terça-feira, 31 de maio de 2011

Convicção e resolução em nosso amor, não mera sensibilidade...

 Vemos como seria tolo dizer que há secura na piedade. A inteligência ilumina, a vontade quer, e a sensibilidade acompanha o preito de amor da vontade. E se acaso a sensibilidade não acompanhar, não terá maior importância, pois o ato de amor estará feito. O amor reside na vontade.
Não se trata, portanto, de experimentar uma espécie de consolação sensível, sentir o trêmulo da comoção, para só então rezar. Importa, sim, ter convicção e resolução. A Fé nos ensina que Nossa Senhora é imensamente bondosa, e por isso recorremos a Ela com confiança. É uma consideração racional, que não nasceu da sensibilidade. Essa atitude racional na oração, a construção de uma piedade toda ela alicerçada sobre convicções recebidas da Fé, que a razão manipula, isso sim é verdadeiramente a seriedade na vida espiritual. O que desejamos é produzir convicções profundas, construir uma estrutura de espírito útil à vida de piedade, e não apenas fabricar uma faísca passageira de emoção mariana.
União inexprimível entre Mãe e Filho
São Luís Grignion lembra, entre outras coisas, que Nosso Senhor, no período de sua gestação, enclausurou-se no ventre puríssimo de Nossa Senhora, e aí encontrou para si um tabernáculo admirável, “como Adão no Paraíso”. Estando no seio virginal de Nossa Senhora, Jesus encontrou todo o necessário para suas delícias espirituais: havia ali um ambiente, uma atmosfera que Lhe eram perfeitos, graças às virtudes excelsas de Maria Santíssima. Durante este período, Nosso Senhor teve com Ela uma união verdadeiramente incomparável.
 Neste período Nossa Senhora vai fornecendo sua própria carne e seu próprio sangue para a formação do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Durante esse tempo, havia uma atividade em extremo íntima entre Ele e Ela, sendo preciso notar que Nosso Senhor teve o uso da razão desde o primeiro instante do seu ser. Ele, portanto, vivia em Nossa Senhora dispondo já completamente de sua inteligência. Podemos imaginar a intimidade entre Eles e o alto grau de cada ato de amor? A cada colaboração que Ela prestava para a formação de seu corpo, correspondia da parte d’Ele uma série de graças a Ela concedidas. Durante a gestação de Nosso Senhor havia, portanto, entre Ele e sua Mãe, uma união verdadeiramente inexprimível e de uma sublimidade incomparável.
Em que sentido a consideração dessa união nos pode ser benéfica?
 O homem, na Igreja Católica, encontra-se diante de um firmamento de verdades. E assim como, colocados diante do céu físico, contemplamos inúmeras pulcritudes que enriquecem nossa alma, no universo de verdades da Santa Igreja poucas maravilhas podemos considerar tão grandes quanto a intimidade de uma alma inteiramente humana, como era a de Nossa Senhora, com Nosso Senhor Jesus Cristo, durante o tempo da sua Encarnação.
Assim, nos é dado ter uma idéia da intimidade que também nós podemos adquirir, pela nossa santificação, com Nosso Senhor; faz-nos compreender um pouco o que é a vida da graça, e faculta-nos a apetência de uma maior união com Jesus Cristo.
Essas considerações não podem ficar no vácuo. Na vida espiritual devemos propriamente desejar esses dons sobrenaturais, a união com Deus e os bens eternos!

domingo, 29 de maio de 2011

Dediquemos mais tempo a Nossa Senhora

Há aplicações maravilhosas para a nossa espiritualidade a tirar desse fato: Nosso Senhor vivendo trinta anos sob a dependência de Nossa Senhora.
Em nossa vida de piedade, por exemplo, que importância damos, respectivamente, à nossa união com a Virgem Santíssima e ao nosso apostolado? Temos a impressão de que este é muito mais importante que a nossa união com a Mãe de Deus, de tal modo que dedicamos nosso quarto de hora de oração a Ela, e, o restante do tempo a nosso “enorme” apostolado?
Nosso Senhor nos dá exemplo do contrário. Tempo dado à união como Nossa Senhora: trinta anos; ao apostolado: três.
Podemos bem compreender o que representa de homenagem — “homenagem” de um Deus, a palavra parece até absurda —, de glória para a Virgem, o Verbo Encarnado vir ao mundo e passar trinta anos junto d’Ela, dedicando apenas três à realização de sua missão. E entender o que significa a graça de estar junto de Maria Santíssima.
Assim sendo, quando vamos fazer uma visita a uma imagem de Nossa Senhora numa igreja, podemos nos unir a esses sentimentos de Nosso Senhor. Convém que, amiúde, interrompamos nossas atividades, e entremos numa igreja para fazer uma visita a Maria Santíssima com esta intenção: imitar Nosso Senhor, que não se apressou em iniciar desde logo sua vida pública, mas consagrou trinta anos a estar junto de Nossa Senhora. Vou seguir seu exemplo; por isso peço-Lhe que, dada minha impossibilidade de agradar como devo a Nossa Senhora, que Ele A agrade por mim neste momento. Quando me coloco diante do tabernáculo, devo pedir a Nosso Senhor a graça de que, em meu nome, Ele trate Nossa Senhora como eu gostaria de fazê-lo, embora seja incapaz.
Eis uma boa visita ao Santíssimo Sacramento e a Nossa Senhora. Com isto se constrói uma vida espiritual digna desse nome. Mas é preciso que sempre tenhamos em mente todas essas idéias, esses princípios, para que possamos utilizá-los quando as ocasiões se apresentarem.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Nossa Senhora, Mãe da Divina Providência

O amor de Nossa Senhora pelas almas faz com que a Divina Providência lhes outorgue, através das mãos d’Ela, abundantes graças nas mais difíceis situações. Maria é Mãe de Deus e usa dessa condição para favorecer a cada um de nós.
Razão de nossa confiança
Na verdade, em meio ao nosso peregrinar por esta terra de exílio, a razão de nossa confiança é a tutela da Providência Divina, exercida por meio de Nossa Senhora. Deus provê a cada um de nós em nossas necessidades espirituais e temporais, a fim de realizarmos aquilo para o que fomos criados, ou seja, cumprirmos nossa vocação.
Podemos nos perguntar por que Nossa Senhora é chamada a Mãe da Divina Providência. Ela o é, não por ter gerado a Providência Divina, e sim porque, segundo os desígnios do Altíssimo, está destinada a aplicar maternalmente os decretos d’Ele. Donde o governo de Deus sobre nós se fazer com uma plenitude de carinho, de comiseração, de afeto, que esgota de modo completo tudo quanto o homem possa imaginar.
O fato de termos uma Mãe que dirige nossa vida espiritual, nosso apostolado, nossas ações diárias é, pois, o motivo superior pelo qual confiamos.
São Caetano de Tienne terá sido de certo modo quem levou mais longe a confiança na Providência Divina. Com efeito, proibiu aos religiosos da ordem fundada por ele, que pedissem esmola: quando os teatinos precisavam de alguma coisa, deveriam ficar na rua, em atitude de oração a Nossa Senhora, certos de que Ela os atenderia. Quer dizer, colocavam-se inteiramente nas mãos da Divina Providência.
Sublime misericórdia do amor materno
Gostaria de chamar a atenção para o significado da palavra “mãe” e o alcance concreto que ela possui na questão da confiança.
Aquilo que sempre tornou sublime os laços entre a mãe autêntica e seu filho reside no fato de que ela, por sua natureza retamente desenvolvida, é levada a ter uma forma de dedicação à sua prole que nem o pai possui. Este, mesmo que seja ótimo, conserva em relação ao filho uma espécie de austeridade, pois representa de modo mais vigoroso certos princípios como a justiça, a ordem, a força, etc., mais próprio do elemento punitivo do casal.
Já o característico da mãe é demonstrar uma forma de carinho tal pelo filho que, mesmo nas ocasiões em que se impõe a ela admoestar o seu rebento, ela o faz mais suave e lentamente. Pelo contrário, é mais rápida em perdoar, em condescender, em esquecer, porque representa quase que só a misericórdia.
Na mãe, o traço de justiça se acha um tanto diluído, segundo a ordem natural das coisas, enquanto que o da indulgência é levado o mais longe possível. Daí haver, aliás, o perigo de o amor materno ocasionar alguma moleza, frouxidão, de tal maneira que, se não existisse o contraponto da figura paterna, a educação dada pela mãe, em numerosos casos, seria insuficiente.
O genuíno amor materno ama o filho porque é filho, ainda que este seja ruim; sobrepuja tudo e se vincula por misericórdia ao fruto de suas entranhas. Razão pela qual, todos têm em relação ao amor materno certas condescendências excepcionais, sabendo que ele pode atingir o mais alto grau de sublimidade.
Inimaginável ternura que regenera e santifica
Isto que diz respeito às mães terrenas, com maior propriedade se aplica a Nossa Senhora, exceto o perigo de demonstrar fraqueza e debilidade, que n’Ela não existem. Sua ternura para conosco é levada ao inimaginável, sem nenhuma cumplicidade com nossos defeitos. Compaixão, sim; complacência, não. Sem embargo do quê, segundo São Luís Grignion de Montfort, Maria Santíssima ama a cada um de nós mais do que todas as mães existentes no mundo amariam, juntas, um filho único. Isso diz respeito tanto a nós quanto a qualquer ímpio.
 Nossa Senhora é Mãe da graça, e o amor d’Ela a um indivíduo ruim não consiste em fechar os olhos para sua maldade, mas em obter-lhe de Deus favores seletíssimos para que ele possa se arrepender e se emendar. Quer dizer, o amor materno de Maria tem força regeneradora para elevar e santificar uma alma; Ela é a Medianeira das graças necessárias para a justificação daquele a quem Ela ama. Por causa disso, sua misericórdia nunca é susceptível de uma condescendência errada, embora sua contemporização vá mais longe do que a de qualquer mãe terrena.
Confiar em Maria, sem desanimar jamais
A consideração dessas verdades me leva a insistir num ponto que nunca me canso de salientar: confiemos, confiemos e confiemos a todo instante em Nossa Senhora, lembrando-nos sempre de sua extrema meiguice para conosco, de sua compaixão para com as misérias de cada um de nós. Tenhamos presente que, na Salve Rainha, Nossa Senhora é chamada “Mãe de misericórdia”, e que o Lembrai-vos  acentua a bondade d’Ela para com o pecador arrependido.
 Não receio parecer repetitivo ao renovar essas recomendações, pois uma vida espiritual que não as contemple acaba se extraviando. Sem nos compenetrarmos da misericórdia de Maria Santíssima, nada de bom faremos. Cultivando-a, nossa alma se cumula de confiança, de alegria e de ânimo. Tendo a Mãe da Divina Providência como nossa própria Mãe, nada nos deve abater. Ela tudo resolverá se, confiantes, implorarmos seu maternal socorro.

domingo, 22 de maio de 2011

Maria Santíssima

Maria é a obra-prima do Altíssimo
Escreve o Santo: “Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cujo conhecimento e domínio Ele reservou para Si” (nº 5).
Que belíssima noção! Maria Santíssima é tão grande que São Luís Grignion, sendo apenas um seu pequeno menestrel, é quase inesgotável quando fala d’Ela. Ele afirma ser Nossa Senhora tão extraordinária, colossal — pouco dizem estes adjetivos, aos quais de longe Ela transcende — que só Deus conhece em toda a extensão suas perfeições. Não podemos sequer ter uma pálida idéia disto. Há n’Ela belezas, culminâncias, encantos, perfeições, excelências que escapam e sempre escaparão completamente ao nosso olhar, e são somente por Deus contempladas. Imaginemos esses universos, essas constelações imensas de estrelas que o homem não conhece e possivelmente jamais conhecerá, cujas maravilhas ficam reservadas à exclusiva contemplação de Deus: assim é Maria Santíssima. N’Ela há esta nota de incognoscibilidade: paramos extasiados a seus pés, compreendendo que, após ter entendido muito, quase nada compreendemos. Estamos sempre no seu pórtico, que é para nós demasiadamente grande, tal a sua excelência.
Ao olharmos uma noite de céu estrelado, em lugar de considerarmos apenas as grandezas de Deus — pensamento aliás muito louvável — sabemos contemplar também Maria Santíssima, incomparavelmente maior e mais formosa do que cada um dos astros do céu e do que todos eles no seu conjunto? Porque, sendo Ela a obra-prima da criação, toda a beleza, grandeza, excelência que Deus colocou no firmamento é pequena em relação às postas n’Ela pelo Criador; este céu não é senão uma imagem, uma figura da magnificência de Nossa Senhora. Apesar de ser mera criatura, tudo quanto n’Ela há, excede muito em perfeição todas as bele-zas criadas, de um modo inexprimível.
Continua São Luís Grignion: “Maria é a Mãe admirável do Filho, a quem aprovou humilhá-La e ocultá-La durante a vida para Lhe favorecer a humildade, tratando-A de mulher — mulier — (Jo 2, 4; 19, 26), como a uma estrangeira, conquanto em seu coração A estimasse e amasse mais que a todos os anjos e homens” (nº 5).
O Santo defende aqui a idéia de que, durante sua vida, também Nosso Senhor A manteve ignorada; apenas Ele A conhecia.
“Maria é a fonte selada (Ct 4, 12) e a esposa fiel do Espírito Santo, onde só Ele pode penetrar” (idem).
É o retorno à idéia de Nossa Senhora como criatura reservada ao conhecimento de Deus.
“Maria é o santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem excetuar seu trono sobre os querubins e serafins...”
Os anjos da guarda ocupam os graus inferiores na hierarquia celeste. Porém, tendo certa vez aparecido a uma santa o seu anjo da guarda, ela se ajoelhou, pensando estar na presença do Altíssimo. A grandeza dos anjos é tal que, no Antigo Testamento, em várias de suas aparições, os homens julgavam tratar-se do próprio Deus. E no Céu há miríades de anjos. Em que assombro ficaríamos se os víssemos todos e ao mesmo tempo!
Nossa Senhora, contudo, está acima de todos eles reunidos. Assim, diante de sua insondável alma, deparamo-nos novamente com termos de comparação, embora os melhores que possamos empregar, imperfeitos e totalmente insuficientes.
“...e criatura alguma, pura que seja, pode aí penetrar sem um grande privilégio.”
Existe, pois, uma categoria de criaturas privilegiadas que podem penetrar no conhecimento de Nossa Senhora. Tais criaturas, o Santo no-lo explica, são aquelas a quem Deus dá, por liberalidade, o dom que o comum das pessoas não têm, de conhecerem e praticarem a devoção a Nossa Senhora conforme o modo especial por ele ensinado. E os “apóstolos dos últimos tempos”, de que ele nos fala, possuirão este dom; por isso, serão terríveis no combate ao mal e eficacíssimos na defesa do bem. Serão almas elevadíssimas, que terão a graça de penetrar neste umbral da devoção a Nossa Senhora.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A verdadeira devoção a Maria

Publicaremos alguns comentários a respeito do livro " Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem" . Serão colocados  em diferentes posts.

São Luís Maria nos explica o motivo que o levou a escrever o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem: “Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida, e que é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser”.
Eis a razão da introdução e de todo o livro. Maria Santíssima é desconhecida, e deve ser conhecida, pois assim virá o reino de Cristo. O livro se destina, portanto, a propagar a devoção a Nossa Senhora para que venha o reino de Nosso Senhor. Por “desconhecida” entenda-se “muito menos conhecida do que sua excelência e seus admiráveis predicados exigem”.
Trata-se, por conseguinte, de uma obra de larga visão e alcance histórico muito amplo, fixando-se no desejo de trazer o reino de Cristo para um mundo que não o possui, através da devoção a Maria Santíssima.
O fundamento teológico, São Luís Grignion o coloca no tópico 1: “Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo”, isto é, se Maria Santíssima não tivesse existido, Jesus Cristo não teria vindo; “e é também por meio d’Ela que Ele deve reinar no mundo”, ou seja, a devoção a Jesus Cristo deve expandirse a toda a humanidade por intermédio de Maria Santíssima. Difundir a devoção a Nossa Senhora é, pois, nesta perspectiva, de importância capital.
O afervoramento da piedade: passo essencial
Esse objetivo de São Luís Grignion se presta desde logo a um comentário. O Santo profeta se propõe a preparar o futuro reino de Cristo fazendo o que lhe parece ser o mais essencial, importante, urgente, e que, na ordem concreta dos fatos, produzirá quase que automaticamente o resto: difundir a perfeita devoção a Maria. A derrota do espírito do mundo e a restauração da civilização baseada nos princípios da Igreja Católica não se começam, portanto, por meio da política, das obras, do talento ou da ciência.
Na época mesma de São Luís Grignion, Bossuet deslumbrava Versailles e Paris com seus sermões; entretanto, para evitar a derrocada religiosa da França, não foram decisivos. O começo da regeneração de todas as coisas está na piedade, no afervoramento da vida interior, nos fundamentos religiosos da vida de um povo. O apostolado essencial é de caráter estritamente religioso: afervorar, educar na piedade, formar caracteres; as outras coisas são conseqüências, complementos, importantes realmente, mas complementos.
Eis a grande lição que São Luís Maria Grignion de Montfort fixa já no início do Tratado, e depois desenvolve mais longamente: na formação dos caracteres a condição básica e indispensável é a devoção a Nossa Senhora. Possuindo-a de modo autêntico, as pessoas terão todos os meios sobrenaturais necessários para, com a correspondência da vontade, florescerem. Não se formando esta devoção, o próprio regime de expansão da graça na alma fica comprometido.
Portanto, a devoção a Nossa Senhora é condição vital para tudo quanto diz respeito à salvação individual e da civilização, bem como à salvação eterna de todos quantos constituem, em dado momento, a Igreja militante.
São Luís Grignion tinha, pois, em mente, com este livro, fazer uma obra da mais alta importância para a renovação dos séculos futuros. Cabe-nos, portanto, ser sôfregos em possuir esta devoção a Nossa Senhora por ele pregada.
Em outros termos, fomos chamados pela Providência para uma obra definida, com objetivos definidos, e só a realizaremos se tivermos em nosso espírito esta devoção. Sendo ela, como vimos, indispensável para que o mundo se regenere em Nosso Senhor, se queremos com este escopo trabalhar, é necessário ir em busca desta devoção.
O Tratado não é, pois, um livro qualquer de piedade, apresentando uma devoção a algum santo, boa por certo, mas que se pode ou não ter, indiferentemente. A devoção a Nossa Senhora é essencial, conditio sine qua non para nosso trabalho. E só a atingiremos no mais alto grau, utilizando a forma com os fundamentos desenvolvidos por São Luís Grignion de Montfort.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A vida e as cogitações de Nossa Senhora em Nazaré

Nossa Senhora guardou as promessas do Anjo no interior de sua alma, e ao ver o Menino Jesus, segundo expressões do próprio Evangelho, crescer em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens, naturalmente pensava na missão que Lhe estava reservada.
Sabendo que seu Filho era Deus, Nossa Senhora julgava explicável que Ele obtivesse os êxitos mais retumbantes e extraordinários. E terá Ela pensado, ao ver Jesus se tornar moço, que em certo momento Ele sairia da casa paterna para dar cumprimento à sua missão?
Porém, essa hora ainda demoraria a chegar. Durante trinta anos, Ele quis viver apenas com Ela e São José. Ao que tudo indica, o chefe da Sagrada Família faleceu antes de Nosso Senhor começar sua vida pública. A tradição nos atesta que Nossa Senhora e Jesus estavam presentes à cabeceira de São José no momento de ele exalar seu derradeiro suspiro: razão pela qual, o grande Patriarca é também o padroeiro da boa morte.
Como gostaríamos de assistir essa cena! Um leito pobre, Nossa Senhora de um lado, e de outro, Nosso Senhor, atraindo para Si a atenção de Maria e a do moribundo, aos quais dirigia sublimes palavras de conforto. Nossa Senhora, com sua insondável solicitude, servia a São José, orando por ele e também o consolando... Que revoada de Anjos!
Em certo momento, as sombras da morte se tornam mais próximas. São José começa a notar que aquele convívio, para ele até certo ponto um Céu, iria cessar. Mas, de outro lado, sabia que lhe aguardava uma gratíssima missão: chegando ao Limbo dos Patriarcas, anunciaria que o Messias se tinha encarnado no seio da Virgem Maria. Provavelmente, só com a menção dos nomes de Jesus e de Maria aquele lugar inteiro se teria iluminado...
Após a morte de São José, Nossa Senhora terá pensado a respeito de Jesus:
“Quando começará Ele sua vida pública, e cessará nosso convívio? Com quem ficarei? Que notícias terei d’Ele? Quando terá início o seu Reino? Assistirei a implantação dele, estando ainda na Terra ou já no Céu?
“Inúmeras vezes, conversando com Ele, notei que sua fisionomia foi se tornando mais tristonha. E na medida em que a tristeza pode ser comparada a uma sombra, foi se tornando sombria. Ele me tem falado de um imenso sacrifício que deve padecer. Sei que é a morte de Cruz, à qual se referem as Escrituras, e que Ele mesmo já me anunciou. Vejo-me, de um lado, cercada de esplendor, e de outro, da perspectiva do fracasso tenebroso.”
 Passam-se os dias, os meses e os anos... Trinta anos viveu Jesus sob o mesmo teto com Ela, adornando sua alma com maravilhas cada vez maiores.
Um dia — pode-se conjeturar — Ele se aproxima d’Ela e, com veneração e carinho ainda mais intensos, envolvendo-A com o olhar, Lhe diz: “Minha Mãe, chegou o momento!”
Talvez tivesse dito isso com um sorriso cheio de saudades, mas saudades antecipadas, cheias de sorriso. Era a missão d’Ele que ia começar e desfecharia na sua glória.
Ele sabia que, essencialmente, caminharia em direção à Cruz. Mas nesse percurso recrutaria os Apóstolos, os discípulos e todos os elementos da Igreja nascente. Pregaria durante três anos sua maravilhosa doutrina, praticaria milagres que haveriam de impressionar e persuadir o mundo inteiro, fundaria a Igreja, instituiria os Sacramentos. E depois morreria...
O que Mãe e Filho se terão dito nessa despedida? Terá sido uma surpresa que durou um minuto? Ou Ele A avisou com um mês de antecedência?
Nessa hipótese, para Nossa Senhora esse mês terá parecido um minuto, porque Ela quisera uma despedida muito mais prolongada?
São maravilhas que nos serão reveladas no Céu, e diante das quais não teremos palavras para manifestar nossa veneração e adoração.
Após Nosso Senhor ter iniciado sua vida pública, Nossa Senhora é procurada pelas santas mulheres e se incorpora a essa família de almas cujos cuidados Jesus Lhe confia.
“Conversas” de Nossa Senhora com o Espírito Santo
Todas essas considerações nos parecem de extrema beleza. Porém, como são restritas diante de realidades ainda mais altas!
Sabemos, por exemplo, que Nossa Senhora é a Esposa do Divino Espírito Santo. Quantas graças a Terceira Pessoa da Santíssima Trinidade Lhe concedia, para que conhecesse e meditasse em tudo quanto acontecia?
Quantas perguntas não terá feito ao Divino Consorte, dirigindo-se a Ele com as palavras: “Meu Rei, meu Senhor e meu Esposo”?
Se o relacionamento d’Ela com seu marido segundo a lei, São José, era tão bonito e tocante, como não terá sido com o Divino Espírito Santo?
Por exemplo, no momento da Encarnação, Ele se tornou Esposo d’Ela. Ora, no ato dos desponsórios, o homem oferece à sua mulher um presente magnífico. Que dádiva extraordinária o Divino Espírito Santo terá concedido a Maria? Que graças? Que esplendores? Tal escapa à nossa pobre imaginação...
Esperanças e apreensões de Nossa Senhora
Durante a vida pública, ao contemplar as pregações e milagres de Nosso Senhor, parecia a Nossa Senhora que a promessa da glória estava se realizando. Mas, de outro lado, com seu discernimento dos espíritos incomparável, Maria Santíssima percebia que Satanás rondava pelo ambiente, e sentia o ódio que ele incutia em algumas almas.
Pensemos noutra circunstância. Como diz São Tomás de Aquino em seu belíssimo hino eucarístico Lauda Sion: In suprema nocte cenæ, na última noite da ceia, véspera da Paixão, recumbens cum fratribus, estando sentado com os irmãos, que são os Apóstolos, Nosso Senhor celebrou a primeira Missa.
Provavelmente, Nossa Senhora se encontrava no Cenáculo, e recebeu também a Comunhão. Que maravilha não terá sido a Primeira Comunhão de Nossa Senhora! Mas, Ela ouviu igualmente a terrível profecia: “Um de vós há de Me trair”. Viu Judas sair de modo apressado do Cenáculo, com essa intenção. O Evangelho narra a cena de modo tocante, com palavras que têm um caráter muito simbólico: “Fora, era noite...”
Ela viu Nosso Senhor sair em seguida. Talvez Ele tenha se despedido d’Ela. Ter-Lhe-á dito que era chegada sua hora, ou A deixou na dúvida?
Ele e os discípulos se retiraram depois de terem cantado um hino pascal, e penetraram naquela mesma noite, na qual ecoavam os passos de Judas.
O que terá acontecido com Nossa Senhora nos instantes seguintes?
Provavelmente, o fundo de quadro da meditação d’Ela eram as promessas de triunfo recebidas na Anunciação.
Porém, havia o preço da glória, não mencionado pelo Arcanjo naquele jubiloso encontro, e esse preço era a dor.
Pensemos, então, na Virgem Dolorosa, na hora mais terrível da Paixão, no meu entender o momento em que Nosso Senhor exclamou em altos brados: “Meu Pai, Meu Pai, por que Me abandonastes?”
É um brado de sofrimento e de dilaceração, mas são também as palavras iniciais de um Salmo cujo triunfante tom final parece prenunciar a Ressurreição.
Que sentimentos terão ido na alma santíssima de Maria, ao ouvir esse clamor de Jesus?
Por outra parte, Ela vislumbrou, antes da morte d’Ele, o primeiro clarão de alegria, quando O ouviu dizer ao bom ladrão: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.
Essa afirmação significava que Nosso Senhor nunca perdeu de vistas, mesmo em meio às dores mais lancinantes, que Ele estava assim abrindo para a humanidade as portas do Céu.
As promessas divinas se realizam em meio a aparentes desmentidos
Das presentes reflexões nos é dado tirar uma conclusão que pode ser resumida em poucas palavras.
Com a Anunciação, foi comunicada a Nossa Senhora, e através d’Ela a todo o gênero humano, a Encarnação do Verbo. Com o seu “Sim!”, o Verbo se fez carne e habitou entre nós.
No dia da Anunciação, a Palavra de Deus raiou num amanhecer de alma repleto de louçania, com promessas superlativas.
Mas se as promessas de Deus suscitam as mais alegres esperanças, elas soem passar também por aparentes e terríveis desmentidos. É o modo de agir da Providência.
Nesse sentido, a Anunciação foi também a proclamação de que a autêntica glória não consiste em não sofrer humilhações e derrotas, mas, sim, em lutar pela Verdade.
A alma santíssima de Nossa Senhora, habituando-se às promessas, às alegrias e aos desmentidos, constitui para os católicos o sublime exemplo de submissão à vontade de Deus, manifestada por Ela, de modo inigualável, no humilde “fiat” que ecoou por toda a sua vida.

domingo, 15 de maio de 2011

A principal prova do amor que Deus tem por nós são os sofrimentos que nos envia

Deus, tendo amado com amor infinito ao seu Verbo Encarnado, a Nosso Senhor Jesus Cristo, e tendo amado com amor inferior a este, mas superior a todos os outros amores, a Nossa Senhora, deu-lhes tudo quanto há de bom. E por isso, deu-lhes também aquela imensidade de cruzes que, no caso de Nossa Senhora, é representada pelo número sete. Sete dores é também o símbolo de todas as dores. E Nossa Senhora poderia ser chamada perfeitamente Nossa Senhora de Todas as Dores.
Por causa disso, se é verdade que todas as gerações a chamarão Bem-Aventurada, a um título menor, mas imensamente real, todas as gerações poderão também chamá-la “infeliz”.
Se isso é assim, nós deveríamos compreender melhor que quando a dor entra em nossa vida, estamos recebendo uma prova do amor que Deus tem por nós. E que enquanto a dor não penetrar em nossa existência, nós não temos todas as provas desse amor de Deus. E eu acrescentaria que não temos a principal prova do amor de Deus para conosco.
O que isto significa?
Há pessoas cujas fisionomias falta o sofrimento, falta no fundo uma nota de maturidade, uma nota de estabilidade, uma nota de racionalidade, uma elevação que só tem aquele que sofreu, e que sofreu muito. Quem leva uma vida sem sofrimentos, leva uma vida em que essas notas não transparecem na fisionomia. E o que é muito pior: não transparecem na alma. Nós devemos nos convencer de que isso é assim, ou seja que sofrer é um dom de Deus.
E que quando começam acontecer os contratempos — as dificuldades com o apostolado, os mal-entendidos com os amigos ou com nossos superiores, a saúde que anda mal, os negócios que dão errado, as encrencas dentro de casa — não devemos tomar tudo isso como um bicho de sete cabeças. Nós não devemos, imitando a mentalidade holywoodiana, exclamar impacientes: “Como foi que uma coisa dessas pôde acontecer?”
Não, essa não deve ser nossa atitude! Quando não sofremos, aí então é que devemos nos perguntar perplexos: “Como é que está acontecendo isto: eu não estou sofrendo nada!?” Pois o normal é sofrer. Aquele a quem Deus ama, aquele a quem Nossa Senhora ama, esse sofre!
Deus não pode recusar a um filho a quem ama aquilo que Ele deu em abundância aos dois entes que mais amou, que são Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Devemos pois nos imbuir bem da idéia de que o normal na vida é sofrer.
Sem dúvida devemos pedir à Providência que nos livre das privações, das provações, das crises nervosas e de toda espécie de coisas penosas, mas se estiver nos planos da Providência que sejamos submetidos à prova, devemos bendizer a Deus, bendizer a Nossa Senhora por estar sofrendo.

sábado, 14 de maio de 2011

Intercessora junto ao Divino Esposo

Como Esposa do Divino Espírito Santo, Maria possui um título especial para nossa devoção a Ela. Com efeito, tudo quanto diz respeito à Fé católica, à ortodoxia e à manutenção da fidelidade à Igreja deve ser considerado como fruto e obra da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade em nós.
Ora, enquanto Esposa do Espírito Santo, Nossa Senhora tem sobre Ele aquele poder que, no Antigo Testamento, tinha Ester sobre o rei Assuero. Assim como esta, por suas súplicas, tudo conseguiu do monarca em favor dos judeus, assim a Virgem Bendita pode nos alcançar de seu Divino Consorte um tal grau de união com Ele, uma tal abundância de graças das quais Ele é a fonte, que, sem a intercessão d’Ela, ser-nos-ia inteiramente impossível obter.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Afetos inimagináveis de Maria


As grandezas de Maria pode produzir na alma do devoto de Nossa Senhora um compreensível sentimento da própria pequenês: “Minha Mãe, sois tão formosa e admirável! E eu, quão pobre e miserável!”
Não nos deixemos abater por esse pensamento, e nos lembremos do vínculo maior estabelecido entre a misericórdia materna d’Ela e cada um de seus filhos: “Apesar de tudo, tenho uma mãe que do alto do Céu olha com bondade e tristeza para minhas lacunas e que deseja me corrigir. Se eu pudesse Lhe falar e vê-La no momento em que considera meus pecados, eu me desfaria de ternura e pesar. Pois eu veria que Ela, embora não sendo complacente com minhas faltas, olha-me com um afeto tão imenso que não posso medir.”
 Trata-se de um afeto superior a todos os carinhos humanos aos quais estamos acostumados, porque procede do fato de Ela conhecer o próprio amor de Deus em relação a cada um de nós. Por assim dizer, Ela nos ama como nos ama o Criador, com um afeto que participa do amor que Ela mesma tem a Deus. Ou seja, um amor estável, profundo, completo. Por isso, Maria nos quer com uma benevolência que nenhuma infidelidade pode cansar nem fazer cessar. Nada é capaz de extinguir a vontade d’Ela de nos fazer bem. Pelo contrário, não deseja senão nos favorecer com benefícios maiores, com favores exuberantes.
Tenhamos sempre presente essa noção da misericórdia de Nossa Senhora, durante todo o dia, nos momentos de alegria e de tristeza, de fidelidade ou de miséria, e saberemos como esperar, resistir, lutar. Assim se vive em Maria. Assim se habita nesse palácio maravilhoso, nesse jardim fechado. É ter Maria Santíssima continuamente, desse modo, presente diante de nós.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mãe de misericórdia

Foco de virtudes que sanam nossos defeitos
 A solução para uma alma pecadora, contendo em si inúmeros defeitos que deseja corrigir, deve-se apoiar no seguinte princípio: Sendo Nossa Senhora, por disposição divina, o receptáculo de todas as virtudes que possam reluzir numa criatura humana, Ela é o canal dessas excelências a serem distribuídas pelo universo. Dessa sorte, cada perfeição de Maria produz como que um efeito medicinal sobre a nossa lacuna moral oposta: sua pureza é dotada de uma capacidade de extinguir nossa impureza; sua humildade, de extirpar nosso orgulho; sua piedade, de erradicar nossa falta de devoção; seu recolhimento, de eliminar nossa dissipação.
Portanto, Nossa Senhora se assemelha a um foco do qual se difundem graças invulgares e dons especiais, próprios a vencerem nossas mazelas. Então, é legítimo dirigirmos uma oração a Ela pedindo-Lhe que infunda em nós suas virtudes, para que estas nos transformem.
Como as curas do Divino Mestre no Evangelho
De fato, obedecendo aos desígnios de Deus, a graça pode descer sobre uma alma e num minuto modificá-la por completo, assim como, na expressão da Escritura, uma pedra é capaz de se tornar outro filho de Abraão. Quer dizer, pode tomar a pessoa mais radicada num defeito, mais tíbia, mais entregue a um vício, na situação mais aflitiva e miserável, e num momento livrá-la de todos esses males, desde que peça e seja ouvida por Nossa Senhora.
Assim, desejosa de se corrigir, mas acovardada diante da imensidade de suas imperfeições, contra as quais se verificam vãos todos os seus esforços, ela se volta para Maria Santíssima, rogando o socorro de graças superabundantes e necessárias para a sua conversão.
Devemos, pois, pedir a Nossa Senhora uma atuação d’Ela em nosso coração, como eram as de Nosso Senhor no Evangelho ao curar os doentes. Na verdade, cada milagre daqueles significava uma ação divina sobre um organismo que apresentava um defeito, uma disfunção ou algo do gênero, remediando-o num instante. E quando os evangelistas narram tais curas, deixam ver que Nosso Senhor, restabelecendo os corpos, fazia entender que Ele podia sanar as almas, sendo cada uma daquelas debilidades físicas o símbolo de uma carência moral.
O socorro de Nossa Senhora, quando menos se espera
Exemplo magnífico dessa influência do sobrenatural numa alma temos no fato da conversão de São Paulo Apóstolo. Ferrenho perseguidor da Igreja nascente, em determinado momento, na estrada de Damasco, é ofuscado por uma luz, cai ao chão e, recompondo-se, a primeira pergunta que brota de seus lábios é: “Senhor, que quereis que eu faça?”. Quer dizer, ele se pôs inteiramente às ordens da graça para operar de acordo com a vontade dela.
Como este, inúmeros exemplos há na Igreja de pessoas que se convertem e mudam radicalmente, por uma ação fulminante da graça. Ouviram uma palavra, perceberam um gesto, tiveram um pensamento que as tocou e transformou por inteiro.
Então, se confiarmos na oração, se compreendermos a sua necessidade e sua eficácia, temos a possibilidade de obter os frutos espirituais mais inesperados e magníficos. Sobretudo se nos compenetrarmos de que essa prece é dirigida a Deus por meio de Maria, nossa Mãe de misericórdia e nossa vida. Sem Ela não haveria valor, nem doçura nem esperança em nossa existência. Com Ela, nossa vida é plena de vida, nossas doçuras são repletas de doçura e nós, em qualquer situação na qual nos achemos, devemos ter esperanças superabundantes e imensas. Nossa Senhora se compadece de nós e nos atende, pois é nossa Mãe. Em dado momento, nos tomará pelos braços e nos conduzirá à santidade a que somos chamados.
 Cumpre considerar, entretanto, que o modo de Nossa Senhora exercer sua bondade para conosco é insondável. Assim, não raro as almas que recebem graças fulminantes são as mais provadas, depois de caminharem de provação em provação até um ponto onde não entendem mais o que se passa com elas, encontrando-se numa espécie de beco-sem-saída da perplexidade e do sofrimento. Nessas horas se dão as ações admiráveis de Maria em nosso favor.
Quantas  almas chegam nessas encruzilhadas da vida espiritual, tão aflitas e atormentadas que chegam a chorar. Mas, espere, Nossa Senhora virá quando você menos imagina e vai socorrê-lo. E com freqüência, no momento em que se tem a impressão de não haver saída para mais nada, a pessoa recebe uma graça magnífica e tudo se resolve pelas mãos de Maria, de um modo mais esplêndido do que jamais se poderia esperar.
Sacrossanta importunidade
É necessário, pois, tomar em consideração essa preciosa verdade: podendo rezar e possuindo uma Mãe como Nossa Senhora, nunca, nunca, nunca se deve ter desespero nem sequer a menor dúvida a respeito do auxílio do Céu. A quem bate, se abrirá; a quem pede, se dará. A nós de sermos insistentes na oração.
Lembremo-nos da célebre parábola do Evangelho, onde um homem se achava deitado na cama com seus filhos e aparece um vizinho importuno a lhe bater à porta, pedindo pão. O que já havia se recolhido não queria atender. Porém, o pedinte tanto insistiu que o pai de família se levantou, abriu a porta e lhe deu o pão. Comentário de Nosso Senhor: “Se esse homem não fosse importuno, não teria sido atendido”.
Portanto, a virtude aconselhável ante essas palavras é a da sacrossanta importunidade. Precisamos fazer violência ao Céu: pedir, pedir, pedir; bater, bater, bater. Seremos ouvidos, por maiores que sejam nossas dificuldades.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Nossa Senhora Auxiliadora

Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos! Por que o título de Auxiliadora? Nossa Senhora tem como maior glória o ser auxiliadora? Para Ela não é glória maior ser Mãe de Deus? É claro! Para Ela não é gloria maior ser co-Redentora do gênero humano? É claro! Para Ela não é glória maior ter sido concebida sem pecado original? É claro! Por que, então, Nossa Senhora Auxiliadora? Por que tanta insistência em torno desta invocação: Nossa Senhora Auxiliadora?
Compreende-se, pois Ela, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e nossa Mãe, está permanentemente disposta a nos ajudar em tudo aquilo que nós precisamos. São Luís Maria Grignion de Montfort tem uma expressão que parece exagerada, mas que está absolutamente dentro da verdade: se houvesse no mundo uma só mãe reunindo em seu coração todas as formas e graus de ternura que todas as mães do mundo teriam por um filho único, e essa mãe tivesse um só filho para amar, ela o amaria menos do que Nossa Senhora ama a todos e cada um dos homens.
De maneira que Ela de tal modo é Mãe de cada um de nós e nos quer tanto a cada um de nós — por desvalido que seja, por desencaminhado que seja, por espiritualmente trôpego que seja — que quando qualquer homem se volta para Ela, o primeiro movimento d’Ela é um movimento de amor e de auxílio. Porque Nossa Senhora nos acompanha antes mesmo de nos voltarmos para Ela. Ela vê nossas necessidades e é por sua intercessão que nós temos a graça de nos voltarmos para Ela. Deus nos dá a graça de nos voltarmos para Ela, nós nos voltamos e a primeira pergunta d’Ela é: “Meu filho, o que queres?”
Mas nós temos dificuldade em ter isto sempre em vista. Por quê?
 Porque nós não vemos, e, na nossa miséria, muitas vezes somos daqueles que não crêem porque não vêem. Nós esquecemos. Não duvidamos, mas esquecemos, nos sentimos tão deslocados que dizemos: “Mas será mesmo? Depois, aconteceu-me isto, aconteceu-me aquilo, aconteceu-me aquilo outro, eu pedi a Ela e não fui atendido: por que vou crer que agora serei socorrido? Mãe de Misericórdia... para mim, às vezes sim, mas às vezes não... Nesta próxima provação, por que confiar que serei socorrido, ó Mãe de Misericórdia?!”
É nessas horas, mais do que nunca, que devemos dizer: “Nossa Senhora Auxiliadora dos cristãos, rogai por nós!” Nas horas em que nós não compreendemos, não temos noção do que vai acontecer, nós devemos repetir com insistência: “Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos! Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos! Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos!” Porque para todo caso há uma saída. Nós às vezes não vemos a saída que Nossa Senhora dará ao caso, mas Ela já está dando uma saída monumental.
A esse título, portanto, muito especial, nós devemos repetir sempre: “Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos!” Nossa insuficiência proclama a vitória d’Ela, canta a glória d’Ela. Por isso, esta prece deve estar nos nossos lábios em todos os momentos: “Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos, rogai por nós! Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos, rogai por nós!”
Rezemos, portanto, “Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos! Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos! Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos!” em todas as circunstâncias de nossa vida, e nossa vida acabará tal que, na hora de morrer, quando nós estivermos no último alento e ainda dissermos “Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos”, daí a pouco o Céu se abrirá para nós.

sábado, 7 de maio de 2011

Nunca nos separemos do Rosário

São Domingos recebeu da Rainha do Céu este mesmo Rosário cuja forma hoje conhecemos: começando pelo Crucifixo, que devemos oscular pedindo à Mãe de Deus que seja nossa intermediária e apresente a seu Filho nossas orações; em seguida, um Padre-Nosso, três Ave-Maria, um Glória, e depois as cinco dezenas em que meditamos nos principais Mistérios da vida de Jesus e de Maria Santíssima — Gozosos, Luminosos, Dolorosos e Gloriosos.
É simplesmente incalculável a torrente de graças que se efundiu sobre a Igreja Católica com a prática de recitar assim o Rosário, de onde o número também imenso de papas e autoridades eclesiásticas elogiando essa devoção. Louvores estes coroados pelas diversas aparições de Nossa Senhora, nas quais Ela se apresenta com o Rosário em suas mãos virginais, especialmente nas visões de Fátima, em Portugal, quando recomendou aos homens, com tocante insistência, a recitação diária do terço. Além disso, a Igreja enriqueceu o Rosário com muitos privilégios e indulgências, inclusive plenárias, de maneira a fazer dele um verdadeiro tesouros de bênçãos inapreciáveis.
E não será mesmo demasiado insistir nesta verdade: o Rosário é, para o católico, uma magnífica arma de guerra, dessa guerra mais importante e superior que é a batalha espiritual presente na vida de todo homem. Essa guerra que travamos diariamente contra as tentações e as ciladas do demônio que procura perder nossas almas. Dessa guerra, portanto, em que lutamos para resistir às investidos do inimigo de nossa salvação, para expulsá-lo, para vencê-lo, e para deixar nossos corações dispostos a receberem as graças de Deus.
 O demônio tem ódio e horror ao Rosário, pois se este o põe em fuga é porque vem a ser um elo poderosíssimo que liga o homem a Nossa Senhora. E, portanto, se alguém se sente tentado, lembre-se de pegar logo o seu terço, e de pegá-lo fisicamente.
Melhor e mais recomendável: nunca, nunca, nunca nos separemos dele. De tal maneira que o tragamos conosco quando dormimos, quando descansamos; quando estivermos lendo ou fazendo toda e qualquer coisa, que o Rosário esteja sempre junto a nós. Mais ainda: durante o sono da noite, procuremos ter o Rosário nas mãos. E se recearmos que ele caia — e ele deve ser tratado com muita reverência — penduremo-lo ao pescoço ou no braço, ou arranjemos um outro modo de o conservar ligado ao nosso corpo. Jamais larguemos o Rosário. É mesmo um conselho que se diria supérfluo para os autênticos devotos de Nossa Senhora.
E quando nossas mãos não puderem mais nem se abrir nem se fechar, mas forem fechadas por outros para a nossa última atitude de oração, que o Rosário esteja enleado no meio de nossos dedos. De maneira que, chegado o momento da grandiosa ressurreição dos mortos, e dentro do caixão em que fomos sepultados o nosso corpo recobrar vida, entre nossos dedos revivificados esteja o santo Rosário.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Maria jamais nos abandona

Meditação para o mês de Maria
Para aproveitarmos de modo útil o mês de maio, seria interessante dedicar cada dia a alguma reflexão sobre Nossa Senhora, que alimente nosso Rosário e nossa piedade.
Nesse sentido, evoco aqui um fato passado numa antiga cidade polonesa, na ocasião em que estava sendo invadida por cruéis inimigos da religião católica.
Não podendo mais resistir, os habitantes fugiram, abandonando tudo. Ali vivia São Jacinto, digno filho de São Domingos de Gusmão e ardentíssimo devoto de Nossa Senhora. Antes de escapar dos agressores, foi se despedir da Padroeira da cidade, uma bela imagem da Virgem Santíssima, talhada em alabastro. Enquanto se recomendava a ela, ouviu-a distintamente murmurar: “E eu? Tu me abandonas? Leva-me contigo!”
O santo não sabia o que fazer. A imagem era muito pesada, não a podia carregar sozinho. Porém, apenas a tentou tomar em seus braços, sentiu-a leve como uma pena. A imagem perdeu todo o seu peso, por um milagre da poderosíssima Mãe de Deus. Surpreso e admirado, São Jacinto a estreitou devotamente e tomou com ela o caminho da fuga.
Este episódio nos mostra como Nossa Senhora preza suas imagens, como se sente representada dignamente por elas, e como não deseja que se faça a elas o que não é respeitoso nem correto fazer a Ela mesma. Maria obrou um prodígio para que sua imagem fosse levada embora de um local onde provavelmente seria profanada pelos que ameaçavam a cidade.
Por outro lado, vemos como Nossa Senhora se compraz em nos acompanhar através de suas imagens, e quer que as imagens d’Ela nos acompanhem. E assim operou um verdadeiro milagre para que a Padroeira acompanhasse seus filhos ao longo do êxodo que se viram obrigados a empreender. Uma imagem de alabastro, pesadíssima, além de se fazer ouvir pelo santo, torna-se leve e facilmente transportável. É um modo de Nossa Senhora nos dar a entender como deseja estar presente no meio de seus filhos.
Que aplicação colhermos desse fato para a nossa vida cotidiana?
Manifestando esse desejo de que suas imagens sejam de seus filhos, Nossa Senhora quer fazer notar quanto nos acompanha em todas as vicissitudes e em todas as circunstâncias de nossa existência. Se um símbolo d’Ela não nos abandona, quanto menos nos abandonará a própria Simbolizada!
Quer dizer, em qualquer situação em que estejamos, em todas as latitudes, em todas as longitudes, nas maiores elevações como também nos períodos mais tristes de nossa vida espiritual, há um olhar de Nossa Senhora que nos segue. Há uma proteção e uma providência particular de Maria Santíssima que nunca nos perde de vista e jamais nos abandona.
E essa certeza nos deve dar exatamente uma sensação de tranqüilidade em relação às vicissitudes desta vida. E o pensamento que deve nortear nossos dias, especialmente ao longo do mês de maio, é este: Nossa Senhora é minha Mãe e não me deixará sozinho. Ela nunca desvia de mim seu olhar maternal, sobretudo naqueles momentos em que tanto preciso das graças que Ela alcança, para progredir ou para não regredir na minha piedade, ou para qualquer outra necessidade, seja espiritual, seja temporal. Cumpre insistir, a Virgem jamais nos desampara. Pois se uma imagem de alabastro — que, afinal, não é senão alabastro — vai ao encalço dos devotos dela, mais ainda velará Maria, em pessoa, por todos e cada um de seus filhos.
Nossa Senhora irá ao meu encalço como a divina Pastora que Ela é. E posso ter, portanto, essa serenidade e essa segurança no transcurso de minha vida: a todo instante pairam sobre mim a proteção e o olhar de nossa Mãe Santíssima.

domingo, 1 de maio de 2011

Mês de maio, mês de Maria


Para ajudar a louvar devidamente a Mãe do Céu, no mês especialmente consagrado a Ela, sugerimos uma oração e diversas reflexões.
Em todos os instantes de nossa vida, Maria Santíssima estará sempre ao nosso encalço, amparando-nos e nos protegendo, na sua qualidade de Mãe e divina Pastora


Segundo a bela tradição católica, o mês de maio é dedicado a Nossa Senhora, e nada de mais próprio do que seus filhos e devotos festejarem-Na. É a ocasião de Lhe tributarem, de modo especial, toda a veneração, amor e carinho que lhes inunda o coração. É também a época de se solidarizarem de maneira mais profunda com Ela em suas apreensões de Mãe pela salvação das almas e pelo bem da Santa Igreja.
Provas de nosso amor
Para Lhe render essa homenagem, devemos começar por dizer a Nossa Senhora que reconhecemos ser Ela uma razão constante de alegria para os católicos, em todas as circunstâncias. Maria Santíssima é de tal maneira a Causa nostrae laetitiae — “causa de nossa alegria”, como A invoca a Ladainha Lauretana —, que o foi até mesmo na mais triste das situações, ou seja, quando seu Divino Filho padeceu e morreu pela redenção do gênero humano. Durante a Paixão, a presença d’Ela era um elemento de alegria e de satisfação para nós.
Devemos compreender, além disso, que o nosso preito filial não pode consistir meramente em comemorar as alegrias que Nossa Senhora nos dá, mas tem de comportar igualmente a consideração do que Ela sente ao ver as almas em perigo, ao ver a imensidão dos pecados que se alastram sobre a face da terra, ao ver filhos que Ela tanto ama, extraviados nos caminhos da perdição. Daí a nossa repulsa vigorosa ao mal que A entristece, e o nosso desejo de repará-La, e a seu adorável Filho, ser o termômetro de nossa entranhada veneração a Ela.
Pedir as graças que os outros recusam
Se, porventura, tomamos consciência de que esse nosso amor mariano é débil e fraco, devemos fazer um pedido a Nossa Senhora.
Por sua onipotente intercessão, a Santíssima Virgem faz chover de modo contínuo sobre o mundo graças de devoção e de fidelidade a Ela, assim como graças de repúdio ao mal e às tentações do demônio. E, infelizmente, essas graças não são recolhidas nem correspondidas da maneira tão ampla como deveriam ser. Muitas delas caem em chão arenoso ou em pedras onde não desabrocham. Devemos, então, ser sensíveis a essa prodigalidade de dons celestiais, não permitir que se desperdicem, e dirigir a Nossa Senhora esta súplica:
“Ó minha Mãe, por vossa insondável misericórdia, concedei-me todas as graças que os outros não aproveitam. Enchei minha alma com as dádivas divinas que reservastes para terceiros e que foram recusadas. Desse modo, correspondendo eu, amparado por vosso maternal auxílio, poderei reparar em algo a tristeza que representa para Vós a visão dessa caudal de graças sem aproveitamento. E que assim, ao menos neste vosso mísero escravo, resplandeça o dom feito aos homens. Amém.”
É uma prece a ser feita em todos os dias do mês de maio, por aqueles que se sentirem movidos interiormente a isso. Por exemplo, ao recebermos a Sagrada Eucaristia, expressemos a Nosso Senhor, por meio de sua Mãe Santíssima, o nosso desejo de que essas graças se recolham em nossa alma, que sejamos tochas ardentes de amor a Eles, e o receptáculo de todo espírito de incompatibilidade com o pecado e o mal, que devem caracterizar o verdadeiro católico.