sábado, 31 de dezembro de 2011

Uma lição da sabedoria divina

Do fato desse comprazimento podemos tirar uma bela lição que Deus dá aos homens.
Com efeito, criou Ele magnificências materiais extraordinárias. Quantos mistérios haverá por todas as galáxias do universo? E quando nos detemos na análise dos microorganismos, dos seres pequenos, quantas novidades imensas se descobrem ao nosso maravilhamento! Todo esse fabuloso conjunto, incluindo os homens e os Anjos, constitui para Deus o objeto de uma eterna contemplação.
Ora, tendo Ele tanto a apreciar, todavia coloca acima de tudo, como fonte do supremo gáudio que pode tirar de suas criaturas, a consideração de Nossa Senhora. Ela que, enquanto ser criado, não é o mais alto — pois na ordem da natureza o homem vem abaixo do espírito angélico —, porém, do ponto de vista graça, virtude e santidade, não só está acima de todos os Anjos, como é deles Rainha. É essa incomparável santidade, portanto, que Deus se compraz em considerar, e em auferir dela uma especial e completa felicidade.
Qual a lição que daí devemos colher?
É um ensinamento que combate o nosso fundamental materialismo. Infelizmente, a grande maioria dos homens está imbuída da ideia de que o verdadeiro prazer nesta vida consiste na posse de bens materiais, de qualquer natureza que seja: dinheiro, saúde e uma série de outras coisas que estão fora das vias da verdadeira felicidade do homem nesta terra.
Com efeito, sem engano podemos dizer que, nesta vida, encontra a felicidade autêntica quem é capaz de seguir o exemplo de Deus e fazer a sua alegria da consideração das outras almas e da virtude que nelas exista. O homem que passa pelo mundo procurando a virtude e a santidade para admirá-las, amá-las e servi-las, onde ele as encontra, aí se detém e põe seu prazer e seu júbilo. De maneira tal que ele tenha mais satisfação em estar numa choupana ou num leprosário conversando com um verdadeiro santo, do que no local mais magnífico em meio a pecadores.
Por quê? Porque o santo representa um particular reflexo, uma transparente manifestação de Deus. A alma de um santo possui uma perfeição que nenhuma beleza criada tem, e, por causa disso, aquele que sabe procurar os verdadeiros valores da vida, vai atrás da santidade, da perfeição moral dos seus semelhantes.
E quando a encontra, ele dá graças a Deus, eleva sua alma a Nossa Senhora e agradece também a Ela, porque é pelo seu maternal auxílio e intercessão que aquela santidade existe numa alma, e foi por meio d’Ela que ele, homem humilde e admirativo, teve a alegria e a honra de encontrar essa alma virtuosa. Ele teve a glória de experimentar um antegozo do céu, que é o conhecer, nesta vida, um verdadeiro santo.
Continua no próximo post.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Coração de Maria, no qual o Coração de Jesus bem se compraz.

Como em geral acontece com as ladainhas compostas ao longo dos tempos pela piedade católica, as jaculatórias da Ladainha do Imaculado Coração de Maria sugerem, cada uma, desdobramentos e considerações que muito enriquecem nossa vida espiritual e nossa devoção à Santíssima Virgem.
Procuremos analisar, por exemplo, a invocação Coração de Maria, no qual o Coração de Jesus bem se compraz.
Plenitude de satisfação
Devemos começar por observar que este “bem” salienta a ideia do inteiro e perfeito comprazimento de que nos fala a jaculatória. Ou seja, o Coração de Maria possui uma tal excelência que, tanto quanto é possível à natureza criada, nada lhe falta, e por isso nele Nosso Senhor encontra uma satisfação completa, que não conhece névoa, que não tem limites nem máculas. Excetuando o fato de que o contentamento infinito de Jesus é e só pode ser com o próprio Deus, em tudo o mais Ele acha total alegria no coração e na pessoa de sua Mãe Santíssima.
Quer dizer, Nosso Senhor fita a Santíssima Virgem, olha-A, e ao vê-La, ao contemplá-la, ao analisá-La, experimenta o maior dos prazeres, um deleite indizível, que sobrepuja todas as outras delícias que Lhe proporciona a consideração de suas demais criaturas.
Não poderia ser diferente, em se tratando d’Aquela que foi escolhida, desde toda a eternidade, para engendrar em suas entranhas virginais o Filho de Deus; d’Aquela, portanto, em que tudo haveria de ser absolutamente puro e perfeitamente magnífico. Em todos os momentos de sua vida terrena, Ela não deixou de crescer em santidade, de um modo inimaginável. Cada graça que Deus lhe concedeu para se adiantar na virtude era correspondida com tal excelência que todo o progresso feito por Ela é insondável para a mente humana.
Assim, em todos os instantes da existência de Nossa Senhora neste mundo, Jesus teve com Ela um contentamento completo.
Mesmo nas ocasiões mais difíceis como, por exemplo, quando Ela se viu chamada a consentir na morte de seu Divino Filho, e através de uma anuência inteira, heróica, da qual não sobrasse nenhum resíduo, mesmo em situações como essa o procedimento de Maria foi perfeito, no sentido mais exato da palavra. Porque Ela era, enquanto mera criatura, absolutamente exímia. E, como reza a Ladainha, Nosso Senhor encontrou n’Ela a sua complacência.

Continua no próximo post.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Obra-prima da misericórdia divina

Para honrar a Esposa do Espírito Santo e Mãe do Verbo Encarnado, a Santíssima Trindade coroou Nossa Senhora como Rainha do Universo: todos os Anjos e Santos, todos os homens vivos, todas as almas do Purgatório, assim como todos os réprobos e demônios, devem obedecer à Celeste Soberana. De sorte que Maria, além de medianeira das graças, é igualmente a do poder de Deus. É por intermédio de sua Mãe que Ele executa todas as suas obras e realiza todos os seus desígnios.
Mais ainda. Nossa Senhora não é somente o canal por onde o império divino passa e se manifesta na criação, mas é também a Rainha que decide por uma vontade própria, consoante os desejos do Rei. Ela é, na verdade, uma obra-prima do que poderíamos chamar a habilidade de Deus de ter misericórdia em relação aos homens.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Abundância de humildade e virtudes cardeais

“Há um rio de humildade que surge da terra e que, dividindo-se em quatro braços, rega todo esse lugar encantado: são as quatro virtudes cardeais”.
 Um conceito muito bonito. As quatro virtudes cardeais são aquelas que regulam todas as ações do homem: a justiça, a temperança, a fortaleza e a prudência. Todas as outras virtudes decorrem dessas. Então, São Luís Grignion diz que em Nossa Senhora há como que um rio de humildade, que se abre em quatro braços e dá origem às mencionadas principais virtudes.
Mas a imagem significa também que uma pessoa verdadeiramente humilde possui de modo torrencial as virtudes cardeais. E o que é ser verdadeiramente humilde?
Antes e acima de tudo é ser humilde para com Deus, reconhecendo tudo o que devemos a Ele e retribuí-lo. Sermos, portanto, em relação a Deus, amorosos, fiéis, filiais, paladinos da causa dEle até o último ponto, vivendo num holocausto contínuo a serviço dEle. A autêntica humildade coloca uma alma nessa posição, e é dessa maneira que esta última adquire, abundantemente, as quatro virtudes cardeais.
E assim era Nossa Senhora. A Santíssima Virgem é a magnífica simbologia da fornalha ardente e abrasadora de caridade, de amor a Deus.
Uma pessoa pode ser dura e fria como o ferro, porém, lançada nessa fornalha, isto é, sendo muito devota de Nossa Senhora e n’Ela confiando, transforma-se não apenas em ferro incandescente, mas em ouro. O contato com Maria muda a alma por completo, a nobilita e santifica.
Aqui temos, portanto, um pouco daquele bem-estar de que falamos atrás, proporcionado pelas doçuras da Santíssima Virgem. É impossível comentar- se algo a respeito dEla, sem se ter a impressão de que estamos junto a um rio ou a uma árvore sobrenatural, sentindo, num plano diferente, aquela satisfação particular que experimentamos à beira dos rios ou à sombra das árvores naturais.
Acredito que, após um dia passado no corre-corre de uma cidade supermoderna, supertrepidante, superdinâmica, deter-se um pouco na consideração desse panorama maravilhoso que é a alma de Nossa Senhora é algo que sempre nos fará bem...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O divino olhar de Jesus

Procuremos imaginar o olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo, por toda a eternidade, pousando complacente sobre cada um de nós, enchendo-nos continuamente de todo o gáudio de que somos capazes! É tanto, que seríamos propensos a dizer:
“Senhor, para que mais? Não aguento felicidade maior do que essa! Vós me falais do céu empíreo, Vós me fazeis ver a pradaria que extasiou São João Bosco; mas, Senhor, eu me ponho de joelhos e Vos digo: um olhar vosso... Pudesse eu apenas ver um olhar vosso, e em condições tais que, fitando-o, eu visse nele a Vós e a mim, e me sentisse amado por Vós. O que mais, meu Deus? Eu poderia suportar tanto? Custa-me crer que, na minha limitação de criatura humana, eu seja capaz de aguentar durante toda a eternidade esse oceano de perfeições e delícias que é o vosso olhar límpido, profundo, tranquilo, possante, cambiante de impressões... Um universo, o vosso olhar, movendo-se continuamente diante de mim.
Meu Deus, o que são os vitrais das catedrais, o que são as estrelas do céu, o que são os reflexos do firmamento sobre as águas do mar em comparação com somente um minuto dessa visão do vosso olhar? Se, como reza o Evangelho, uma só palavra vossa e minha alma será salva, se tanto pode uma palavra meu Deus! quanto não poderá o vosso olhar?! Senhor, um único olhar vosso para mim, e minha alma estará salva.
Só isso? Nos momentos em que eu me sentisse pequenino para esse olhar, vê-lo se dirigir a Nossa Senhora; vê-Los, Mãe e Filho, fitarem-se mutuamente e se perderem um no olhar do outro que cena! Perceber o eterno e incessante co-relacionamento de ambos, não apenas nas expressões de alma, mas também nos gestos e atitudes de seus corpos gloriosamente ressurgidos, transmitindo extraordinárias impressões que meus olhos materiais e todo o meu ser, extasiados, também poderão contemplar!
Quem é capaz de conceber semelhante ventura? Nossa Senhora sentada em um trono próximo ao de Jesus, prolongando pela eternidade os colóquios que mantinham em Nazaré, em Belém, e naqueles nove meses em que Ela era o sacrário ambulante onde Ele morava! Quem, repito, pode descrever igual maravilha?
Pois essas são as alegrias que nos estão reservadas no Céu. Ao lado do gáudio ainda mais incomparável de ver Deus face a face, na sua natureza de puro espírito, eterno e perfeito.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Absoluta misericórdia


Em sua justiça infinita, Deus tem razão de queixa de todos os homens. Apesar disso, deixou-nos sua Mãe como nossa própria Mãe, e Maria tem para conosco todas as ternuras, bondades, afagos, perdões, as suaves adaptações de que o amor materno é capaz. Sabendo que o afeto de Nossa Senhora por nós é maior que o de todas as mães terrenas juntas em relação a um filho único, podemos estar certos de que Ela nos obterá de Deus o perdão ao qual não temos direito, a generosidade que não merecemos, a complacência à qual não fazemos jus por causa de nossas misérias.
Por piores e inúmeros que tenham sido nossos defeitos, se confiarmos e esperarmos na Virgem Santíssima, à nossa claudicante fidelidade corresponderá da parte dEla uma absoluta misericórdia. Pelos méritos de seu imaculado sorriso junto a Jesus, Maria nos alcançará a bem-aventurança eterna.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Cogitações do Menino Jesus

Quando nasceu o Menino Jesus, poderíamos nos perguntar quais seriam suas cogitações e reflexões naquela ocasião.
Antes de tudo, pensava Ele no Pai Eterno, no Espírito Santo, nos esplendores da Santíssima Trindade, da qual é a Segunda Pessoa em união hipostática com a natureza humana. Ao mesmo tempo, deveria refletir sobre Nossa Senhora, obra-prima de toda a criação. Sem dúvida, constituía para Jesus um profundo deleite considerar Maria Santíssima naquele momento, em atitude de conhecer, adorar, analisar e acariciar o próprio Filho. Alegrava-O vê-La guardar todas as coisas no seu coração, meditando-as, perscrutando nos traços fisionômicos do Menino as correlações com tudo o que Ela, pelo dom da sabedoria, aprendera nas Escrituras acerca do Messias.
Nossa Senhora estabelecia essas ligações com sumo respeito e insondável adoração para com o Divino Infante, que os recebia com verdadeiro encanto, prazer e intenso amor por sua Mãe.
Ali estava também São José, e a Santíssima Virgem já exercia sua mediação, apresentando ao Menino Jesus as orações de seu esposo, pai adotivo d’Ele. Embora não fosse o progenitor segundo a carne, tinha um autêntico direito sobre o fruto das entranhas sagradas de Maria e, portanto, sobre o Recém-nascido.
São José adorava o Menino Deus, agradecia a honra de ser seu pai e Lhe apresentava suas preces por meio de Nossa Senhora.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Síntese esplendorosa

Entre tantas outras reflexões, a celebração do Natal nos faz pensar na excelsa condição de Nossa Senhora como Virgem-Mãe, realizando em si uma espécie de síntese maravilhosa, pois é, ao mesmo tempo, filha, esposa e mãe d’Aquele que A criou. Tal vínculo concede a Maria uma íntima, uma inimaginável participação nos esplendores e grandezas de Deus.
Ao considerarmos esta prerrogativa da Santíssima Virgem, nossa alma se eleva a tão altos patamares de piedade e contemplação, que se diria envolta por incomparáveis ressonâncias dos cânticos com que os Anjos A glorificam no Céu.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Vínculo inestimável

Nossa Senhora está para seu Divino Filho assim como, no ostensório, o cristal posto diante da Sagrada Hóstia está para o Santíssimo. Vemos Nosso Senhor através desse cristal, sem atentar para o fato de que esse material se interpõe entre nosso olhar e Jesus Eucarístico. De igual modo, não podemos separar a devoção a Nossa Senhora de Nosso Senhor.
Um dos comentários centrais que nos ocorre a propósito desse vínculo indissociável é que o prêmio excede a toda linguagem. Ao amor de seus devotos, Nossa Senhora retribui com aquilo que tem de melhor: o próprio Cristo Jesus, a Sabedoria Eterna e Encarnada, a nossa recompensa demasiadamente grande.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Intercessão de Maria

Imaginemos, agora, o Menino Jesus imensamente acessível. Esse Rei tão cheio de majestade em certo momento abre para nós os olhos. Notamos que seu olhar puríssimo, inteligentíssimo, lucidíssimo, penetra em nossos olhos até o mais fundo. Vê o mais fundo de nossos defeitos, como também o melhor de nossas qualidades, e toca nesse momento a nossa alma, como tocou, 33 anos depois, a de São Pedro.
Conta-nos o Evangelho que o olhar de Nosso Senhor para São Pedro foi tal que este saiu e chorou amargamente. Chorou a vida inteira.
E esse olhar provoca em nós uma tristeza profunda por nossos pecados. Dá-nos horror aos nossos defeitos. Mas também, penetrando em nós, mostra-nos seu amor não só às nossas qualidades, mas também à condição de criaturas feitas por Ele. Um amor a nós, apesar de nossos defeitos, por sermos destinados a um grau de santidade e de perfeição que Ele conhece e ama enquanto podendo existir em nós.
E, quando o pecador menos espera, por um rogo amável de Nossa Senhora, o Menino sorri. E com esse sorriso, apesar de toda a sua majestade, sentimos as distâncias desaparecerem, o perdão invadir nossa alma, uma qualquer coisa nos atrair. E, assim atraídos, caminhamos para junto d’Ele. Ele afetuosamente nos abraça e pronuncia nosso nome.
— Fulano! Eu te quis tanto e te quero tanto! Desejo para ti tantas coisas e perdôo-te tantas outras. Não penses mais nos teus pecados! Pensa apenas, daqui por diante, em servir-Me. E em todas as ocasiões de tua vida, quando tiveres alguma dúvida, lembra-te desta condescendência, desta amabilidade, deste beneplácito que agora te faço, e recorre a Mim por meio de minha Mãe, que atender-te-ei. Serei teu amparo e tua força, e esse amparo e essa força hão de te levar ao Céu para ali reinar ao meu lado por toda a Eternidade.
Imaginem, ainda, o Menino Jesus olhando o Purgatório e os tormentos que ali nos aguardam se não formos inteiramente fiéis.
Brota n’Ele, então, um olhar de pena, de participação profunda na nossa dor, um desejo de remover esta dor em toda a medida que for possível para nossa santificação um desejo de nos dar forças para suportar essa na medida em que ela for necessária para nos santificarmos.
Notamos n’Ele, então, aquilo que tanto consola o homem, e que Ele não encontrou quando chegou sua hora de sofrer: a compaixão perfeita.
Está na natureza humana — e é uma coisa reta — de se consolar na hora do sofrimento pelo fato de ter alguém que nos tenha pena. A pena divide o sofrimento. O homem é feito de tal maneira que, quando ele está alegre e comunica sua alegria, ele dobra essa alegria; quando está triste e comunica sua tristeza, divide essa tristeza.
“A fortiori” somos nós assim em relação ao Menino Jesus, ao encontrarmos n’Ele a compaixão perfeita.
Em todos os sofrimentos de nossa vida, portanto, quando a taça a beber for muito amarga, devemos repetir por meio de Nossa Senhora a oração d’Ele: “Meu Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice; mas faça-se a vossa vontade e não a minha”. Quer dizer, em todos os momentos pediríamos que a dor passasse; mas se fosse da vontade d’Ele que ela viesse sobre nós, teríamos certeza de que durante a dor encontraríamos a dor compassível d’Ele: “Meu filho, Eu sofro contigo! Soframos juntos, porque Eu sofri por ti. Há de chegar o momento em que tu participarás eternamente de minha alegria”. E nós podemos ter a certeza de que o olhar compassível de Jesus não nos abandonará um momento sequer de nossa existência.
Ao longo das vicissitudes da existência quotidiana deveríamos reter esta tríplice lembrança: a da majestade infinita, a da acessibilidade infinita, e a da compaixão sem limites do Menino Jesus em relação a nós. E esta deveria ser uma lembrança sensível, pois procuraríamos compor em nossa imaginação o quadro tal qual ele nos toca.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A verdadeira paz natalina

Deus, ei-Lo exorável e ao nosso alcance, feito homem como nós, tendo junto de Si a Mãe perfeita, Mãe dEle mas também nossa, .... e São José, o varão sublime, que reúne em si a maravilhosa antítese das mais diferentes qualidades.
Ao contemplá-Los, nossas almas crispadas se distendem. Nossos egoísmos se desarmam. A paz penetra em nós e em torno de nós...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Virgem e Mãe



Não há título maior que o de Mãe de Deus, nem foi dado a uma criatura ser elevada a uma honra superior à conferida pela maternidade divina. Contudo, Nosso Senhor Jesus Cristo preza tanto a virgindade que desejou fosse sua Mãe, além de imaculada e adornada de todos os dons do Céu, igualmente virgem. Para isso, operou em favor dEla um estupendo milagre que excede à nossa imaginação: Maria permaneceu virgem antes, durante e depois do parto.
Segundo a bela comparação que fazem os teólogos, assim como Nosso Senhor saiu do sepulcro sem esforço, assim deixou Ele o claustro materno, sem detrimento da inviolada virgindade de Maria Santíssima.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Numa noite em Nazaré, faz-se a paz entre o Céu e a terra

Com efeito os povos antigos eram animados pela esperança de que um dia a paz se faria entre o Céu e a terra, um momento chegaria em que os tempos teriam a sua plenitude, e um eleito de Deus, perfeito, amado, haveria de vir ao mundo para restaurar a ordem que o pecado de nossos primeiros pais - lembrado em tantas religiões antigas - nos tinha tirado.
Em determinado momento, numa meia-noite, no silêncio absoluto de uma cidade hebraica, uma Virgem tênue, delicada, cândida, trazendo nos olhos uma infinitude (de reflexos celestiais), rezava. Os tempos tinham maturado, o grau de sofrimento e de degradação da humanidade tinha chegado a um ponto tal, que a misericórdia de Deus criara esta Virgem para que Ela, imaculada, conseguisse o que nenhum homem pecador conseguiria: pedir e alcançar a vinda do Messias. E Ela pedia precisamente que viesse o Salvador e que regenerasse todos os povos.
O Messias previsto pela raça judaica, que deveria nascer de alguém da estirpe de David, da estirpe de que Ela mesmo nascera, e a que pertencia o seu casto esposo José. Ela rezava na calada da noite, pedindo que esse Messias viesse, e pedia segundo piedosas tradições que fosse Ela a escrava, a servidora da mulher bem-aventurada de que esse Messias haveria de nascer.
De súbito, se produz pelos ares um movimento misterioso; algo como um bater de asas, como uma movimentação, como uma vibração diáfana, como uma cintilação da lua marca o ambiente. Ela olha e ouve as palavras tão conhecidas: Ave, cheia de graça...
Apenas nós sabemos que depois de Ela ter dito: Faça-se em mim segundo a palavra do Senhor, sou a servidora dEle, o Verbo se encarnou e habitou entre nós. E veio à terra Aquele que era ao mesmo tempo homem e Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada, que ligava a natureza humana à natureza divina.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Céu de virtudes

Alma de uma imensidade inefável, alma na qual todas as formas de virtude e de beleza existem com uma perfeição supereminente, da qual nenhum de nós pode ter uma ideia exata, Nossa Senhora é bem aquele mar, aquele céu de virtudes diante do qual o homem deve ficar estarrecido e enlevado, e que, com todas as suas forças, deve procurar amar e imitar.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Confia em Maria

Eu venho tão do alto... E posso tudo. Em Mim reside o reflexo perfeito da bondade incriada e absoluta. Aquilo que Eu quero doar porque sou boa, aquilo que desejo conceder porque sou Mãe, aquilo que posso dar porque sou Rainha, isso, meu filho, Eu dou!
Eu não te digo uma palavra, mas faço algo muito melhor que falar a teus ouvidos... Eu te comunico uma graça que murmura no fundo de tua alma.
Sentes essa paz que transborda de Meu coração, que te envolve, te penetra e te cumula? Essa paz que nenhuma alegria terrena pode trazer, e que te faz sentir uma tranqüilidade interior, na qual ressoa minha voz, inaudível a teus sentidos: Tudo está resolvido! E aquilo que não estiver, resolver-se-á. Confia em Mim, Eu acertarei tudo.
As aparências podem não ser essas. Mas... Aceita esse sorriso, percebe esse sussurro, contempla essa bondade... E não duvides jamais!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O ápice de ouro da criação

Entre o Padre Eterno e a criação existe o Homem-Deus: inteiramente Deus, como as outras Pessoas da Santíssima Trindade e tão homem quanto cada um dos descendentes de Adão.
Resta, contudo, um tal abismo separando Nosso Senhor Jesus Cristo das demais criaturas, que a pergunta se impõe: na ordem das coisas não deveria haver um outro ser que, ao menos de algum modo, preenchesse esse hiato?
Ora, a criatura chamada a completar esse vácuo no conjunto da criação, a criatura excelsa, infinitamente inferior a Deus, mas ao mesmo tempo insondavelmente superior a todos os Anjos e a todos os homens de todas as épocas — é precisamente Nossa Senhora.
A Virgem Santíssima é, para Deus Padre, a mais eleita das criaturas, escolhida por Ele, desde toda a eternidade, para ser a Esposa de Deus Espírito Santo e a Mãe de Deus Filho. Para estar à altura dessa dignidade, Maria havia de ser a ponta de pirâmide de toda a criação, acima dos próprios Anjos, elevada a uma inimaginável plenitude de glória, de perfeição e de santidade.
Compreende-se. Sendo Mãe de Jesus Cristo, Ela foi verdadeira Esposa do Divino Espírito Santo. E não poderia corresponder a tão elevada prerrogativa se não fosse maior do que o maior dos Anjos. Assim, Ela, mera criatura humana, é mais perfeita e mais santa do que toda a coorte angélica, e incomparável com qualquer outro ser.
Elo de ouro entre Deus e os homens
Por causa disso, Dante Alighieri, o grande poeta italiano da Renascença, na sua “Divina Comédia” (que alguns dizem ser a Suma Teológica de São Tomás de Aquino posta em verso), registra de modo emocionante o momento em que encontra a Santíssima Virgem no Céu.
Após ter passado pelo Inferno e pelo Purgatório, ele percorre os vários círculos dos bem-aventurados, até chegar no mais alto coro angélico, ou seja, no píncaro da mansão celeste, onde começa a divisar a glória de Deus. É uma luz difusa, que seus olhos não conseguem sustentar. Ele repara então num outro ser que está acima dos Anjos: Nossa Senhora. A Virgem Santíssima lhe sorri, e Dante contempla nos olhos d’Ela o reflexo da luz incriada da Eterna Majestade. Acabou-se a “Divina Comédia”.
Depois de a pessoa ter posto os olhos nos olhos virginais de Nossa Senhora, não tem mais nada que contemplar, senão a Deus, face a face. Pois o olhar humano fitou o olhar puríssimo, o olhar sacralíssimo, o olhar sumamente régio, o olhar indizivelmente materno de Nossa Senhora. Tudo está consumado: a “Divina Comédia” termina na mais alta das cogitações que pode alcançar um filho de Eva.
Nossa Senhora é o grampo de ouro — ou de um metal ainda mais precioso — que une a Nosso Senhor Jesus Cristo toda a criação, da qual Ela é o ápice e a suprema beleza.
Papel único na salvação das almas
Embora a maternidade divina, por si só, já granjeasse a Nossa Senhora o título de primeira das criaturas, para tanto não deixam de concorrer também as demais prerrogativas, virtudes e dons com que a Santíssima Trindade A enriqueceu, assim como todos os excelentíssimos méritos que Ela obteve em sua vida terrena, pela prática constante e crescente de um indizível amor a Deus, de uma incansável caridade para com o próximo.
Dizem os teólogos que do alto da Cruz, Nosso Senhor, cuja inteligência era infinita, conhecia todos os homens pelos quais Ele estava derramando seu preciosíssimo sangue. E que Ele via todos e cada um dos pecados que esses homens cometeriam até o fim do mundo, sofria por todos eles e, ao mesmo tempo, imolava sua vida para que os homens se salvassem e atingissem a bem-aventurança eterna.
Ora, unida de modo indissociável a seu Divino Filho, compartilhando com Ele todas as suas dores inenarráveis e, por isso mesmo, Co-Redentora do gênero humano, a Santíssima Virgem também nos conheceu a cada um de nós naquela ocasião. Para que a compaixão d’Ela fosse completa, Ela sofreu por nós com Jesus, e rezou pela remissão de cada um de nós, pedindo ao Redentor pelas almas de todos os seus filhos.
De maneira tal que, naquela hora em que o Verbo Encarnado antevia a multidão de pecados que se desprendia da história ao longo dos séculos, Ela suplicava o perdão para cada homem, e Ele os ia perdoando em atenção aos rogos de sua Mãe amantíssima. Somente Ela, sendo inocente, poderia nos merecer a indulgência que nós, pecadores, não merecemos.
E aí vemos o papel de Maria, ápice de toda a ordem da criação, como nossa Mãe e nossa Advogada.
Mãe de Cristo, Ela é Mãe de todos aqueles que nasceram para a graça do Filho de Deus. Mãe d’Ele, tornou-se Mãe dos homens, e Mãe particularmente solícita dos pobres pecadores. Nessa qualidade, Ela desempenha um papel que, de algum modo, o próprio Deus não poderia desempenhar. Porque Deus é Juiz e, uma vez ofendido, ultrajado, no rigor de sua justiça infinitamente perfeita, Ele tem de castigar. Porém, Maria é a Mãe, e todos sabemos que as mães não se arrogam o papel de julgar. Antes, são de modo natural as advogadas dos filhos. E por mais miserável que seja um destes, mais imundo, mais asqueroso, mais crápula, até mesmo em relação à própria mãe, ela o perdoa e pede ao pai que o perdoe também. Ela está solidária com o filho, ainda quando o pai o abomine por inteiro.
Assim é Nossa Senhora, a Mãe supremamente boa que reza por todos e cada um de nós. Ela, considerando que aquelas chagas abertas no santíssimo corpo de seu Divino Filho foram feitas em parte por meus pecados, suplicou-Lhe: “Meu Deus, meu Filho, pela minha inocência, pela minha virgindade, pelo amor que Vós sabeis que Vos tenho, rogo-Vos por ele. E essa ferida que sofreis por causa dele, peço-Vos, em nome dessa dor, que tenhais toda a clemência para com ele.”
E dessa forma cada um de nós foi perdoado. Então, por meio de Nossa Senhora Deus veio a nós no seu Nascimento na Gruta de Belém; por meio de Nossa Senhora, nós viemos a Deus no momento da Cruz, na hora da Paixão, nos sofrimentos da Redenção no alto do Calvário.
Divina Protetora que jamais nos abandona
Essa compaixão e esse desvelo maternais de Nossa Senhora, longe de esmorecerem com a morte de Jesus, redobraram e cresceram em intensidade, em desejo de abarcar o coração de todos os seus filhos, de levar a todas as almas os méritos infinitos da imolação regeneradora do Verbo Divino. Por isso, Ela continuou a ser a grande intercessora, a grande intermediária que nunca dos nuncas abandonou nenhuma espécie de homem.
A Santíssima Virgem reúne os Apóstolos depois que Nosso Senhor expirou no madeiro; agrupa-os, ainda, quando o Salvador parte para o Céu; Nossa Senhora está junto deles, no Pentecostes, quando vem o Espírito Santo; Ela acompanha a Igreja nos primeiros passos de sua vida e depois, ao longo de toda a sua existência. Maria é a suprema protetora da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Nossa Senhora esteve sempre presente nas batalhas que os católicos têm travado no volver da história, em defesa dos mais valiosos interesses da Fé. Ela se encontra presente nas lutas incessantes de cada homem contra seus defeitos, de maneira que, noite e dia, enquanto combatemos nossas imperfeições, nossos vícios e mazelas morais, enquanto nos esforçamos para adquirir maiores virtudes, ainda que não nos lembremos de Nossa Senhora, Ela está se lembrando de nós no alto do Céu. E está pedindo por nós, com uma misericórdia que nenhuma forma de pecado pode esgotar.
Com inteira propriedade, Ela é chamada pela Igreja de “Porta do Céu”. É por essa porta que todas as orações e súplicas dos homens chegam a Deus; e é também por essa porta que todas as graças e favores de Deus baixam do alto para os homens. Tudo vai ao Senhor, e tudo nos vem, por intermédio de nossa Mãe, Rainha e Medianeira Universal, Maria Santíssima.
Basta nos voltarmos para Ela, que seremos atendidos com uma profusão de bondade e de misericórdia inimagináveis. Nossa Senhora nos atende e nos limpa a alma, nos dá forças para praticarmos a virtude e nos transforma de pecadores em homens justos. Nunca nos faltará ânimo e vigor para praticar a Lei de Deus, desde que, cheios de esperança e filial devoção, o peçamos à Santíssima Virgem. Os que se voltam a Ela, tudo recebem d’Aquela que tudo pode.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nossa Senhora do Ó ou Expectação

Continuação do post anterior
As antífonas do “Ó”
Sete  são  as  antífonas  do  “Ó”, e a Igreja as canta com  o Magnificat da Hora de Vésperas, desde o dia 17 até o 23 de dezembro. São uma invocação  ao  Messias,  recordando os anseios com que era esperado por todos os povos antes de sua vinda, assim como  são uma manifestação do sentimento  com  que,  todos  os  anos, novamente O espera a  Igreja nos dias que precedem  a grande solenidade do Nascimento do Salvador.
Chamam-se  assim  porque  todas começam no latim com  a  exclamação  “O”.  Também são conhecidas como “antífonas maiores”.
Foram compostas por volta dos séculos VII-VIII e pode-se  dizer  que  representam  um  extraordinário  compêndio  da  cristologia  mais  antiga da Igreja, ao mesmo tempo que um expressivo resumo  dos desejos de salvação de toda a humanidade, tanto de Israel  do  Antigo  Testamento  como da Igreja do Novo Testamento.
São  breves  orações  dirigidas  a  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo  que  condensam  o  espírito do Advento e do Natal.  A admiração da Igreja diante  do mistério de um Deus feito homem: “Ó!”. A compreensão cada vez mais profunda de seu mistério. E a súplica urgente: “Vinde!”.
Após a exclamação inicial,  segue-se um título messiânico  tomado do Antigo Testamento, mas entendido com a plenitude do Novo. É uma aclamação a Jesus, o Messias, reconhecendo  tudo  o  que  Ele  significa para nós. Terminam  com  uma  súplica:  “vinde  e  não tardeis mais”.
Ó Sabedoria...
Ó Adonai...
Ó Raiz de Jessé...
 Ó Chave de David...
Ó Oriente...
Ó Rei das nações...
Ó Emanuel...
Fazem notar os estudiosos  da beleza da Liturgia que, a  serem lidas de trás para frente as sete iniciais das palavras  seguintes a cada Ó, forma-se  a frase (em latim): ero cras —  “serei  amanhã”.  Ou  seja,  a  promessa do Salvador de nascer em breve para nós.
Realização dos anseios do Antigo Testamento
Consideremos, pois, essas invocações.
Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os confins todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.
Ó Adonai1, chefe da casa de Israel, que aparecestes a Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a Lei no Monte Sinai, vinde restaurar-nos com a força de vosso braço.
Há mais de mil anos os hebreus  meditavam sobre o episódio da sarça ardente e sabiam que Deus apareceria ao povo eleito de um modo  muito mais real e palpável do que a  Moisés. Donde o pedido que assim  poderia ser expresso: “Vinde, ó Senhor,  renovar  aquele  feito,  porém  com  uma  excelência  incomparavelmente maior”.
Ó Raiz de Jessé, que estais de pé como sinal dos povos, diante do qual os reis guardarão silêncio e a quem os povos hão de invocar, vinde libertar-nos, não tardeis.
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu  da raiz de Jessé, ou seja, da Casa real  de David (filho de Jessé), à qual pertencia a Virgem Maria. Diz a antífona que Jesus será invocado por todos  os povos da Terra e diante d’Ele todos os reis ficarão mudos. Por isso  implora: “vinde a nós, não tardeis”,  pois a humanidade geme e não pode  mais esperar pela libertação.
“Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!”
Ó Chave de David e cetro da Casa de Israel, que abris e ninguém fecha, fechais e ninguém abre, vinde e tirai do cárcere o prisioneiro imerso nas trevas e nas sombras da morte.
Nosso  Senhor  fecha  e  ninguém  abre, abre e ninguém fecha, quer dizer, Ele possui o domínio de todas as  coisas.
Ó Oriente, esplendor da luz eterna e sol de justiça, vinde e iluminai aqueles que estão envolvidos pelas sombras da morte.
Em linguagem teológica, “justiça”  designa o conjunto de todas as virtudes, o estado de graça. 
O  Redentor  Divino  é  o  “esplendor da luz eterna” e, por outro lado, o sol de todas as virtudes, iluminando  os que vivem nas trevas e nas sombras  da morte, ou seja, presos dos vícios e  dos pecados.
De  fato,  Nosso  Senhor  veio  ao  mundo e da sua luz infinita nasceu a  civilização cristã, com seus fulgores  de santidade bafejada pela graça.
Ó Rei das nações e por elas desejado, pedra angular que reunis os dois povos [judeus e gentios], vinde e salvai o homem que formastes do lodo da terra!
Jesus Cristo é a pedra angular de  toda  a  ordem  humana  e  n”Ele  os  dissídios se reconciliam verdadeiramente, e não de um modo relativista.  Além disso, o Filho de Deus salva o  homem, criado do limo da terra.
E estando o Natal iminente, exclama-se: 
Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação das nações, vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!
São  exclamações  de  tal  maneira repassadas de desejo e fervor que  quase se sente Cristo prestes a nascer, bem como a alegria de todas as  nações esperando seu Salvador.
Pedir a implantação do Reino de Maria
Essas  belas  antífonas  nos  sugerem uma consideração sobre a época atual.
Disse o Papa Pio XI em sua encíclica Divini Redemptoris, escrita em 1937,  que  o  mundo  resgatado  por  Nosso Senhor Jesus Cristo se encontrava naquela época numa situação  lastimável,  ameaçado  de  cair  mais  baixo do que antes da Redenção. 
Ora, com o passar das décadas esse estado lamentável do mundo não  fez senão se agravar, a impiedade e  a imoralidade grassando sem freios  nos mais diversos ambientes da sociedade humana.
Razão pela qual ansiamos por uma  renovação da face da Terra, um como  que  irresistível  revigoramento  dos  frutos da Redenção — de si definitiva e super-suficiente — aplicados aos  homens de nosso tempo, para que,  regenerados  e  reconciliados  com  o  Divino Salvador, trabalhem pela implantação do Reino de Maria.
Nas vésperas do Natal, essas antífonas  devem  exprimir  um  pedido  ao Menino por intercessão de Nossa  Senhora: assim como Ele atendeu a  prece da Virgem Santíssima e apressou  sua  vinda  ao  mundo,  abrevie  igualmente os presentes dias e faça  sentir sua ação mais enérgica, triunfal, invencível para reimplantar seu  reino. E reimplantá-lo sob o aspecto  mais requintado, magnífico, ou seja,  Nosso Senhor reinar por Maria, com  Maria e em Maria.
Rezemos com a firme confiança de  que essa graça insigne nos será concedida, e assim transporemos com alegria, não só os dias piedosos que circundam a festa de Natal, mas também os umbrais do ano vindouro.  
1) Um dos nomes com que os hebreus invocavam o Altíssimo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Nossa Senhora do Ó ou da Expectação

Em 18 de dezembro inicia-se a  última semana do Advento,  denominada  pela  Igreja  de  “semana da expectação”, já com as  vistas postas na festa do Natal. Durante esse período, a Esposa Mística de Cristo imagina o júbilo e a esperança da Santíssima Virgem diante do fato de que o Messias haveria  de nascer, e Ela veria por fim a face  bendita do Filho que estava gerando  em seu imaculado seio.
Novos esplendores conhecidos pela divina Mãe
Há anos Nossa Senhora vinha suplicando  a  Deus  que  apressasse  a  chegada do Redentor e, sendo sua  oração  insondavelmente  agradável ao Padre Eterno, d’Ele tudo alcançando, foi atendida nos seus rogos, e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade afinal tomaria nossa  natureza e habitaria entre nós. Maria foi convidada a ser a Mãe do Verbo, aceitou e gerou em seu claustro  virginal o Filho do Altíssimo.
Ao longo dos nove meses de gestação, ia Ela concebendo a fisionomia adorável que Ele teria, e ao contemplar a face do Menino já nascido  conhecerá um esplendor novo, uma  maravilha  nova a respeito da  alma  e da personalidade d’Ele. Verá chegar a redenção para a humanidade e  o triunfo da glória de Deus sobre um  estado  de  coisas  marcado,  durante  milênios, pelo pecado original e pela influência do demônio.
Numa palavra, a Santíssima Virgem sente aproximar-se o reino de  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo,  restando apenas uma semana para que, pelo nascimento do Salvador, o império de Satanás sofra um golpe mortal  e comece a derrocar.
A expectativa de todos os séculos posta na véspera do Natal
Tal conjuntura cumula de esperança a alma da Mãe de Deus, e por isso  Ela é chamada, nesse período, Nossa Senhora da Expectação, ou Nossa Senhora da Esperança, ou ainda  Nossa Senhora do Ó.
Esta última invocação se explica  pelo fato de que, em cada um desses sete dias, a Igreja canta no Ofício Divino uma antífona que começa pela exclamação “Ó”. Exprimem elas as alegrias  de Nossa Senhora ao perceber dentro de si o Corpo de Jesus já completo, seus primeiros movimentos, e  a ideia de que Ele ali orava ao Pai,  como de dentro do mais prodigioso  dos sacrários, assim como o Santíssimo Sacramento, hoje, reza no interior dos tabernáculos nos altares de  todo o mundo.
O intenso desejo de Nossa Senhora de dar à luz o Verbo Encarnado  continha e sublimava os anseios de  todos os profetas do Antigo Testamento por Aquele que, afinal, viesse redimir o gênero humano, esmagar o cetro de fumaça do demônio  e apagar, pelo sacramento do Batismo por Ele instituído, a mancha original  herdada  de  nossos  primeiros  pais. De fato, as exclamações “vinde, ó Emanuel! Ó Rei das nações!”,  etc., expressam os pedidos de Adão o  qual,  após  a  queda,  recebeu  de  Deus a promessa do Salvador, e ele  viveu e morreu com essa esperança.  Viveu e morreu na alegria penitencial de ser o antepassado do Redentor que, agora, achava-se no claustro  imaculado de Maria Virgem.
Portanto,  todas  as  expectativas  de todos os séculos se concentravam  nesses dias e nesses momentos que  antecediam de tão perto o Natal.
Continua no próximo post.