. Olhai para o sangue que vosso Divino Filho derramou a fim de que eu fosse salvo. Pensai nas lágrimas que Vós mesma vertestes pela minha redenção. Assim, ó Mãe misericordiosa, não por meu mérito, mas por vossa bondade, salvai-me!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Como flor nas mãos do jardineiro

A piedade de todo católico deve ser profundamente séria e respeitosa, mas, ao mesmo tempo, repassada de confiança sem limites em Nossa Senhora, principal intercessora junto a Deus para nos alcançar a perfeição espiritual. N’Ela devemos confiar como uma flor (se dotada de inteligência) o faria em relação ao jardineiro: convicta de que este a regará quando houver necessidade, a protegerá do sol, a colocará na estufa quando o tempo for adverso, enfim, por ela realizará tudo. Assim cumpre ser nossa entrega nas mãos de Maria Santíssima, sabendo-A infatigavelmente acessível, solícita, bondosa, pronta a nos atender e socorrer a qualquer momento, desde que o supliquemos, como a mãe repleta de desvelo, o dia inteiro, junto ao filho estremecido.

sábado, 10 de setembro de 2011

Visita de Nossa Senhora à santa Isabel

Episódio sumamente rico em importantes aplicações para nossa vida espiritual, a Visitação de Nossa Senhora nos mostra como Santa Isabel, prima da futura Mãe de Deus, teve um conhecimento imediato de que o Messias se achava ali presente, encarnado no seio puríssimo de Maria. Ela o soube, não só por uma inspiração da graça, mas também por uma espécie de sentimento, de percepção do divino, excelentes, que a fizeram discernir a presença de Jesus. Essa percepção, esse sentimento, cada católico deveria ter — em grau proporcionado — para amar todas as coisas que sejam segundo Deus, e para rejeitar aquelas que Lhe são contrárias.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

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 Consolar não é apenas enxugar o pranto de quem chora. É muito mais do que isso. É também dar força, ânimo e decisão. Pode-se, portanto, dizer que Nossa Senhora é a “Decisão dos aflitos”.

Rainha do Conselho

Nossa Senhora foi o oráculo vivo que São Pedro consultou nas suas principais dificuldades, a estrela que São Paulo não cessou de olhar para se dirigir em suas numerosas e perigosas navegações — afirma um piedoso autor a propósito das relações de Maria com a pregação da Igreja nascente. Esse papel inspirador da Virgem Santíssima nos sugere cenas de rara beleza. Por exemplo, Ela tendo a seu lado São Pedro, São Paulo ou São João Evangelista, explicando, interpretando e os ajudando a compreender os fatos da vida de Nosso Senhor, realçando este ou aquele episódio, espargindo assim o aroma do bom espírito que perfumava a Igreja inteira. Não sem razão, portanto, se A exalta no Cantus Marialis como a Rainha da prudência e do conselho, vaso de eleição, de ortodoxia, sabedoria e santidade.

domingo, 4 de setembro de 2011

Auxílio dos cristãos

Errônea concepção da vida sem caridade
 
No mundo contemporâneo não é raro que alguém se deixe levar pela idéia de que os relacionamentos devem se basear numa troca de direitos e deveres, exclusivamente. Ou seja, cada homem tem determinados direitos que implicam em deveres de outrem para com ele. Uma vez respeitados tais direitos, o homem tem suas necessidades atendidas.

Portanto, o ato de bondade, de caridade, de amor ao próximo, inteiramente gratuito, não tem razão de ser. Se os direitos não são acolhidos, cumpre exigi-los, como se cobra uma letra de câmbio. Consoante tal mentalidade, todas as relações humanas se reduziriam a um sistema de cheques. Então, a verdadeira noção de caridade — que compreende prestações de serviço realizadas por amor, bondade, simpatia, a concessão gratuita de vantagens, etc. — desaparece. Mais ainda. Atrapalha a vida social, fundamentada na estrita justiça, transtorna o convívio dos homens, baseado num jogo de exigências. Se alguém pretendesse receber mais do que lhe é necessário, o indivíduo infectado por essa concepção responderia: “Dou-lhe aquilo a que apenas tem direito. Se quiser mais, mereça!”

Se uma pessoa transpõe esse modo de ver as coisas para a ordem sobrenatural, dirá: “Não compreendo a misericórdia de Deus para comigo, pois Ele está disposto a me perdoar e a me ajudar, mesmo quando não O agrado. Se agi mal, que Ele me puna, pois é a atitude lógica. Caridade, bondade... são coisas que não têm sentido. Baseio-me nos meus direitos, os quais Deus precisa atender.”

Socorro baseado numa relação impregnada de bondade

Ora, essa não é a mentalidade com a qual devemos considerar nossa vida terrena, e muito menos a nossa vida de piedade, nosso relacionamento com Deus.

Com efeito, o convívio humano, quando bem entendido e praticado, fundamenta-se em grande parte na solicitude e na compaixão de uns para com os outros, sobretudo dos que têm mais em relação aos que têm menos. Que dizer, então, do trato de Deus conosco? Esse comércio tem como um dos seus fatores preponderantes a bondade, e bondade gratuita, a efusão de caridade, de misericórdia, compaixão, assistência contínua. E diante de Deus, devemos nos sentir pequeninos, impotentes, encontrando a razão de esperar clemência em nossa própria pequenez, até em nossa fraqueza quando pecamos.

Deus nos amou gratuitamente, e quer de nós que também O amemos. Estamos cumulados de dívidas, e o único meio de saldá-las consiste em manifestarmos esse amor e essa adoração a Deus. Em segundo lugar, compreendendo humildemente que necessitamos da ajuda divina, como o filho depende do pai, sem estar fazendo grandes contabilidades, e sim recebendo tudo d’Ele — eu diria — com uma espécie de santa sem-cerimônia.

Com esse pressuposto, entendemos melhor o fundamento do título de Nossa Senhora Auxiliadora. Pois o que se diz sobre a infinita bondade de Deus para conosco, devemos dizê-lo da insondável solicitude de Maria em relação a seus filhos. Ela nos ajuda a todo momento, nos dispensando misericórdia e favores aos quais não teríamos direito, e nos concede tudo isto com uma superabundância de amor, de sorrisos, de perdão, muitas vezes dando-nos o que não pedimos, ou mais do que rogamos, e até movendo nosso coração para aceitar benefícios que não queríamos receber.

Portanto, a idéia do auxílio de Nossa Senhora está toda pervadida pelo princípio de que as relações entre o homem e Deus são baseadas não apenas na justiça, mas em larguíssima parte na misericórdia, na generosidade sem limites, na benevolência e na gratuidade de favores.

Razões a mais para nunca deixarmos de invocá-La: Auxílio dos Cristãos, rogai por nós.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Breve história de Nossa Senhora de Coromoto

Nossa Senhora de Coromoto é a Padroeira da Venezuela, venerada de modo particular na cidade de Guanare, onde apareceu há 354 anos. Quando os espanhóis chegaram a essa região, em 1591, um grupo de índios da tribo dos Coromotos decidiu abandonar sua terra e fugir para a selva próxima ao rio Tucupido, dando as costas à evangelização que a Igreja Católica começara a empreender entre eles.
Seis décadas mais tarde, num dia de 1652, o cacique Coromoto e sua mulher atravessavam uma corrente de água quando viram uma Senhora de extraordinária beleza, levando nos braços um menino igualmente esplendoroso. A Senhora lhes disse no seu idioma: “Dirijam-se à casa dos brancos e peçam que lhes derramem a água sobre a cabeça (o batismo), para que possam alcançar o céu.”
Algum tempo depois, um espanhol chamado João Sanchez viajava por aquela mesma região quando o cacique Coromoto lhe vem ao encontro, relata a visão que tivera da bela Senhora e as palavras que dela ouvira.
João Sanchez combinou com o índio o necessário para que toda a tribo fosse instruída na doutrina cristã e recebesse as águas do batismo. De fato, vários indígenas foram batizados, não porém o cacique, o qual, acostumado à liberdade dos bosques, não conseguia se adaptar ao novo regime de vida. Junto com sua família, retornou à existência na selva.
Entretanto, no dia 8 de setembro de 1652, sábado, Nossa Senhora aparece novamente para o índio na sua choça, em presença da sua mulher, sua cunhada Isabel e um sobrinho desta. O cacique pega o arco e a flecha para matá-la. Tendo a Virgem Maria se aproximado, Coromoto larga o arco e tenta agarrá-la. Mas, no exato momento em que ia ser tocada, Nossa Senhora desaparece, deixando nas mãos do índio um pergaminho com sua imagem. O sobrinho da cunhada Isabel saiu correndo para avisar a João Sanchez do sucedido. Este, com mais dois companheiros, dirigiu-se ao local da aparição e recolheu a preciosa relíquia.
No dia seguinte, acompanhado por alguns de seus índios, o cacique tentou uma fuga para os montes. Contudo, ao embrenhar pelo bosque foi mordido por uma cobra venenosa. Vendo-se mortalmente ferido e conhecendo nisto um castigo do Céu pela péssima conduta que tivera diante da excelsa Senhora, começou a se arrepender, suplicando em altas vozes que lhe administrassem o santo batismo. A divina Maria, que tanto fizera pela conversão dos índios e seu cacique; Ela, canal de todas as graças, alcançou para o moribundo a regeneração pelas salvadoras águas batismais. Por especial providência de Deus, passava por ali um católico da cidade de Barinas, que imediatamente o batizou. O cacique recomendou aos índios que se mantivessem com os brancos e, resignado, em meio a acerbas dores, rendeu o último suspiro.
Atualmente, o pergaminho com a imagem, encerrado num belíssimo relicário de ouro, brilhante e de pérolas, encontra-se no Santuário Nacional Nossa Senhora de Coromoto, erguido no lugar da segunda aparição, e inaugurado com a solene Eucaristia presidida pelo saudoso Papa João Paulo II, em 10 de Fevereiro de 1996.